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Faroeste Caboclo
Faroeste Caboclo
De todas as músicas de Renato Russo, Faroeste Caboclo sempre foi a mais cinematográfica. Uma saga de um homem que desde criança treinava em ser bandido, foi ao inferno duas vezes, conheceu uma menina linda, brigou com um traficante renomado, negou suborno e morreu de maneira apoteótica. Uma música longa, difícil de decorar, até pela métrica atravessada. Desde que foi lançada no álbum "Que País É Este", acredito que todos passaram a imaginar o filme.
Agora ele chega às telas pelas mãos de René Sampaio, fã confesso da música, e não faz feio. Uma adaptação, claro. Muita coisa mudou, principalmente na cronologia. Alguns detalhes foram suprimidos e outros acrescentados. Mudanças, principalmente nas nuanças das personalidades dos personagens. Algumas coisas mais interessantes da adaptação do roteiro é um embasamento maior para o triângulo João, Maria Lúcia e Jeremias.
A música está lá, representada, ainda que não explícita. Temos alguns acordes instrumentais dela, é verdade. Mas, a letra mesmo, só ouvimos nos créditos. Ao contrário de Somos Tão Jovens que abusa nas referências, Faroeste Caboclo raramente inclui os versos de Renato Russo na boca nos seus personagens. Temos apenas “Os malucos da cidade souberam da novidade”, “tem bagulho bom aí”. A letra surge subentendida, como João de Santo Cristo chegando a Brasília no ônibus e vemos o Planalto Central e logo depois as luzes de Natal na rodoviária. Ou quando durante o duelo, João espera Jeremias se virar, afinal, “ele não atira pelas costas, não”.
Até por ter tantas sutilezas cinematográficas no filme, há o estranhamento de uma desnecessária voz over em momentos pontuais. É uma explicação em excesso que não precisaria e incomoda um pouco, principalmente quando ele sai de sua cidadezinha. Assim como, outras explicitações a exemplo da flor de madeira na janela de Maria Lúcia, e logo depois uma cena onde João faz mais uma, como se precisasse marcar que foi ele quem fez a primeira.
De qualquer maneira, a montagem conduzida pelo roteiro não-linear em diversos momentos é bastante interessante. Constrói melhor as situações, nos apresentando doses de informações que nos surpreendem, como o destino do pai de João de Santo Cristo, ou detalhes de uma violência que o protagonista sofre. E, nesse ponto, é preciso elogiar os atores que funcionam de maneira harmônica, dando vida a personagens que já eram quase mitos.
Fabrício Boliveira nos apresenta um João de Santo Cristo cheio de nuanças, como deve ser. Mas, um homem que tendemos sempre a entender, aceitar, desculpar de qualquer espécie de deslize. É o homem marginalizado, que nasceu em meio à seca, sofreu com o abuso do poder, tentou vencer na vida e sempre viu a violência e a corrupção o atravessando. Um brasileiro como qualquer um de nós. Ísis Valverde consegue uma excelente química com o companheiro de cena, acreditamos naquele casal, naquele amor, naquele sofrimento. E Felipe Abib fecha o triângulo de maneira instigante, principalmente, na parte final, quando podemos ver um Jeremias um pouco mais humano.
Os secundários também possuem sua força, a exemplo, de Antonio Calloni como o policial Marco Aurélio, o pai de Maria Lucia vivido por Marcos Paulo e o pai de João de Santo Cristo, vivido por Flávio Bauraqui. Isso sem falar em César Troncoso como o traficante Pablo, primo do protagonista. Todos funcionam em harmonia nos fazendo crer naquela história. Destaque ainda para a participação especial do ator baiano Caco Monteiro.
Faroeste Caboclo tem alguns problemas, uma certa perda de ritmo, é verdade, mas tem a força de uma história incrível. E uma história que vemos viva em tela, com momentos sublimes como uma conversa no lago, uma tensão no mato ou um duelo na Ceilândia, lote 14. Ainda que muito diferente da música, está lá com uma força incrível. Não por acaso, tudo começa e termina com ela. Como um sonho realizado, conhecemos, enfim, João de Santo Cristo, suas histórias e aqueles que conviveram com ele. E só por isso, já merece nossos aplausos.
Faroeste Caboclo (Idem, 2013 / Brasil)
Direção: René Sampaio
Roteiro: Victor Atherino, Marcos Bernstein e José de Carvalho
Com: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Antonio Calloni, Felipe Abib, Marcos Paulo, César Troncoso, Flávio Bauraqui e Caco Monteiro.
Duração: 100 min.
Agora ele chega às telas pelas mãos de René Sampaio, fã confesso da música, e não faz feio. Uma adaptação, claro. Muita coisa mudou, principalmente na cronologia. Alguns detalhes foram suprimidos e outros acrescentados. Mudanças, principalmente nas nuanças das personalidades dos personagens. Algumas coisas mais interessantes da adaptação do roteiro é um embasamento maior para o triângulo João, Maria Lúcia e Jeremias.
A música está lá, representada, ainda que não explícita. Temos alguns acordes instrumentais dela, é verdade. Mas, a letra mesmo, só ouvimos nos créditos. Ao contrário de Somos Tão Jovens que abusa nas referências, Faroeste Caboclo raramente inclui os versos de Renato Russo na boca nos seus personagens. Temos apenas “Os malucos da cidade souberam da novidade”, “tem bagulho bom aí”. A letra surge subentendida, como João de Santo Cristo chegando a Brasília no ônibus e vemos o Planalto Central e logo depois as luzes de Natal na rodoviária. Ou quando durante o duelo, João espera Jeremias se virar, afinal, “ele não atira pelas costas, não”.
Até por ter tantas sutilezas cinematográficas no filme, há o estranhamento de uma desnecessária voz over em momentos pontuais. É uma explicação em excesso que não precisaria e incomoda um pouco, principalmente quando ele sai de sua cidadezinha. Assim como, outras explicitações a exemplo da flor de madeira na janela de Maria Lúcia, e logo depois uma cena onde João faz mais uma, como se precisasse marcar que foi ele quem fez a primeira.
De qualquer maneira, a montagem conduzida pelo roteiro não-linear em diversos momentos é bastante interessante. Constrói melhor as situações, nos apresentando doses de informações que nos surpreendem, como o destino do pai de João de Santo Cristo, ou detalhes de uma violência que o protagonista sofre. E, nesse ponto, é preciso elogiar os atores que funcionam de maneira harmônica, dando vida a personagens que já eram quase mitos.
Fabrício Boliveira nos apresenta um João de Santo Cristo cheio de nuanças, como deve ser. Mas, um homem que tendemos sempre a entender, aceitar, desculpar de qualquer espécie de deslize. É o homem marginalizado, que nasceu em meio à seca, sofreu com o abuso do poder, tentou vencer na vida e sempre viu a violência e a corrupção o atravessando. Um brasileiro como qualquer um de nós. Ísis Valverde consegue uma excelente química com o companheiro de cena, acreditamos naquele casal, naquele amor, naquele sofrimento. E Felipe Abib fecha o triângulo de maneira instigante, principalmente, na parte final, quando podemos ver um Jeremias um pouco mais humano.
Os secundários também possuem sua força, a exemplo, de Antonio Calloni como o policial Marco Aurélio, o pai de Maria Lucia vivido por Marcos Paulo e o pai de João de Santo Cristo, vivido por Flávio Bauraqui. Isso sem falar em César Troncoso como o traficante Pablo, primo do protagonista. Todos funcionam em harmonia nos fazendo crer naquela história. Destaque ainda para a participação especial do ator baiano Caco Monteiro.
Faroeste Caboclo tem alguns problemas, uma certa perda de ritmo, é verdade, mas tem a força de uma história incrível. E uma história que vemos viva em tela, com momentos sublimes como uma conversa no lago, uma tensão no mato ou um duelo na Ceilândia, lote 14. Ainda que muito diferente da música, está lá com uma força incrível. Não por acaso, tudo começa e termina com ela. Como um sonho realizado, conhecemos, enfim, João de Santo Cristo, suas histórias e aqueles que conviveram com ele. E só por isso, já merece nossos aplausos.
Faroeste Caboclo (Idem, 2013 / Brasil)
Direção: René Sampaio
Roteiro: Victor Atherino, Marcos Bernstein e José de Carvalho
Com: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Antonio Calloni, Felipe Abib, Marcos Paulo, César Troncoso, Flávio Bauraqui e Caco Monteiro.
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Faroeste Caboclo
2013-05-31T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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