Quando Monstros S.A. surgiu, trouxe o frescor das ideias geniais. Um mundo de monstros que se alimenta dos gritos humanos, uma fábrica que coleta energia. Não há como negar que é uma sacada incrível. A dupla principal, Mike Wazowki e Sulley era muito bem construída e funcionava perfeitamente bem, um era o complemento do outro. Isso sem falar na garotinha Boo. Era um universo incrível sendo explorado de maneira muito competente. Aí, vem a ideia de um novo filme, mas o que contar depois da resolução do primeiro? Resolveram voltar no tempo e mostrar os monstrinhos na faculdade. Era o fim da ideia genial.
Universidade Monstros perde muito do frescor de novidade, de um universo não explorado, para nos mostrar mais uma história de superação de jovens no ambiente escolar. Segue padrões de uma maneira muito clara, clichê até, com as divisões de turmas de vencedores e perdedores, exploradores e explorados. Isso sem falar no estereótipo da diretora "bicho papão" (ok, ela é um dragão), que terá que ser superada. Ainda que a essência do mundo criado no primeiro filme esteja ali, os caminhos são outros. E não são novos. Aliás, pouco têm-se arriscado no novo em Hollywood.
A trama, apesar de dar grande destaque a Sulley, escolhe claramente seu protagonista: Mike Wazowki. Um monstrinho simpático e esforçado que sempre teve o sonho de ser um assustador. O problema é que ele não assusta ninguém. Mas, como não desiste, vai fazer o possível e o impossível para conseguir realizar seu sonho. E quando chega à universidade, é ridicularizado, ignorado, até desafiado, mas continuará em sua luta.
Agora não é mais a dupla de trabalhadores atrapalhados, mas competentes em suas posições. É a batalha do talento vs a técnica. Sulley é um assustador nato. Está no seu sangue, na sua família, no seu estado de espírito. Já Wazowki conhece todas as fórmulas, caretas, regras que estão nos livros. Por isso, se dá bem nas provas teóricas. Mas, claro, os dois vão acabar entrando em uma confusão e terão que aceitar um desafio quase impossível para retornar ao curso de sustos.
É quando entra em cena os novos personagens importantes, a turminha que forma a equipe de Mike e Sulley na competição de assustadores. Bobos, mas divertidos, nos dão momentos muito engraçados, tornando Universidade Monstros uma aventura prazerosa. Assim como as piadas internas que nos remetem ao outro filme. Como o personagem Randall Boggs, a princípio "melhor amigo" de Mike, que depois vai chegar a dizer coisas como "Sulley jamais me vencerá novamente".
A jornada de Mike Wazowki tem um bom ritmo, com diversos plots divertidos, cenas de confusões bem construídas, como a perseguição do mascote, ou a prova do silêncio na biblioteca. E consegue criar uma curva dramática envolvente, que nos leva ao clímax querendo o clichê, querendo o milagre, querendo que os anjos da Pixar nos dêem a cena obrigatória. E Robert L. Baird, Daniel Gerson e Dan Scanlon conseguem o quase impossível, surpreender e satisfazer a expectativa ao mesmo tempo, nos apresentando uma resolução coerente e extremamente prazerosa.
Universidade Monstros, então, volto a afirmar, é um filme bem feito. Divertido, envolvente, fácil de gostar. Mas, fica uma sensação de vazio pela genialidade com o que o primeiro filme foi construído, nos dando algo novo. E ainda tem uma moral da história, no mínimo, polêmica. Ainda assim, é uma animação acima da média. Provavelmente, a melhor do ano até então.
Ah, tem uma cena pós-créditos bem divertida.
Universidade Monstros (Monsters University, 2013 / EUA)
Direção: Dan Scanlon
Roteiro: Robert L. Baird, Daniel Gerson e Dan Scanlon
Duração: 110 min.
O Guarda-Chuva Azul
Decepção fica por conta do curta-metragem O Guarda-Chuva Azul que passa antes do longa. Dirigido por Saschka Unseld, o filme impressiona por sua técnica. Não só por ser bem feita, o que o é. O 3D é muito bem trabalhado, a imersão, os cenários. Mas, pela própria estética. A cidade chuvosa com um ar de melancolia, as "expressões" de cada objeto nela, observando o guarda-chuva azul passar com suas expressões também humanas, ingênuas. A paquera com a guarda-chuva vermelha. O diálogo com os olhos. Tinha tudo para ser mais uma pérola rara da Pixar, como foi Avião de Papel.Mas, tanta técnica falhou exatamente naquilo que a Pixar virou professora e referência: o roteiro. É uma das coisas mais vazias e preguiçosas que eu já vi. Nada contra o amor, não me entendam mal, acabei de elogiar Paperman. Mas, O Guarda-Chuva Azul é um rascunho da outra história. Uma paquera e uma busca que não nos dá motivação para o desenvolvimento. E o clímax chega a ser frustrante. Um verdadeiro Deus Ex-Machina, com uma solução tirada da cartola, só por ser. Tudo cai em um vazio que nos deixa com a sensação de trabalho perdido. Mas, é a Pixar, não duvido que esteja no Oscar do ano que vem.