Por que Darth Vader fascina tanto?
O Retorno de Jedi completou ontem 30 anos de seu lançamento. Então, resolvi falar um pouco mais aqui do tal Jedi que retornou. Darth Vader, ou melhor de Anakin Skywalker. Um dos personagens mais complexos que o cinema já nos apresentou.
Antes, é preciso explicar um pouco o que chamo de personagem complexo. Segundo as teorias de construção de personagens, é um personagem redondo, que possui camadas psicológicas que não o permitem ser categorizado de uma maneira simples como os personagens tipos, que só são aquilo e acabou. Ou mesmo os arquétipos que trazem algo da nossa cultura que nos fazem identificar seus papéis na histórias.
Anakin Skywalker tem muito de arquétipos, mas o que o torna mais complexo é que ele tem vários arquétipos em sua forma, e algumas conflitantes já que ele é o herói e o vilão ao mesmo tempo. Mais do que isso, ele é O escolhido para trazer o equilíbrio na força, com uma aura mística de deuses, ao mesmo tempo em que é o ser mais insensível e assustador do universo. Porém, é também um menino assustado que ama sua mãe, um jovem apaixonado e um pai. Ou seja, é um personagem complexo.
Independente de quando fomos apresentados a Darth Vader e Anakin Skywalker, é possível nos envolver com sua história. Eu prefiro sempre falar na ordem de lançamento dos filmes, porque foi como o personagem foi construído e sua história apresentada. Ainda que haja indícios do background já existir desde o filme Uma Nova Esperança. É interessante perceber como o mito vai sendo criado e suas características psicológicas são sendo apresentadas.
Em Uma Nova Esperança temos duas figuras distintas, a memória do Jedi Anakin Skywalker, morto nas guerras clônicas e a figura viva do vilão Darth Vader. Um traidor que entregou todos os Jedi, matando-os e se tornando o braço direito do Imperador. É um ser desprezível, que mata seres humanos como quem esmaga moscas. Já Anakin parece ser um herói morto a ser admirado, o pai daquele garoto cheio de esperanças em mudar o mundo, o Luke Skywalker. A semente aqui está apenas plantada, mas já percebemos o medo do tio de Luke com todo aquele passado e a forma como Obi-Wan mede as palavras para contar a história.
Em O Império Contra-Ataca, Anakin é quase esquecido boa parte do tempo, mas Vader se torna um vilão ainda mais desprezível a nossos olhos. Um homem que não vacila e não tem nenhum escrúpulo em enganar, destruir e negociar vidas como se fossem batatas. Mas, aí vem a revelação que muda tudo. Darth Vader não matou Anakin Skywalker. Ele é Anakin Skywalker, o herói morto, o pai de Luke, o amigo de Obi-Wan. Essa informação muda tudo. Nada mais é tão definitivo, Darth Vader não é um simples um vilão maniqueísta. Há sombra e luz em sua construção.
Ficamos com isso até o próximo filme, O Retorno de Jedi, quando Luke enfrenta o pai e acaba despertando suas emoções conflitantes. Ainda há o Anakin por trás daquela máscara, tanto que ele se sensibiliza pela dor do filho e ataca o Imperador, protegendo a cria. Vemos ali seus traços de humanidade, quase um arrependimento pelas escolhas feitas até então. Mas, é um homem ferido que não tem mais espaço naquele mundo de paz.
Sabemos, no entanto, muito pouco de Anakin na trilogia clássica. Apenas pistas. Um vilão maniqueísta que não era exatamente assim, que trazia segredos que escondiam seu verdadeiro ser. E com a nova trilogia muita coisa foi acrescentada à construção do personagem, inclusive algumas que os fãs não gostavam como os tais Midi-chlorians.
Com A Ameaça Fantasma somos apresentados ao pequeno Anakin e descobrimos que ele é uma espécie de Jesus Cristo. Um ser que não tem pai, apenas uma mãe batalhadora que ama e com quem se preocupa. Um garoto que tem uma alta taxa de Midi-chlorians, seres microscópicos responsáveis pela Força. Ok, esqueçam isso, até George Lucas esqueceu a partir do segundo filme, então, vamos virar a página. De qualquer maneira, Anakin é um ser especial, o escolhido, aquele que é capaz de trazer o equilíbrio à Força. E, por isso, mesmo tendo passado da idade, Qui-Gon Jinn quer treiná-lo para ser um Jedi.
O Mestre Yoda é quem começa a definir aquele doce garotinho que vemos em nossa frente. Um garoto esperto, que está construindo seu próprio robô, um excelente piloto, mas extremamente carente e apegado à mãe que é uma escrava. Há medo nele, e medo leva ao lado sombrio da Força. Aquele garotinho está fadado a sucumbir, não pelo amor à mãe, e posteriormente à esposa, mas pelo medo de perdê-las, por ser tão só e tão frágil emocionalmente. Não é por acaso que se apega a Padmé Amidala, que é bem mais velha que ele, e que indica que ele tenha mesmo um Complexo de Édipo mal resolvido.
Em O Ataque dos Clones esse amor explode, Anakin já não é uma criança, mas um jovem Padawan rebelde, cheio de hormônios e com vontade de explorar seus limites. Ele gosta de aventuras, não tem medo do perigo, quer ajudar, quer aprender, mas acha que já sabe tudo, como todo adolescente rebelde. Ele vive seu amor escondido com Amidala, mas sofre o primeiro grande baque ao perder a mãe, assassinada de maneira cruel. Anakin que não tinha cortado totalmente o cordão umbilical sofre. Com a perda, com o sentimento de impotência, com o desespero de querer controlar tudo.
É por isso que em A Vingança dos Sith ele cede tão facilmente às promessas do senador Palpatine. Não é apenas um homem com pesadelos estranhos querendo proteger sua amada da morte. É um homem que quer controlar o mundo, ter o poder de decisão entre a vida e a morte. Ter a capacidade de ser o Deus que insinuaram que ele era quando ainda muito pequeno. Ele cede ao lado sombrio, ganha poderes e, ainda assim, sua mulher morre. Mais do que isso, ele perde quase todo o corpo, desfigurado, mutilado. Só lhe resta o ódio e a vontade de vingança contra o mundo.
Mas, é interessante esse homem que era o escolhido, carente, mas impetuoso, que não consegue lidar com perdas e a sensação de impotência e cede a um poder que lhe promete o controle do mundo, ser também tão submisso. Pois, Darth Vader, apesar de um vilão cruel e sem sentimentos, é extremamente submisso ao Imperador, seu mestre. Talvez, todo esse conflito interno é que o faça não sucumbir completamente ao lado sombrio. Existe ainda aquele garotinho esperto e carente dentro dele. Mesmo em seus piores momentos.
E sabendo toda a sua trajetória, fica ainda mais fascinante revisitar a trilogia clássica e ver seu resgate pelas mãos do filho, um garoto que cresceu sem saber quem era o pai, idealizando-o, idolatrando-o. E quando finalmente o encontra e descobre o monstro em que ele se tornou, nega. Busca o bem nele e o ama. A prova de amor de Luke é que faz Anakin despertar desse desespero profundo em que se encontrava. Mesmo que você não goste de Star Wars, não há como negar que é um personagem extremamente complexo e bem feito. Não por acaso é um dos maiores ícones do cinema moderno.
Antes, é preciso explicar um pouco o que chamo de personagem complexo. Segundo as teorias de construção de personagens, é um personagem redondo, que possui camadas psicológicas que não o permitem ser categorizado de uma maneira simples como os personagens tipos, que só são aquilo e acabou. Ou mesmo os arquétipos que trazem algo da nossa cultura que nos fazem identificar seus papéis na histórias.
Anakin Skywalker tem muito de arquétipos, mas o que o torna mais complexo é que ele tem vários arquétipos em sua forma, e algumas conflitantes já que ele é o herói e o vilão ao mesmo tempo. Mais do que isso, ele é O escolhido para trazer o equilíbrio na força, com uma aura mística de deuses, ao mesmo tempo em que é o ser mais insensível e assustador do universo. Porém, é também um menino assustado que ama sua mãe, um jovem apaixonado e um pai. Ou seja, é um personagem complexo.
Independente de quando fomos apresentados a Darth Vader e Anakin Skywalker, é possível nos envolver com sua história. Eu prefiro sempre falar na ordem de lançamento dos filmes, porque foi como o personagem foi construído e sua história apresentada. Ainda que haja indícios do background já existir desde o filme Uma Nova Esperança. É interessante perceber como o mito vai sendo criado e suas características psicológicas são sendo apresentadas.
Em Uma Nova Esperança temos duas figuras distintas, a memória do Jedi Anakin Skywalker, morto nas guerras clônicas e a figura viva do vilão Darth Vader. Um traidor que entregou todos os Jedi, matando-os e se tornando o braço direito do Imperador. É um ser desprezível, que mata seres humanos como quem esmaga moscas. Já Anakin parece ser um herói morto a ser admirado, o pai daquele garoto cheio de esperanças em mudar o mundo, o Luke Skywalker. A semente aqui está apenas plantada, mas já percebemos o medo do tio de Luke com todo aquele passado e a forma como Obi-Wan mede as palavras para contar a história.
Em O Império Contra-Ataca, Anakin é quase esquecido boa parte do tempo, mas Vader se torna um vilão ainda mais desprezível a nossos olhos. Um homem que não vacila e não tem nenhum escrúpulo em enganar, destruir e negociar vidas como se fossem batatas. Mas, aí vem a revelação que muda tudo. Darth Vader não matou Anakin Skywalker. Ele é Anakin Skywalker, o herói morto, o pai de Luke, o amigo de Obi-Wan. Essa informação muda tudo. Nada mais é tão definitivo, Darth Vader não é um simples um vilão maniqueísta. Há sombra e luz em sua construção.
Ficamos com isso até o próximo filme, O Retorno de Jedi, quando Luke enfrenta o pai e acaba despertando suas emoções conflitantes. Ainda há o Anakin por trás daquela máscara, tanto que ele se sensibiliza pela dor do filho e ataca o Imperador, protegendo a cria. Vemos ali seus traços de humanidade, quase um arrependimento pelas escolhas feitas até então. Mas, é um homem ferido que não tem mais espaço naquele mundo de paz.
Sabemos, no entanto, muito pouco de Anakin na trilogia clássica. Apenas pistas. Um vilão maniqueísta que não era exatamente assim, que trazia segredos que escondiam seu verdadeiro ser. E com a nova trilogia muita coisa foi acrescentada à construção do personagem, inclusive algumas que os fãs não gostavam como os tais Midi-chlorians.
Com A Ameaça Fantasma somos apresentados ao pequeno Anakin e descobrimos que ele é uma espécie de Jesus Cristo. Um ser que não tem pai, apenas uma mãe batalhadora que ama e com quem se preocupa. Um garoto que tem uma alta taxa de Midi-chlorians, seres microscópicos responsáveis pela Força. Ok, esqueçam isso, até George Lucas esqueceu a partir do segundo filme, então, vamos virar a página. De qualquer maneira, Anakin é um ser especial, o escolhido, aquele que é capaz de trazer o equilíbrio à Força. E, por isso, mesmo tendo passado da idade, Qui-Gon Jinn quer treiná-lo para ser um Jedi.
O Mestre Yoda é quem começa a definir aquele doce garotinho que vemos em nossa frente. Um garoto esperto, que está construindo seu próprio robô, um excelente piloto, mas extremamente carente e apegado à mãe que é uma escrava. Há medo nele, e medo leva ao lado sombrio da Força. Aquele garotinho está fadado a sucumbir, não pelo amor à mãe, e posteriormente à esposa, mas pelo medo de perdê-las, por ser tão só e tão frágil emocionalmente. Não é por acaso que se apega a Padmé Amidala, que é bem mais velha que ele, e que indica que ele tenha mesmo um Complexo de Édipo mal resolvido.
Em O Ataque dos Clones esse amor explode, Anakin já não é uma criança, mas um jovem Padawan rebelde, cheio de hormônios e com vontade de explorar seus limites. Ele gosta de aventuras, não tem medo do perigo, quer ajudar, quer aprender, mas acha que já sabe tudo, como todo adolescente rebelde. Ele vive seu amor escondido com Amidala, mas sofre o primeiro grande baque ao perder a mãe, assassinada de maneira cruel. Anakin que não tinha cortado totalmente o cordão umbilical sofre. Com a perda, com o sentimento de impotência, com o desespero de querer controlar tudo.
É por isso que em A Vingança dos Sith ele cede tão facilmente às promessas do senador Palpatine. Não é apenas um homem com pesadelos estranhos querendo proteger sua amada da morte. É um homem que quer controlar o mundo, ter o poder de decisão entre a vida e a morte. Ter a capacidade de ser o Deus que insinuaram que ele era quando ainda muito pequeno. Ele cede ao lado sombrio, ganha poderes e, ainda assim, sua mulher morre. Mais do que isso, ele perde quase todo o corpo, desfigurado, mutilado. Só lhe resta o ódio e a vontade de vingança contra o mundo.
Mas, é interessante esse homem que era o escolhido, carente, mas impetuoso, que não consegue lidar com perdas e a sensação de impotência e cede a um poder que lhe promete o controle do mundo, ser também tão submisso. Pois, Darth Vader, apesar de um vilão cruel e sem sentimentos, é extremamente submisso ao Imperador, seu mestre. Talvez, todo esse conflito interno é que o faça não sucumbir completamente ao lado sombrio. Existe ainda aquele garotinho esperto e carente dentro dele. Mesmo em seus piores momentos.
E sabendo toda a sua trajetória, fica ainda mais fascinante revisitar a trilogia clássica e ver seu resgate pelas mãos do filho, um garoto que cresceu sem saber quem era o pai, idealizando-o, idolatrando-o. E quando finalmente o encontra e descobre o monstro em que ele se tornou, nega. Busca o bem nele e o ama. A prova de amor de Luke é que faz Anakin despertar desse desespero profundo em que se encontrava. Mesmo que você não goste de Star Wars, não há como negar que é um personagem extremamente complexo e bem feito. Não por acaso é um dos maiores ícones do cinema moderno.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Por que Darth Vader fascina tanto?
2013-05-26T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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