Reino Escondido
Não canso de dizer, a Pixar nos acostumou mal. Ficamos mais exigentes com animações e chegamos a esquecer que filmes infantis são para crianças. Mas, mesmo para crianças, um bom roteiro não faz mal a ninguém, né? Aliás, é isso que diferencia as animações inesquecíveis de mais uma no ano. E apesar de cinco cabeças pensantes, o roteiro de Reino Escondido carece de maior embasamento.
A premissa é interessante, um mundo pequenino escondido nas floresta onde forças do bem e do mal lutam silenciosamente para manter o equilíbrio da flora, e consequentemente, da fauna. Em um dia-chave onde a rainha da floresta irá escolher sua sucessora, um plano macabro das trevas, personificado nas asquerosas criaturas Boggans, entra em andamento. Só que dois elementos irão interferir nessa história: o cientista Bomba e sua filha Maria Catarina. Bomba dedicou a sua vida à provar que essas criaturinhas existiam, mas será sua filha que irá ter o primeiro contato com eles ao ser diminuída e ficar responsável pela proteção do botão de rosa que a rainha escolheu para passar seus poderes.
Não tem como não lembrar de Querida, encolhi as crianças. A caracterização do cientista Bomba, inclusive, se assemelha ao personagem de Rick Moranis. Claro, a caricatura de um cientista em comédias é um abobalhado atrapalhado, mas até os aparatos e tiques dos dois personagens se assemelham. E Murilo Benício, na versão em português, acentua bastante esses tiques que ele já usa em diversos personagens em novelas da Globo. Já a Maria Catarina tem problemas em sua construção. É apresentada como uma adolescente típica da cidade grande, com sérios problemas de relacionamento com o pai. Mas, mal fica pequenina e já embarca nas aventuras com uma facilidade de dar inveja a Lara Croft.
Curiosamente, apesar do roteiro seguir com diversos furos e soluções infantilizadas, a resolução da trama é um ponto forte. Não há Deus Ex-Machina, as pistas são bem construídas durante a apresentação dos personagens. E há uma certa quebra do clichê, apesar de ter algo também previsível. É tudo coerente e bem resolvido, ao contrário de algumas passagens vergonhosas como um número musical inserido em determinado momento da trama. Não faz o menor sentido, não é emocionante, nem divertido, porque é fora de contexto. Provavelmente só entrou porque quem dubla originalmente o personagem Nim Galuu é o conhecido Steven Tyler, vocalista do Aerosmith.
O didatismo também pode incomodar ao público não infantil. Tudo é muito bem explicado e reforçado, algumas vezes até de maneira sutil, como no início, quando MC diz ao taxista que está indo ver um estranho, que não era estranho antes, mas que talvez tenha mudado. Aí, enquanto o carro se aproxima da casa, toca uma canção que diz: Strangers change. Ou quando o cãozinho de três pernas corre com uma agilidade incrível, e MC tem que reforçar se perguntando isso: como consegue correr com apenas três patas?
De qualquer maneira, a construção visual da animação é de encher os olhos. Tudo é muito bem feito, com um grau de realismo impressionante. As paisagens são quase reais em alguns momentos. Os detalhes dos pelos, das ramificações das plantas, da poeira, da água. O 3D também traz uma boa profundidade de campo, dando até vertigem em alguns momentos onde entra o fator altura. Isso sem falar em alguns insetos que são construídos em detalhes, como as lesmas que é possível sentir a composição gelatinosa.
O ritmo das cenas de ação também é outro ponto positivo. São bem orquestradas e alguns movimentos impressionam como a batalha inicial, onde homens-folhas e Boggans disputam mais um terreno na floresta. Os homens-folhas tentando defendê-la e os Boggans tentando destruí-la, claro. A cena em que a rainha sai de sua casa para escolher o botão de rosa também é rica em detalhes. Todas as criaturas da floresta observando a caravana, a movimentação das plantas a cada toque da rainha, a forma como ela desliza nos espaços. É um visual bonito.
Reino Escondido acaba ganhando muito no visual, mas fica aquém no desenvolvimento da história. Não traz grande criatividade na condução da trama, nem na composição dos personagens, todos bastante rasos e típicos, nos dando uma história igualmente rasa. Ainda assim, tem sua coerência e deve divertir bastante os pequenos. Pelo menos, traz o tema ecológico tão importante para nós nesse planeta.
Reino Escondido (Epic, 2013 / EUA)
Direção: Chris Wedge
Roteiro: Tom J. Astle, Matt Ember, James V. Hart, William Joyce e Daniel Shere.
Duração: 102 min.
A premissa é interessante, um mundo pequenino escondido nas floresta onde forças do bem e do mal lutam silenciosamente para manter o equilíbrio da flora, e consequentemente, da fauna. Em um dia-chave onde a rainha da floresta irá escolher sua sucessora, um plano macabro das trevas, personificado nas asquerosas criaturas Boggans, entra em andamento. Só que dois elementos irão interferir nessa história: o cientista Bomba e sua filha Maria Catarina. Bomba dedicou a sua vida à provar que essas criaturinhas existiam, mas será sua filha que irá ter o primeiro contato com eles ao ser diminuída e ficar responsável pela proteção do botão de rosa que a rainha escolheu para passar seus poderes.
Não tem como não lembrar de Querida, encolhi as crianças. A caracterização do cientista Bomba, inclusive, se assemelha ao personagem de Rick Moranis. Claro, a caricatura de um cientista em comédias é um abobalhado atrapalhado, mas até os aparatos e tiques dos dois personagens se assemelham. E Murilo Benício, na versão em português, acentua bastante esses tiques que ele já usa em diversos personagens em novelas da Globo. Já a Maria Catarina tem problemas em sua construção. É apresentada como uma adolescente típica da cidade grande, com sérios problemas de relacionamento com o pai. Mas, mal fica pequenina e já embarca nas aventuras com uma facilidade de dar inveja a Lara Croft.
Curiosamente, apesar do roteiro seguir com diversos furos e soluções infantilizadas, a resolução da trama é um ponto forte. Não há Deus Ex-Machina, as pistas são bem construídas durante a apresentação dos personagens. E há uma certa quebra do clichê, apesar de ter algo também previsível. É tudo coerente e bem resolvido, ao contrário de algumas passagens vergonhosas como um número musical inserido em determinado momento da trama. Não faz o menor sentido, não é emocionante, nem divertido, porque é fora de contexto. Provavelmente só entrou porque quem dubla originalmente o personagem Nim Galuu é o conhecido Steven Tyler, vocalista do Aerosmith.
O didatismo também pode incomodar ao público não infantil. Tudo é muito bem explicado e reforçado, algumas vezes até de maneira sutil, como no início, quando MC diz ao taxista que está indo ver um estranho, que não era estranho antes, mas que talvez tenha mudado. Aí, enquanto o carro se aproxima da casa, toca uma canção que diz: Strangers change. Ou quando o cãozinho de três pernas corre com uma agilidade incrível, e MC tem que reforçar se perguntando isso: como consegue correr com apenas três patas?
De qualquer maneira, a construção visual da animação é de encher os olhos. Tudo é muito bem feito, com um grau de realismo impressionante. As paisagens são quase reais em alguns momentos. Os detalhes dos pelos, das ramificações das plantas, da poeira, da água. O 3D também traz uma boa profundidade de campo, dando até vertigem em alguns momentos onde entra o fator altura. Isso sem falar em alguns insetos que são construídos em detalhes, como as lesmas que é possível sentir a composição gelatinosa.
O ritmo das cenas de ação também é outro ponto positivo. São bem orquestradas e alguns movimentos impressionam como a batalha inicial, onde homens-folhas e Boggans disputam mais um terreno na floresta. Os homens-folhas tentando defendê-la e os Boggans tentando destruí-la, claro. A cena em que a rainha sai de sua casa para escolher o botão de rosa também é rica em detalhes. Todas as criaturas da floresta observando a caravana, a movimentação das plantas a cada toque da rainha, a forma como ela desliza nos espaços. É um visual bonito.
Reino Escondido acaba ganhando muito no visual, mas fica aquém no desenvolvimento da história. Não traz grande criatividade na condução da trama, nem na composição dos personagens, todos bastante rasos e típicos, nos dando uma história igualmente rasa. Ainda assim, tem sua coerência e deve divertir bastante os pequenos. Pelo menos, traz o tema ecológico tão importante para nós nesse planeta.
Reino Escondido (Epic, 2013 / EUA)
Direção: Chris Wedge
Roteiro: Tom J. Astle, Matt Ember, James V. Hart, William Joyce e Daniel Shere.
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Reino Escondido
2013-05-16T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|aventura|Chris Wedge|critica|fici2014|
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