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O Filho do Outro
O Filho do Outro
Bebês trocados na maternidade já é um problema, imagine se os bebês são de nacionalidades diferentes? Pior ainda, são de nações inimigas como Israel e a Palestina? Através de O Filho do Outro, a diretora Lorraine Levy toca em um assunto delicado de uma maneira surpreendentemente leve. Poderia gerar uma guerra particular ou cair em um melodrama exagerado, mas ela prefere o caminho do meio.
Tudo começa quanto o jovem Joseph Silberg vai se alistar no exército israelense. Sua mãe, que é médica, estranha o resultado do exame de sangue. Ele não poderia ser A positivo, sendo ela e o marido A negativo. Tendo a certeza de que não traiu o marido, ela acaba iniciando uma investigação que descobre que seu verdadeiro filho foi trocado na maternidade. E o mais delicado, a outra família é palestina. De uma negação da situação, as duas famílias vão ter que, aos poucos, aceitar o fato de que tem que se confraternizar com os inimigos.
A melhor cena do filme é quando os dois casais vão conversar com o médico responsável pela maternidade. O clima de tensão, o constrangimento mútuo, o diálogo do médico tentando explicar como aquele equívoco foi possível. Lorraine Levy constrói a situação em escolha de planos bem interessantes. Ela intercala o médico sozinho com cada casal em separado, depois com cada um dos quatro pais e depois em um plano onde enquadra as duas mães. Isso mostra a forma como cada um está recebendo aquela situação, primeiro os casais juntos, como dois blocos separados, depois cada um em sua individualidade e depois as duas mães que são as primeiras a quererem encontrar um ponto de interseção para aquilo. Tanto que os dois homens saem irritados e elas ficam, trocando as fotos dos filhos e falando sobre os momentos que cada um representa. Ambas, visivelmente emocionadas.
Aliás, a atuação em geral é um ponto alto do filme. Tanto os dois casais, quando os dois meninos em suas delicadas situações de vidas viradas ao avesso. Mas, as duas atrizes que fazem as mães, Emmanuelle Devos e Areen Omari se destacam exatamente por essa sutileza. Ambas com seus filhos de criação, mas com um instinto materno que quer acolher o verdadeiro bebê a que deu à luz. São pequenos gestos, olhares, tentativas de aproximação como um beijo desconcertado na frente da casa ou um jantar especial que é feito. São mais flexíveis que os pais, que tentam ser mais duros, negando as próprias emoções.
De qualquer maneira, a situação pior é mesmo para os garotos. São emoções diversas de quebra de identidade mesmo, desde estereótipos como Joseph perguntando se terá que trocar a roupa por um colete de explosivos, até questões mais profundas como a conversa com o rabino. Ele que nasceu judeu, foi circuncidado, fez o bar mitzvah, agora não poderia mais ser judeu, porque não nasceu de uma mulher judia. A não ser que passasse por um ritual de iniciação longo. Enquanto que um garoto que nasceu e foi criado como árabe, agora era considerado judeu para a comunidade. O mesmo pode-se perceber em Yacine, um garoto que passa a ser rejeitado pelo próprio irmão de criação por representar agora o povo dominador que invadiu sua terra e impôs limites à liberdade de seu povo.
Esse ódio dos palestinos para com os judeus é bastante representado por Bilal, irmão mais velho de Yacine, assim como a forma prepotente com a qual o exército israelense lida com aqueles que passam pela fronteira. Mas, a complexidade do problema que é essas duas famílias trocadas acaba não sendo aprofundado no filme. Como disse, a diretora escolhe o caminho do meio, passa pelos problemas, os expõe, mas não os aprofunda de uma maneira mais realista. Por que isso poderia beirar mesmo uma guerra particular. O esboço disso é a reação do rabino que quase proíbe Joseph de entrar na sinagoga. Imagine a reação dos vizinhos, dos outros parentes, dos amigos? Como lidar com a vida a partir daquele momento. Lorraine Levy nos dá apenas um vislumbre leve, e acaba, em determinado momento, deixando também uma impressão de que ser israelense é melhor que ser palestino, outro perigo em filmes dessa natureza, a escolha de um lado.
De qualquer maneira, O Filho do Outro é um filme que instiga e envolve. Emociona e nos faz pensar diante de uma dificuldade real tão delicada. Trata de uma questão secular quase sem solução de uma maneira muito íntima e pessoal. E só isso já o faz um filme especial.
O Filho do Outro (Le fils de l'autre, 2012 / França)
Direção: Lorraine Levy
Roteiro: Noam Fitoussi, Lorraine Levy
Com: Emmanuelle Devos, Pascal Elbé, Jules Sitruk
Duração: 105 min.
Tudo começa quanto o jovem Joseph Silberg vai se alistar no exército israelense. Sua mãe, que é médica, estranha o resultado do exame de sangue. Ele não poderia ser A positivo, sendo ela e o marido A negativo. Tendo a certeza de que não traiu o marido, ela acaba iniciando uma investigação que descobre que seu verdadeiro filho foi trocado na maternidade. E o mais delicado, a outra família é palestina. De uma negação da situação, as duas famílias vão ter que, aos poucos, aceitar o fato de que tem que se confraternizar com os inimigos.
A melhor cena do filme é quando os dois casais vão conversar com o médico responsável pela maternidade. O clima de tensão, o constrangimento mútuo, o diálogo do médico tentando explicar como aquele equívoco foi possível. Lorraine Levy constrói a situação em escolha de planos bem interessantes. Ela intercala o médico sozinho com cada casal em separado, depois com cada um dos quatro pais e depois em um plano onde enquadra as duas mães. Isso mostra a forma como cada um está recebendo aquela situação, primeiro os casais juntos, como dois blocos separados, depois cada um em sua individualidade e depois as duas mães que são as primeiras a quererem encontrar um ponto de interseção para aquilo. Tanto que os dois homens saem irritados e elas ficam, trocando as fotos dos filhos e falando sobre os momentos que cada um representa. Ambas, visivelmente emocionadas.
Aliás, a atuação em geral é um ponto alto do filme. Tanto os dois casais, quando os dois meninos em suas delicadas situações de vidas viradas ao avesso. Mas, as duas atrizes que fazem as mães, Emmanuelle Devos e Areen Omari se destacam exatamente por essa sutileza. Ambas com seus filhos de criação, mas com um instinto materno que quer acolher o verdadeiro bebê a que deu à luz. São pequenos gestos, olhares, tentativas de aproximação como um beijo desconcertado na frente da casa ou um jantar especial que é feito. São mais flexíveis que os pais, que tentam ser mais duros, negando as próprias emoções.
De qualquer maneira, a situação pior é mesmo para os garotos. São emoções diversas de quebra de identidade mesmo, desde estereótipos como Joseph perguntando se terá que trocar a roupa por um colete de explosivos, até questões mais profundas como a conversa com o rabino. Ele que nasceu judeu, foi circuncidado, fez o bar mitzvah, agora não poderia mais ser judeu, porque não nasceu de uma mulher judia. A não ser que passasse por um ritual de iniciação longo. Enquanto que um garoto que nasceu e foi criado como árabe, agora era considerado judeu para a comunidade. O mesmo pode-se perceber em Yacine, um garoto que passa a ser rejeitado pelo próprio irmão de criação por representar agora o povo dominador que invadiu sua terra e impôs limites à liberdade de seu povo.
Esse ódio dos palestinos para com os judeus é bastante representado por Bilal, irmão mais velho de Yacine, assim como a forma prepotente com a qual o exército israelense lida com aqueles que passam pela fronteira. Mas, a complexidade do problema que é essas duas famílias trocadas acaba não sendo aprofundado no filme. Como disse, a diretora escolhe o caminho do meio, passa pelos problemas, os expõe, mas não os aprofunda de uma maneira mais realista. Por que isso poderia beirar mesmo uma guerra particular. O esboço disso é a reação do rabino que quase proíbe Joseph de entrar na sinagoga. Imagine a reação dos vizinhos, dos outros parentes, dos amigos? Como lidar com a vida a partir daquele momento. Lorraine Levy nos dá apenas um vislumbre leve, e acaba, em determinado momento, deixando também uma impressão de que ser israelense é melhor que ser palestino, outro perigo em filmes dessa natureza, a escolha de um lado.
De qualquer maneira, O Filho do Outro é um filme que instiga e envolve. Emociona e nos faz pensar diante de uma dificuldade real tão delicada. Trata de uma questão secular quase sem solução de uma maneira muito íntima e pessoal. E só isso já o faz um filme especial.
O Filho do Outro (Le fils de l'autre, 2012 / França)
Direção: Lorraine Levy
Roteiro: Noam Fitoussi, Lorraine Levy
Com: Emmanuelle Devos, Pascal Elbé, Jules Sitruk
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Filho do Outro
2013-07-10T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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