Coração Satânico
Adaptação do livro Falling Angel de William Hjortsberg, Coração Satânico poderia também se dizer inspirado no conto Coração Delator de Edgar Allan Poe. Tanto que o diretor / roteirista Alan Parker utiliza as batidas de um coração para nos dar pistas de que seu protagonista está chegando em algum ponto importante da investigação. É uma pista para nós, espectadores, o som não é intra-diegético como no conto de Poe, mas traz essa semelhança peculiar. Assim como todo o filme tem essa atmosfera noir em meio a uma investigação insólita.
A trama se centra no protagonista Harry Angel, um detetive particular, que é contratado por uma firma de advogados para atender a um cliente especial: o misterioso Louis Cyphre. A missão: descobrir o paradeiro de um cantor de guerra conhecido como Johnny Favorite, mas que o verdadeiro sobrenome é Liebling. O artista deve algo a Louis Cyphre e está desaparecido. Cabe a Angel seguir os seus passos para tentar entender o que aconteceu. Porém, a cada passo que ele dá, o caso fica mais confuso e mortes estranhas vão acontecendo.
O filme possui vários símbolos visuais como um ventilador que muda de direção a cada assassinato, um elevador que desce nas visões de Angel, uma bacia com sangue, sem falar em símbolos claros de magia negra como um pentagrama invertido ou rituais estranhos com galinhas. Tudo já começa com uma cena metafórica bastante instigante. Em um beco escuro de Nova York, um gato observa da sacada, quando um cão se aproxima e o intimida. Mesmo estando muito distante, seu latido o encurrala. O cão desiste e continua andando até encontrar um corpo ensanguentado no chão. Nada nessa cena tem uma explicação explícita, é apenas uma apresentação do clima do que veremos adiante. Em uma caçada bastante complexa.
Mickey Rourke encara Harry Angel com grande talento. A sua composição de um detetive do submundo, nascido no Brooklyn, ex-combatente de guerra, que vive de pequenos casos. Sempre com roupas folgadas, muitas vezes sujas, cabelo desarrumado, sorriso bobo no rosto. Mas, ao mesmo tempo, esperto. Sabe arrombar uma casa e fareja quem está mentindo, sendo capaz de ser bastante duro e até mesmo torturar seus interrogados para saber o que precisa. A forma como ele vai se assustando a cada complicação do caso, é também muito bem construída. Principalmente quando dá um murro em um espelho, em determinada cena, ou após um pesadelo assustador envolvendo muito sangue.
Agora, se tem um roteiro que busca uma construção bastante misteriosa, o filme nos dá diversas pistas do que está acontecendo, desde a primeira conversa entre Harry Angel e Louis Cyphre. A entonação de voz de Robert De Niro e as pausas calculadas já demonstram o que o personagem de fato quer. É bem interessante a forma como tudo vai se desenrolando. E o coração de Angel é um dos pontos principais. Como já disse, ele dispara a cada aproximação de uma pista importante. E não é simplesmente uma pista de onde esteja Johnny Favorite, mas uma pista do que realmente esteja acontecendo, que tem a ver com o íntimo de Angel, seus pesadelos e suas sensações.
É interessante como Alan Parker não nos dá nada explícito, mas ao mesmo tempo constrói seu filme com diversas pistas e informações implícitas que fazem nos envolver cada vez mais e juntar as peças até o final que, apesar de surpreendente, poderia parecer óbvio aos mais atentos. E isso nos faz remeter novamente ao cão e ao gato. Quem é o cão e quem é o gato nesta trama? Quem amedronta, mas não tem meios de ser uma ameaça real? Quem está aparentemente acuado, mas é esperto o suficiente para ter o jogo nas mãos? O que significa tudo isso e até que ponto há mesmo magia negra envolvida em toda a história? Por que Johnny Favorite sempre se envolveu com mulheres místicas, por exemplo? A taróloga interpretada por Charlotte Rampling e a sacerdotisa mãe da personagem de Epiphany Proudfoot. O que realmente está por trás de tudo isso? O coração do pobre assustado Harry Angel só pode mesmo disparar diante de tantos perigos.
Coração Satânico é um filme bem construído, que nos envolve em seu jogo de mistérios e crimes macabros. Tem força, ainda que não seja dos mais bem construídos do estilo. Algumas soluções podem parecer tolas e há um certo exagero nas cenas que envolvem sangue. Ainda sim, é um ótimo filme, que ainda traz o plus da cena nos créditos deixando claro o destino do protagonista.
Coração Satânico (Angel Heart, 1987 / EUA)
Direção: Alan Parker
Roteiro: Alan Parker
Com: Mickey Rourke, Robert De Niro, Lisa Bonet, Charlotte Rampling
Duração: 113 min.
A trama se centra no protagonista Harry Angel, um detetive particular, que é contratado por uma firma de advogados para atender a um cliente especial: o misterioso Louis Cyphre. A missão: descobrir o paradeiro de um cantor de guerra conhecido como Johnny Favorite, mas que o verdadeiro sobrenome é Liebling. O artista deve algo a Louis Cyphre e está desaparecido. Cabe a Angel seguir os seus passos para tentar entender o que aconteceu. Porém, a cada passo que ele dá, o caso fica mais confuso e mortes estranhas vão acontecendo.
O filme possui vários símbolos visuais como um ventilador que muda de direção a cada assassinato, um elevador que desce nas visões de Angel, uma bacia com sangue, sem falar em símbolos claros de magia negra como um pentagrama invertido ou rituais estranhos com galinhas. Tudo já começa com uma cena metafórica bastante instigante. Em um beco escuro de Nova York, um gato observa da sacada, quando um cão se aproxima e o intimida. Mesmo estando muito distante, seu latido o encurrala. O cão desiste e continua andando até encontrar um corpo ensanguentado no chão. Nada nessa cena tem uma explicação explícita, é apenas uma apresentação do clima do que veremos adiante. Em uma caçada bastante complexa.
Mickey Rourke encara Harry Angel com grande talento. A sua composição de um detetive do submundo, nascido no Brooklyn, ex-combatente de guerra, que vive de pequenos casos. Sempre com roupas folgadas, muitas vezes sujas, cabelo desarrumado, sorriso bobo no rosto. Mas, ao mesmo tempo, esperto. Sabe arrombar uma casa e fareja quem está mentindo, sendo capaz de ser bastante duro e até mesmo torturar seus interrogados para saber o que precisa. A forma como ele vai se assustando a cada complicação do caso, é também muito bem construída. Principalmente quando dá um murro em um espelho, em determinada cena, ou após um pesadelo assustador envolvendo muito sangue.
Agora, se tem um roteiro que busca uma construção bastante misteriosa, o filme nos dá diversas pistas do que está acontecendo, desde a primeira conversa entre Harry Angel e Louis Cyphre. A entonação de voz de Robert De Niro e as pausas calculadas já demonstram o que o personagem de fato quer. É bem interessante a forma como tudo vai se desenrolando. E o coração de Angel é um dos pontos principais. Como já disse, ele dispara a cada aproximação de uma pista importante. E não é simplesmente uma pista de onde esteja Johnny Favorite, mas uma pista do que realmente esteja acontecendo, que tem a ver com o íntimo de Angel, seus pesadelos e suas sensações.
É interessante como Alan Parker não nos dá nada explícito, mas ao mesmo tempo constrói seu filme com diversas pistas e informações implícitas que fazem nos envolver cada vez mais e juntar as peças até o final que, apesar de surpreendente, poderia parecer óbvio aos mais atentos. E isso nos faz remeter novamente ao cão e ao gato. Quem é o cão e quem é o gato nesta trama? Quem amedronta, mas não tem meios de ser uma ameaça real? Quem está aparentemente acuado, mas é esperto o suficiente para ter o jogo nas mãos? O que significa tudo isso e até que ponto há mesmo magia negra envolvida em toda a história? Por que Johnny Favorite sempre se envolveu com mulheres místicas, por exemplo? A taróloga interpretada por Charlotte Rampling e a sacerdotisa mãe da personagem de Epiphany Proudfoot. O que realmente está por trás de tudo isso? O coração do pobre assustado Harry Angel só pode mesmo disparar diante de tantos perigos.
Coração Satânico é um filme bem construído, que nos envolve em seu jogo de mistérios e crimes macabros. Tem força, ainda que não seja dos mais bem construídos do estilo. Algumas soluções podem parecer tolas e há um certo exagero nas cenas que envolvem sangue. Ainda sim, é um ótimo filme, que ainda traz o plus da cena nos créditos deixando claro o destino do protagonista.
Coração Satânico (Angel Heart, 1987 / EUA)
Direção: Alan Parker
Roteiro: Alan Parker
Com: Mickey Rourke, Robert De Niro, Lisa Bonet, Charlotte Rampling
Duração: 113 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Coração Satânico
2013-07-09T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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