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Thelma e Louise: uma amizade à prova de balas
Thelma e Louise: uma amizade à prova de balas
Continuando o nosso especial sobre amizades, não poderia deixar de citar estas duas incríveis personagens do filme de Ridley Scott. Thelma e Louise são duas amigas que saíram para um fim-de-semana divertido. Mas, acabaram se envolvendo em um crime e uma perseguição que mudou completamente as suas vidas, fortalecendo a amizade e mostrando que, às vezes, estar no mesmo barco é mais do que dividir o bote salva-vidas. A análise a seguir revelará detalhes do filme, caso não tenha visto, passe longe dos próximos parágrafos.
O que mais encanta na amizade de Thelma e Louise é como a cumplicidade e senso de proteção de uma com a outra só cresce a cada passo que dão. Louise é uma mulher aparentemente bem resolvida, tem uma relação amorosa sem "grilos", é independente, com uma personalidade forte. Porém, em seu passado há um trauma relacionado a abuso sexual. Esta informação na construção de Louise é fundamental para o estopim da aventura de ambas. Ao ver Thelma sendo molestada pelo homem do bar, ela não consegue se controlar e acaba atirando nele. A morte do homem é o início da fuga, mas demonstra também a necessidade de Louise de proteger, não apenas Thelma, como qualquer mulher que possa sofrer abusos sexuais.
Já Thelma é a típica mulher submissa. Com um marido bastante dominador, ela não consegue ter voz própria. Mesmo o fim-de-semana na casa no campo, Thelma não tem coragem de pedir permissão ao marido para ir. Louise acaba a convencendo a ir de qualquer jeito e as duas pegam a estrada em um clima de aventura ilícita. Isto é fundamental para o comportamento de Thelma no bar. Ela está vivendo seu momento de transgressão, mas é completamente ingênua. Acaba dando abertura para o homem acreditar que ela quer algo mais. E quando se assusta e tenta fugir, ele a trata como uma mulher fácil.
Aliás, todo o filme Thelma e Louise nos mostra a curva de transformação de Thelma de mulher submissa à dona da situação. Sua virada começa quando ela é enganada pelo personagem de Brad Pitt e resolve assaltar um estabelecimento. Mas, fica muito claro que no final, ela era a protagonista, apesar do peso do nome de Susan Sarandon. Pois, a personagem de Geena Davis é a que se transforma durante o processo. É ela quem decide o drama na parte final, mandando Louise continuar o caminho até o Grand Canyon. Se tudo começa por ela se descuidar e Louise ter que protegê-la, tudo termina com ela protegendo Louise e mostrando o que realmente vale a pena. O filme é o processo de descoberta de Thelma, Louise é apenas o meio que torna isso possível, tirando-a de casa e apresentando o mundo.
A forma maternal como Louise lida com Thelma é bastante característica. Ela a protege, a ensina, a conduz. Passa a mão na cabeça da amiga a cada bobagem, a começar pela bobagem que a levou a cometer um crime. Louise é o cérebro racional. Chama o noivo, traça a rota, enquanto Thelma segue como uma menininha assustada. Há cenas bastante características como quando Thelma pede que Louise dê carona ao personagem de Brad Pitt, por exemplo, como se ela fosse uma menina pidona, pedindo à mãe que compre um chocolate no supermercado. E quando compra, Thelma se lambuza e acaba cometendo mais uma besteira.
Porém, quando Brad Pitt as rouba, algo muda dentro de Thelma. Ela percebe que não pode continuar a ser um peso morto para Louise. Ela precisa agir. E, a partir desse momento, ela toma as rédeas da situação. Ela não apenas rouba um estabelecimento, como ela conduz o carro, explode o posto de gasolina e, como já foi dito, decide o destino das duas. É como se ela dissesse a Louise: "fiz besteiras demais, deixa que agora eu tomo conta de você". De um jeito torto, como uma criança que tem que crescer às pressas por causa de uma gravidez indesejada, mas ela cumpre a promessa.
E diante de todas as confusões e reviravoltas dessa viagem e perseguição, os laços de amizade e cumplicidade entre ambas só cresce. Thelma e Louise compartilham a vida. E, para isso, ambas tem que aprender uma com a outra. Louise ensina Telma a ser forte. Thelma ensina Louise a ser leve. Mas, não resta dúvidas de que quem mais aprende com tudo isso é mesmo Thelma. E aprende da maneira mais difícil possível.
Aprende que não pode "dar mole" a um homem em um bar, pois ele vai querer sexo. Aprende que não pode confiar em um garoto bonito na estrada, pois ele pode lhe passar a perna. Aprende que não pode ser submissa ao marido, pois ele estará sempre tentando menosprezar seu papel na relação. Aprende que amizade é a coisa mais importante do mundo, assim como a liberdade. Juntas, Thelma e Louise decidem simplesmente continuar o caminho, voando, sem se preocupar com a consequência natural da morte. E é ótimo a forma como Ridley Scott escolhe congelar a imagem antes da queda do carro, nos deixando exatamente essa sensação: elas simplesmente continuaram.
O que mais encanta na amizade de Thelma e Louise é como a cumplicidade e senso de proteção de uma com a outra só cresce a cada passo que dão. Louise é uma mulher aparentemente bem resolvida, tem uma relação amorosa sem "grilos", é independente, com uma personalidade forte. Porém, em seu passado há um trauma relacionado a abuso sexual. Esta informação na construção de Louise é fundamental para o estopim da aventura de ambas. Ao ver Thelma sendo molestada pelo homem do bar, ela não consegue se controlar e acaba atirando nele. A morte do homem é o início da fuga, mas demonstra também a necessidade de Louise de proteger, não apenas Thelma, como qualquer mulher que possa sofrer abusos sexuais.
Já Thelma é a típica mulher submissa. Com um marido bastante dominador, ela não consegue ter voz própria. Mesmo o fim-de-semana na casa no campo, Thelma não tem coragem de pedir permissão ao marido para ir. Louise acaba a convencendo a ir de qualquer jeito e as duas pegam a estrada em um clima de aventura ilícita. Isto é fundamental para o comportamento de Thelma no bar. Ela está vivendo seu momento de transgressão, mas é completamente ingênua. Acaba dando abertura para o homem acreditar que ela quer algo mais. E quando se assusta e tenta fugir, ele a trata como uma mulher fácil.
Aliás, todo o filme Thelma e Louise nos mostra a curva de transformação de Thelma de mulher submissa à dona da situação. Sua virada começa quando ela é enganada pelo personagem de Brad Pitt e resolve assaltar um estabelecimento. Mas, fica muito claro que no final, ela era a protagonista, apesar do peso do nome de Susan Sarandon. Pois, a personagem de Geena Davis é a que se transforma durante o processo. É ela quem decide o drama na parte final, mandando Louise continuar o caminho até o Grand Canyon. Se tudo começa por ela se descuidar e Louise ter que protegê-la, tudo termina com ela protegendo Louise e mostrando o que realmente vale a pena. O filme é o processo de descoberta de Thelma, Louise é apenas o meio que torna isso possível, tirando-a de casa e apresentando o mundo.
A forma maternal como Louise lida com Thelma é bastante característica. Ela a protege, a ensina, a conduz. Passa a mão na cabeça da amiga a cada bobagem, a começar pela bobagem que a levou a cometer um crime. Louise é o cérebro racional. Chama o noivo, traça a rota, enquanto Thelma segue como uma menininha assustada. Há cenas bastante características como quando Thelma pede que Louise dê carona ao personagem de Brad Pitt, por exemplo, como se ela fosse uma menina pidona, pedindo à mãe que compre um chocolate no supermercado. E quando compra, Thelma se lambuza e acaba cometendo mais uma besteira.
Porém, quando Brad Pitt as rouba, algo muda dentro de Thelma. Ela percebe que não pode continuar a ser um peso morto para Louise. Ela precisa agir. E, a partir desse momento, ela toma as rédeas da situação. Ela não apenas rouba um estabelecimento, como ela conduz o carro, explode o posto de gasolina e, como já foi dito, decide o destino das duas. É como se ela dissesse a Louise: "fiz besteiras demais, deixa que agora eu tomo conta de você". De um jeito torto, como uma criança que tem que crescer às pressas por causa de uma gravidez indesejada, mas ela cumpre a promessa.
E diante de todas as confusões e reviravoltas dessa viagem e perseguição, os laços de amizade e cumplicidade entre ambas só cresce. Thelma e Louise compartilham a vida. E, para isso, ambas tem que aprender uma com a outra. Louise ensina Telma a ser forte. Thelma ensina Louise a ser leve. Mas, não resta dúvidas de que quem mais aprende com tudo isso é mesmo Thelma. E aprende da maneira mais difícil possível.
Aprende que não pode "dar mole" a um homem em um bar, pois ele vai querer sexo. Aprende que não pode confiar em um garoto bonito na estrada, pois ele pode lhe passar a perna. Aprende que não pode ser submissa ao marido, pois ele estará sempre tentando menosprezar seu papel na relação. Aprende que amizade é a coisa mais importante do mundo, assim como a liberdade. Juntas, Thelma e Louise decidem simplesmente continuar o caminho, voando, sem se preocupar com a consequência natural da morte. E é ótimo a forma como Ridley Scott escolhe congelar a imagem antes da queda do carro, nos deixando exatamente essa sensação: elas simplesmente continuaram.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Thelma e Louise: uma amizade à prova de balas
2013-07-21T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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