A Princesa e o Plebeu
Em meio ao clima de romance ainda do mês de junho resgato aqui A Princesa e o Plebeu, filme que citei na análise de Um Lugar Chamado Notting Hill. Um filme que tem duas características quase opostas, é romântico, mas extremamente realista.
Audrey Hepburn é a princesa herdeira do trono de um país não-identificado que está em turnê pela Europa. Com uma agenda repleta de compromissos a moça está cansada e resolve dar uma fugidinha em uma noite. O problema é que ela havia sido dopada para dormir e acaba deitando no meio de uma praça em Roma. O repórter Joe Bradley (Gregory Peck) a encontra nessa situação e, achando que é uma moça qualquer bêbada, acaba levando-a para sua casa. Quando descobre que está com a princesa Ann em suas mãos, resolve se aproveitar da história para uma matéria exclusiva, mas durante seu plano, eles vão se aproximar mais do que ele imaginava.
William Wyler trabalha muito bem os detalhes dessa história que parece um conto de fadas às avessas. Em determinado momento, Ann até brinca dizendo que logo será meia noite e ela terá que virar abóbora e deixar o sapatinho. Aliás, sapatinho esse que é nosso primeiro sinal do seu cansaço. Enquanto tem que cumprimentar uma fila de convidados em uma recepção, a câmera nos mostra ela tirando e colocando o pé no sapato alto, até quase perdê-lo na frente de todos. Não por acaso, uma das primeiras coisas que faz em seu dia de pessoa comum é comprar uma sandália baixa. Tudo é construído de uma maneira muito leve e divertida, inclusive o primeiro encontro dos dois, com ela completamente tonta, deixando Joe bastante irritado.
A construção do personagem de Gregory Peck é bastante interessante, pois ele não é o príncipe encantado de ninguém. Repórter que está sempre em dívidas, por causa do jogo. Esperto, sem escrúpulos e sem nem um pouco de cavalheirismo. Apesar de tirar a moça da rua, ele a joga no sofá pequeno e duro de uma maneira totalmente displicente. É interessante ver que quando descobre que ela é a princesa, coloca-a rapidamente na cama e ela acorda elogiando seu gesto bondoso de lhe ceder a cama. A mentira para o chefe dizendo que esteve na coletiva da princesa e sua posterior decisão de conseguir um furo de reportagem também demonstram bem o seu caráter. Mas, aos poucos, vamos nos acostumando com ele, e à medida que Joe se apaixona por Ann, vamos nos solidarizando com aquele amor impossível.
A Princesa e o Plebeu acaba sendo uma grande aventura pela cidade. Uma princesa descobrindo o mundo. Cortando o cabelo no visual da moda, tomando sorvete na praça, visitando lugares turísticos e dançando em uma festa animada. É divertido acompanhar o pesar do barbeiro, por exemplo, ao cortar o cabelo comprido dela, perguntando diversas vezes se é aquilo mesmo. O florista que se compadece por ela não ter dinheiro para comprar um ramo de flores também. Assim como a população na delegacia que aceita uma história contada por Joe, após ela criar uma imensa confusão tentando pilotar uma lambreta. As atrapalhações do fotógrafo Irving Radovich (Eddie Albert) tirando fotos com uma máquina disfarçada de isqueiro também dá um toque a mais a trama, apesar da repetição de Joe "batendo" nele por não entender o que está acontecendo ali.
Mas, o que marca mesmo A Princesa e o Plebeu é a resolução daquela trama. Não exatamente por ser surpreendente, ou pelas escolhas de roteiro. Mas, pela forma como William Wyler constrói tudo aquilo nos deixando até o último segundo em uma expectativa extrema. Até a música é retirada, toda a cena final é sem som, aumentando a angústia. O diretor brinca com a gente, com a situação, com a realidade, com o ideal romântico de uma maneira bastante eficiente. Só quem viu entende o que quero dizer.
A Princesa e o Plebeu é um belo filme. Um clássico que apresentou Audrey Hepburn ao mundo, e já nesse primeiro filme lhe rendeu um Oscar. Não é a obra-prima de seu diretor, já que este nos presenteou com obras como Ben-Hur, mas é uma trama digna, que continua funcionando ainda hoje. Um conto de fadas às avessas que fez muita gente sonhar e chorar.
A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953 / EUA)
Direção: William Wyler
Roteiro: Ian McLellan Hunter, John Dighton
Com: Gregory Peck, Audrey Hepburn, Eddie Albert
Duração: 118 min.
Audrey Hepburn é a princesa herdeira do trono de um país não-identificado que está em turnê pela Europa. Com uma agenda repleta de compromissos a moça está cansada e resolve dar uma fugidinha em uma noite. O problema é que ela havia sido dopada para dormir e acaba deitando no meio de uma praça em Roma. O repórter Joe Bradley (Gregory Peck) a encontra nessa situação e, achando que é uma moça qualquer bêbada, acaba levando-a para sua casa. Quando descobre que está com a princesa Ann em suas mãos, resolve se aproveitar da história para uma matéria exclusiva, mas durante seu plano, eles vão se aproximar mais do que ele imaginava.
William Wyler trabalha muito bem os detalhes dessa história que parece um conto de fadas às avessas. Em determinado momento, Ann até brinca dizendo que logo será meia noite e ela terá que virar abóbora e deixar o sapatinho. Aliás, sapatinho esse que é nosso primeiro sinal do seu cansaço. Enquanto tem que cumprimentar uma fila de convidados em uma recepção, a câmera nos mostra ela tirando e colocando o pé no sapato alto, até quase perdê-lo na frente de todos. Não por acaso, uma das primeiras coisas que faz em seu dia de pessoa comum é comprar uma sandália baixa. Tudo é construído de uma maneira muito leve e divertida, inclusive o primeiro encontro dos dois, com ela completamente tonta, deixando Joe bastante irritado.
A construção do personagem de Gregory Peck é bastante interessante, pois ele não é o príncipe encantado de ninguém. Repórter que está sempre em dívidas, por causa do jogo. Esperto, sem escrúpulos e sem nem um pouco de cavalheirismo. Apesar de tirar a moça da rua, ele a joga no sofá pequeno e duro de uma maneira totalmente displicente. É interessante ver que quando descobre que ela é a princesa, coloca-a rapidamente na cama e ela acorda elogiando seu gesto bondoso de lhe ceder a cama. A mentira para o chefe dizendo que esteve na coletiva da princesa e sua posterior decisão de conseguir um furo de reportagem também demonstram bem o seu caráter. Mas, aos poucos, vamos nos acostumando com ele, e à medida que Joe se apaixona por Ann, vamos nos solidarizando com aquele amor impossível.
A Princesa e o Plebeu acaba sendo uma grande aventura pela cidade. Uma princesa descobrindo o mundo. Cortando o cabelo no visual da moda, tomando sorvete na praça, visitando lugares turísticos e dançando em uma festa animada. É divertido acompanhar o pesar do barbeiro, por exemplo, ao cortar o cabelo comprido dela, perguntando diversas vezes se é aquilo mesmo. O florista que se compadece por ela não ter dinheiro para comprar um ramo de flores também. Assim como a população na delegacia que aceita uma história contada por Joe, após ela criar uma imensa confusão tentando pilotar uma lambreta. As atrapalhações do fotógrafo Irving Radovich (Eddie Albert) tirando fotos com uma máquina disfarçada de isqueiro também dá um toque a mais a trama, apesar da repetição de Joe "batendo" nele por não entender o que está acontecendo ali.
Mas, o que marca mesmo A Princesa e o Plebeu é a resolução daquela trama. Não exatamente por ser surpreendente, ou pelas escolhas de roteiro. Mas, pela forma como William Wyler constrói tudo aquilo nos deixando até o último segundo em uma expectativa extrema. Até a música é retirada, toda a cena final é sem som, aumentando a angústia. O diretor brinca com a gente, com a situação, com a realidade, com o ideal romântico de uma maneira bastante eficiente. Só quem viu entende o que quero dizer.
A Princesa e o Plebeu é um belo filme. Um clássico que apresentou Audrey Hepburn ao mundo, e já nesse primeiro filme lhe rendeu um Oscar. Não é a obra-prima de seu diretor, já que este nos presenteou com obras como Ben-Hur, mas é uma trama digna, que continua funcionando ainda hoje. Um conto de fadas às avessas que fez muita gente sonhar e chorar.
A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1953 / EUA)
Direção: William Wyler
Roteiro: Ian McLellan Hunter, John Dighton
Com: Gregory Peck, Audrey Hepburn, Eddie Albert
Duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Princesa e o Plebeu
2013-06-26T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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