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Cyrano de Bergerac
Cyrano de Bergerac
Hector Savinien de Cyrano de Bergerac foi um poeta e espadachim famoso em seu tempo. Tão famoso que o dramaturgo Edmond Rostand resolveu contar sua vida em uma peça que teve sua primeira encenação em 27 de dezembro de 1897. Toda escrita em rimas, foi remontada diversas vezes, inclusive em versão musical. E claro, o cinema, não poderia deixar passar sua versão. Em 1946, foi a primeira versão, dirigida pelo francês Fernand Rivers. Em 1950, os Estados Unidos fizeram a sua versão, dirigida por Michael Gordon com José Ferrer no papel principal. No mesmo ano, o Japão lançou Aru kengo no shugai, de Hiroshi Inagaki, também versão da peça. Teve até uma livre adaptação com Steve Martin no papel principal no filme Roxane de 1987, uma versão moderna em formato de comédia ao estilo do ator.
Mas, até por ser um escritor francês, tenho uma certa preferência pela versão de Jean-Paul Rappeneau de 1990, com Gérard Depardieu no papel título. O filme procura ser bastante fiel à peça de Rostand retratando a vida de Cyrano e o amor incondicional por sua queria Roxane de uma maneira bastante trágica e emocionante. É o típico amor romântico, que não existiu na realidade, apesar de Roxane ser mesmo uma prima do poeta e espadachim. Cyrano apesar de culto e exímio conhecedor das palavras, era feio, com um nariz enorme e se sentia inferior diante da amada. Tão inferior que prefere ajudar o jovem Christian de Neuvillette a conquistá-la. Ele que é um homem belo, mas sem a menor facilidade com as letras.
O jogo do triângulo amoroso formado é aquela velha dúvida entre o interior e o exterior de uma pessoa. A jovem Roxane é uma moça romântica, porém bastante exigente, pedante até ao querer que seu amado declame seu amor em versos a todos os instantes. Coisa que não é difícil para Cyrano, mas quase impossível para Christian. A trajetória trágica dessa história segue a questão da insatisfação de um ser humano, que nunca pode ter tudo. O belo inculto, ou o feio culto? Roxane exige demais, sem nunca conseguir perceber o que está ao seu redor. Talvez, por isso, a resolução seja tão plausível.
A parte inicial do filme se preocupa em apresentar os personagens e é muito feliz na construção do protagonista, mesmo antes de sua entrada. As pessoas citam e esperam que Cyrano apareça no teatro por causa da estreia de um ator que ele "proibiu" de subir ao palco. Já nessa construção conseguimos ver a personalidade do personagem, o respeito que ele impõe a todos, a capacidade de se expressar pelas palavras e a sua habilidade com a espada. É interessante como Cyrano se mostra um homem incrível, passível de admirações diversas. De homens que os temem, crianças que o idolatram e mesmo as mulheres que parecem menos preocupadas com seu nariz que ele próprio. Não digo de Roxane que não consegue enxergar o primo à sua frente, querendo o belo Christian, mas as mulheres, em geral, não parecem desprezá-lo. É um homem de encantos.
Quando o jogo de cartas começa, é interessante ver a escolha de Jean-Paul Rappeneau em sempre mostrar as expressões de Roxane ao ler as palavras de amor. Sempre de maneira exagerada, em êxtase. Contrastando com seu primeiro encontro com Christian que não consegue balbuciar nada além de "eu te amo". A cena em que ela está na sacada de sua janela, que não podemos deixar de comparar com Romeu e Julieta, e Cyrano, escondido pela sombra da noite, declara o seu amor como se fosse Christian, é bela. A construção da emoção do personagem é muito bem realizada por Gérard Depardieu, quase conseguimos sentir o mesmo que ele. Assim como as palavras que saem de sua boca são belas e envolventes. Não por acaso, Roxane cai de amores por aquele homem.
A parte da Guerra de 30 anos entre França e Espanha, no entanto, acaba construindo uma quebra no ritmo da história. Para a linguagem da época da peça, funciona, assim como para os filmes épicos onde a duração nos faz passear por diversos plots. Porém, na linguagem cinematográfica atual, gera um certo estranhamento, principalmente pelas tramas paralelas da fome dos soldados e as situações para roubar comida dos espanhóis. Mas, também serve para reforçar o amor construído nas primeiras partes da história. Mesmo ali, em meio à guerra, ele continua escrevendo a sua amada, como se fosse Christian, duas vezes por dia. E se arriscando para entregar a carta. Não deixa de ser um amor tocante.
No final, Cyrano de Bergerac é um filme extremamente romântico. Mantendo boa parte das falas em rimas, vai nos envolvendo diante dessa figura encantadora, mas que nos dá pena. Não por seu nariz, ou feiúra que julga, mas exatamente por sua baixa auto-estima. Por, apesar de tantos talentos, ser um homem covarde em relação ao amor. Incapaz de assumir o que sente e enfrentar as consequências, preferindo viver uma farsa em nome da felicidade da amada. Mas, será que essa foi mesmo a felicidade dela?
Cyrano (Cyrano de Bergerac, 1990 / França)
Direção: Jean-Paul Rappeneau
Roteiro: Jean-Paul Rappeneau
Com: Gérard Depardieu, Anne Brochet, Vincent Perez
Duração: 137 min.
Mas, até por ser um escritor francês, tenho uma certa preferência pela versão de Jean-Paul Rappeneau de 1990, com Gérard Depardieu no papel título. O filme procura ser bastante fiel à peça de Rostand retratando a vida de Cyrano e o amor incondicional por sua queria Roxane de uma maneira bastante trágica e emocionante. É o típico amor romântico, que não existiu na realidade, apesar de Roxane ser mesmo uma prima do poeta e espadachim. Cyrano apesar de culto e exímio conhecedor das palavras, era feio, com um nariz enorme e se sentia inferior diante da amada. Tão inferior que prefere ajudar o jovem Christian de Neuvillette a conquistá-la. Ele que é um homem belo, mas sem a menor facilidade com as letras.
O jogo do triângulo amoroso formado é aquela velha dúvida entre o interior e o exterior de uma pessoa. A jovem Roxane é uma moça romântica, porém bastante exigente, pedante até ao querer que seu amado declame seu amor em versos a todos os instantes. Coisa que não é difícil para Cyrano, mas quase impossível para Christian. A trajetória trágica dessa história segue a questão da insatisfação de um ser humano, que nunca pode ter tudo. O belo inculto, ou o feio culto? Roxane exige demais, sem nunca conseguir perceber o que está ao seu redor. Talvez, por isso, a resolução seja tão plausível.
A parte inicial do filme se preocupa em apresentar os personagens e é muito feliz na construção do protagonista, mesmo antes de sua entrada. As pessoas citam e esperam que Cyrano apareça no teatro por causa da estreia de um ator que ele "proibiu" de subir ao palco. Já nessa construção conseguimos ver a personalidade do personagem, o respeito que ele impõe a todos, a capacidade de se expressar pelas palavras e a sua habilidade com a espada. É interessante como Cyrano se mostra um homem incrível, passível de admirações diversas. De homens que os temem, crianças que o idolatram e mesmo as mulheres que parecem menos preocupadas com seu nariz que ele próprio. Não digo de Roxane que não consegue enxergar o primo à sua frente, querendo o belo Christian, mas as mulheres, em geral, não parecem desprezá-lo. É um homem de encantos.
Quando o jogo de cartas começa, é interessante ver a escolha de Jean-Paul Rappeneau em sempre mostrar as expressões de Roxane ao ler as palavras de amor. Sempre de maneira exagerada, em êxtase. Contrastando com seu primeiro encontro com Christian que não consegue balbuciar nada além de "eu te amo". A cena em que ela está na sacada de sua janela, que não podemos deixar de comparar com Romeu e Julieta, e Cyrano, escondido pela sombra da noite, declara o seu amor como se fosse Christian, é bela. A construção da emoção do personagem é muito bem realizada por Gérard Depardieu, quase conseguimos sentir o mesmo que ele. Assim como as palavras que saem de sua boca são belas e envolventes. Não por acaso, Roxane cai de amores por aquele homem.
A parte da Guerra de 30 anos entre França e Espanha, no entanto, acaba construindo uma quebra no ritmo da história. Para a linguagem da época da peça, funciona, assim como para os filmes épicos onde a duração nos faz passear por diversos plots. Porém, na linguagem cinematográfica atual, gera um certo estranhamento, principalmente pelas tramas paralelas da fome dos soldados e as situações para roubar comida dos espanhóis. Mas, também serve para reforçar o amor construído nas primeiras partes da história. Mesmo ali, em meio à guerra, ele continua escrevendo a sua amada, como se fosse Christian, duas vezes por dia. E se arriscando para entregar a carta. Não deixa de ser um amor tocante.
No final, Cyrano de Bergerac é um filme extremamente romântico. Mantendo boa parte das falas em rimas, vai nos envolvendo diante dessa figura encantadora, mas que nos dá pena. Não por seu nariz, ou feiúra que julga, mas exatamente por sua baixa auto-estima. Por, apesar de tantos talentos, ser um homem covarde em relação ao amor. Incapaz de assumir o que sente e enfrentar as consequências, preferindo viver uma farsa em nome da felicidade da amada. Mas, será que essa foi mesmo a felicidade dela?
Cyrano (Cyrano de Bergerac, 1990 / França)
Direção: Jean-Paul Rappeneau
Roteiro: Jean-Paul Rappeneau
Com: Gérard Depardieu, Anne Brochet, Vincent Perez
Duração: 137 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cyrano de Bergerac
2013-07-30T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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