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Somos Tão Jovens

Somos Tão Jovens"Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo". Já nos créditos iniciais, Somos Tão Jovens quer capturar os fãs da Legião Urbana com aquilo que ela tinha de melhor, as letras de Renato Russo. Não é suficiente para um grande filme, já que o roteiro, principalmente da primeira parte compromete e muito a narrativa. Mas, o final, mesmo sem final, fala ao coração dessa verdadeira legião de órfãos. Talvez por isso, tantos tenham saído do cinema emocionados.

A trama se centra na juventude de Renato Russo em Brasília, quem estiver esperando uma cinebiografia completa, ou mesmo a Legião Urbana, pode se decepcionar. Veremos aqui um Renato Manfredini Júnior ainda em processo de descoberta. Descoberta de sua música, de seu caminho, de sua sexualidade, de sua vida. Um jovem, como tantos outros em Brasília, que também são retratados no filme. A turma da Colina. O punk rock, as influências primárias. A ditadura militar, ainda que já na fase final. Os sonhos e possibilidades de cada um deles. Um adendo para a propositalmente caricata interpretação de Edu Moraes para Hebert Vianna e suas teorias sobre o "destino". Um dos momentos mais impagáveis do filme.

Somos Tão JovensÉ uma escolha interessante, já que é sempre curioso ver como se começa um mito. Mas, o roteiro de Victor Atherino e Marcos Bernstein acaba sendo esquemático demais, certinho demais para o próprio furacão que foi Renato Russo. Há um problema crônico de forçar citações de músicas a cada cena que torna tudo muito artificial e distante daquilo que seria a promessa do próprio cartaz: "Você conhece o mito, agora conheça a história". Ou alguém vai querer me convencer que Renato entra em uma festa de penetra, vira para amiga Aninha, que diz "festa estranha", e ele completa "com gente esquisita" e ele lembra disso depois para colocar em Eduardo e Mônica? O tempo todo isso acontece.

Mais do que isso, em alguns momentos há citações sutis da própria influência para as músicas do Legião. Um amigo diz que tocar punk rock é fácil, pode ser feito com três acordes. Ele repete "três acordes?" e sai correndo empolgado, como se isso fosse a luz que faltava para ele ser músico. Para quem não sabe, Renato Russo brincava que era possível tocar qualquer música do Legião com apenas três acordes. Um dos raros momentos onde música e realidade se misturam de forma divertida é quando ele conhece um rapaz de Taguatinga que diz que lá tem muitas histórias. E não deixa de ser um teaser para o filme que sai ainda esse ano: Faroeste Caboclo.

Somos Tão JovensMas, o roteiro consegue engrenar com uma escolha acertada de reunir diversas garotas que passaram na vida de Renato Russo na personagem Aninha, interpretada por Laila Zaid. Pois, com ela, temos alguma trama para acompanhar de uma maneira mais concisa. Não sendo apenas esquetes soltas do processo de formação de bandas, comemorações no bar e apresentações musicais. Aliás, a cena que envolve a personagem junto a uma certa música conhecida é uma das melhores do filme. Só não é melhor por uma escolha tola de inserções em preto e branco que não colaboram em nada para a emoção autêntica que se desenvolvia ali, inclusive entre os dois atores que estão muito bem em cena.

Somos Tão JovensAliás, é preciso elogiar Thiago Mendonça em uma análise à parte. Após interpretar Luciano em Dois Filhos de Francisco, o ator conseguiu uma transmutação incrível em postura, impostação de voz e trejeitos para encarnar Renato Russo em tela. Mesmo o tom teatral e exagerado do compositor é bem vindo em uma caricatura que se torna natural e fluida. Tanto que nos brinda com cenas autênticas muito boas como quando ele dança sozinho em seu quarto ao som de Sex Pistols. Ou na sequência da morte de John Lennon que traz ótimas cenas, desde uma cômica no bar, passando por uma poética dele andando nas ruas, até a dramática dele chorando nos braços de Aninha.

Já a direção de Antonio Carlos da Fontoura precisava de um pouco mais de vida. Para um diretor que já assinou uma obra como Rainha Diabo, Somos Tão Jovens aparenta ser muito modelo padrão. Não há ousadia, não há surpresas, não há uma montagem ágil. Tudo funciona como uma cartilha quase documental, porém episódica e com referências forçadas. O filme não ganha vida em nossas mentes, não empolga enquanto obra cinematográfica. A empolgação fica por conta dos números musicais, da nostalgia da época, da força do personagem retratado.

Somos Tão JovensTalvez por isso não haja um clímax, nem uma resolução nos moldes e padrões, ou pelo menos esperados. A gente toma quase um susto quando percebe que o filme acabou. Mas a escolha de como acabar não deixa de ser muito feliz. É o golpe de misericórdia para ganhar a plateia, pelo menos os fãs da banda e do artista. E não cai no erro de estender além do necessário. Isso acaba sendo um acerto que dá à plateia a sensação de catarse pós-sessão.

Somos Tão Jovens é um filme-homenagem. Um resgate de uma força que nunca ficou adormecida de uma legião que se espalhou pelos anos 80 no Brasil. É o berço do rock nacional, é a voz de protesto de uma juventude em busca de ideologia, uma "geração coca-cola" que ainda achava que podia mudar o mundo. É gostoso de acompanhar isso. É gostoso cantar junto com Thiago Mendonça as músicas que fizeram parte de nossas vidas. Mas, é triste perceber que tudo isso poderia ter sido feito de uma maneira muito mais verdadeira e emocionante. De qualquer maneira é muito bom ver Legião Urbana nas telas do cinema. Que venha Faroeste Caboclo.


Somos tão jovens (Somos tão jovens, 2013 / Brasil)
Direção: Antonio Carlos da Fontoura
Roteiro: Victor Atherino e Marcos Bernstein
Com: Thiago Mendonça, Laila Zaid, Bruno Torres, Daniel Passi, Marcos Breda, Nicolau Villa-Lobos, Conrado Godoy
Duração: 104 min.

Comentários (10)

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Que bela análise Amanda. Filmes com grandes personagens costumam meter medo nos realziadores, né? Eu ainda não vi, mas quero muito ver o filme. Não sou um grande fã do legião Urbana, mas Renato Russo era um grande letrista. E sua vida clama pelo cinema. Esse primeiro filme já chega tarde.
Thiago Mendonça impressiona já no trailer...
Enfim... Let´s rock!
Bjs
1 resposta · ativo 622 semanas atrás
Thiago Mendonça é uma das melhores coisas do filme, Reinaldo. Mas, veja, não quero falar muito para não influenciar suas expectativas, hehehe. Eu, como fã do Legião e de Renato Russo, esperava mais, mas... Let´s rock!

bjs
Amanda, parabéns pelo texto. Assisto a esse filme no sábado e tenho as melhores expectativas sobre a obra. Principalmente, por ser fã das letras do Renato Russo e apreciar bastante as músicas da Legião Urbana. E o Thiago Mendonça, mais uma vez, interpretando um ídolo da música brasileira, tem arrancado elogios (ao que tudo indica, merecidos) para a sua atuação.
1 resposta · ativo 622 semanas atrás
A atuação dele está ótima mesmo, melhor do que como Luciano. Tomara que goste do filme. :)
Eu assisti e gostei muito, talvez pela minha nostalgia de relembrar esses momentos da época. Para quem é fã, é um prato cheio!
1 resposta · ativo 621 semanas atrás
Exatamente, Silvia, foi o que falei, os fãs vão curtir, porque o filme tem essa pegada de nostalgia e sabe como começar e, principalmente, terminar. Mas, como filme, tem seus problemas.
Não sou exatamente um fã do legião, mas ao ouvir os primeiros acordes de Tempo Perdido, com direito a presença de violinos, tive a certeza de que gostaria do que iria assistir. Também achei ótima a participação desse ator Edu Moraes como Hebert Vianna, garantiu boas risadas.

Quanto ao Thiago Mendonça... nas primeiras cenas eu tive um estranhamento enorme, achei que estava assistindo malhação ou algo assim, mas depois ele foi ganhando confiança e realmente personificou o Renato Russo. Grande trabalho.

No geral o filme decepciona em alguns pontos mesmo, mas acho que cumpriu bem o papel. Dei um 8!
1 resposta · ativo 621 semanas atrás
As primeiras cenas ele parece mais caricato mesmo, Bruno, mas acho que é a pegada do próprio filme, depois a gente acostuma, até porque o próprio Renato era um cara caricato, hehehe, vide suas falas em shows.
Pronto Amanda, finalmente vim ler e comentar e nossas opiniões são muito parecidas.

É mesmo um filme que vale mais pelo lado afetivo e emotivo, os fãs e a turma que sempre apreciou Renato e a Legião se identifica logo com as letras e canções, mas se formos analisar como um filme mesmo, fica devendo um pouco.

Aqueles diálogos cheios de referências a canções ou frases de canções e também a forma como Renato é apresentado como um mito antes dele se tornar um mito é um problema.

De qualquer forma o saldo é positivo e eu sai feliz do cinema.
1 resposta · ativo 619 semanas atrás
Pois é, Márcio, a questão das referências é triste mesmo, mas para fãs tem um saldo positivo sim.

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