
O filme traz um personagem fictício, o dramaturgo Antoine d’Anthac que teria acabado de falecer e, como último pedido, solicitou que seus antigos atores fossem à sua casa assistir a uma nova montagem de sua peça Eurídice. O texto, que é uma adaptação do mito de Orfeu, foi escrito na realidade por Jean Anouilh, falecido em 1987. Mas, o mais interessante da brincadeira de Alain Resnais é o fato de os atores que são convocados estarem interpretando a si mesmos e um pouco mais. Mathieu Amalric, Pierre Arditi, Sabine Azéma, Jean-Noël Brouté, Anne Consigny, Anny Duperey, Hippolyte Girardot, Gérard Lartigau, Michel Piccoli entre outros, vão se reconstruir em cena.


A forma como a câmera busca cada uma das interpretações é muito boa. Às vezes, surpreendendo o próprio ator, que ainda não entrou na atuação. Outras vezes de susto, porque o ator falou lá no fundo. Ou ainda em conjunto com enquadramentos que nos mostre o que está acontecendo. Onde utiliza inclusive a divisão de tela para ampliar a apreciação e comparação. Em determinado momento em que Orfeu abre uma porta, por exemplo, é bem interessante ver essa porta no meio da tela e os dois atores a abrindo em sintonia.

Vocês Ainda Não Viram Nada não chega a cumprir a promessa do título. Afinal, já vimos jogos parecidos de brincadeira entre ficção e realidade, assim como o jogo da metalinguagem. O próprio diretor já brincou com isso em Hiroshima, mon amour. Mas, ainda assim, somos conquistados por uma obra muito bem realizada, com interpretações igualmente bem feitas e um texto forte que nos envolve. Isso demonstra que Alain Resnais é um diretor que ainda tem o frescor da sua juventude, querendo sempre desafiar o cinema e ir além. Quem sabe o título é uma promessa de que ainda possa vir algo mais por aí?
Vocês Ainda Não Viram Nada! (Vous n'avez encore rien vu, 2012 / França
Direção: Alain Resnais
Roteiro: Alain Resnais, Laurent Herbiet
Com: Mathieu Amalric, Pierre Arditi, Sabine Azéma, Jean-Noël Brouté, Anne Consigny, Anny Duperey, Hippolyte Girardot, Gérard Lartigau, Michel Piccoli, Denis Podalydès e Lambert Wilson
Duração: 115 min.