Master Class com Dick Fontaine
A Master Class com Dick Fontaine aconteceu na sexta-feira dia 17 de maio. O documentarista falou um pouco sobre a sua experiência, sua relação com os Beatles, a paixão pelo Jazz e a forma com começou a trabalhar com o Hip Hop. Para Fontaine, seus documentários tem que ter dois temas que trabalham em conjunto: política e música. Senão, para ele não tem sentido. Porque ele gosta de brincar com a música em seus filmes, inovando na montagem, onde pode, inclusive criar música com discursos, ou sons das ruas. E a política está em nossas vidas, pensar em algo, discutir assuntos, denunciar situações, são também suas preocupações.
Atualmente, também professor, Fontaine destacou que o documentarista tem sempre que encontrar o seu próprio estilo. Não há como ensinar ao aluno o que ele deve fazer, ele tem que descobrir, ouvir sua própria voz, encontrar o seu próprio método. Cada um é diferente do outro, então, o que funciona para um não é o que funciona para o outro. Segundo ele, sua função como professor é a de fazer as pessoas encontrarem seu viés criativo. Ser um guia nesse processo. Mas, ele deu dicas de que, em um documentário, o que funciona é um olhar diferente sobre o mundo. Algo de estranho, algo de curioso, mesmo que em situações aparentemente normais.
Dick Fontaine contou ainda algumas curiosidades sobre os seus primeiros encontros com os Beatles e sobre a primeira viagem aos Estados Unidos, onde acompanhou o filme dos irmãos Maysles. Nesse ponto mostrou um trecho inédito do filme What´s Happening! The Beatles in the USA, falando da sua questão com o Cinema Direto e que ele se incomoda com o fato de algumas regras, como não poder usar música extra-diegética (fora de cena).
Apesar de apenas uma palestra de uma hora e pouco, foi mesmo uma boa experiência ouvir esse cineasta e conhecer um pouco melhor suas ideias e métodos de trabalho. Que bom que o In-Edit trouxe para Salvador também o essa atração. Não ficando apenas nos filmes, como nos demais anos. Que venham mais.
Pernamcubanos: O caribe que nos une
(Nilton Pereira. Brasil / Cuba - 2012)Uma das coisas mais incríveis do filme de Nilton Pereira já está no título. A mistura de Cuba e Pernambuco é criativa e pertinente, saímos da sessão cantando a música Pernamcubanos, pelo ritmo gostoso e envolvente do Caribe. Porque, como é dito no filme, o Caribe não é apenas um conceito geográfico, mas sim, um conceito cultural.
O filme é guiado pela atriz e diretora de teatro cubana, Fatima Patterson e pela artista e mãe de santo pernambucana Bete de Oxum. Ambas vão mostrando as aproximações e distanciamentos da Ilha cubana e o estado de Pernambuco. Assim, vão discutindo costumes, culturas populares, religiosidade e a própria história de seus povos.
É curioso acompanhar toda aquela profusão de força cultural em tela. O roteiro aparentemente anárquico vai nos guiando nas escolhas, nos fazendo concordar que aquela mistura é mesmo clara. Até pela origem colonial (ainda que de países diferentes, mas com o mesmo intuito) e pela influência africana. A presença da música, em festas profanas ou religiosas, é o guia maior. E é mesmo impossível ficar parado ao som daqueles batuques.
Pernamcubanos não é um documentário inovador, mas traz um olhar curioso e envolvente para um tema que está aí, porém poucos se deram ao trabalho de falar. Agora, funciona mais, exatamente pela presença de Fatima Patterson, sua simpatia e forma como vai curtindo cada encontro e descoberta. Não por acaso, ela acaba ganhando mais força na parte final.
Jason Becker: Not Dead Yet
(Jesse Vile. Reino Unido / EUA - 2012)Jason Becker não está morto ainda. Esse filme de Jesse Vile é uma verdadeira montanha russa de emoções. Ainda que sejamos avisados no início do filme que veremos a história de um homem e uma doença, a condução do documentário nos faz quase esquecer isso em sua primeira parte.
Somos apresentados a Jason Becker, o garoto prodígio da guitarra. Aos três anos ele ganhou o seu primeiro instrumento e aos cinco já tocava algo. Com 14 anos, impressionou seu pai tocando Eric Clapton e este percebeu que o filho não era um músico comum. Ainda adolescente já se apresentava em público impressionando as pessoas e logo veio a carreira profissional. Ficamos vendo aquelas imagens, sua excursão no Japão, sua capacidade de lidar com as notas e somos convencidos de que aquele homem é um gênio.
Com apenas 20 anos de idade, ele foi convidado para assumir o lugar de Steve Vai na banda de David Lee Roth. Era o auge, a grande chance, e era apenas um menino com uma vida pela frente. Mas, aí veio a doença. Jason foi diagnosticado com ELA (esclerose lateral amiotrófica), doença degenerativa, sem cura e viu seus sonhos minarem.
O documentário é bastante feliz ao construir essa virada de maneira eficiente. Ainda que apenas com depoimentos e imagens de arquivo, ele nos faz embarcar na história de uma maneira intensa. Nos tornando íntimos de Jason e sofrendo com ele e sua família a angústia de ir perdendo os movimentos do corpo. Chega a ser sufocante, e a forma como o filme faz um certo suspense sobre o que aconteceria depois, deixa a nova virada ainda mais eficaz.
Mostrar a luta de Jason Becker para viver, e mais do que isso, continuar com a música é incrível. Faz pensar e nos inspira. Mexendo apenas os olhos, ele conseguiu continuar compondo e lançou até mesmo um disco: Perspective. E o mais impressionante, que o filme não mostra, é que esse foi apenas o primeiro. Uma verdadeira lição de vida, de amor e de persistência.
Jason Becker: Not Dead Yet é um filme forte emocionalmente e que ajuda a divulgar ainda mais esse ser especial que pode não ter mais uma guitarra nas mãos, mas continua impressionando com a sua música.