Bom Dia, Vietnã!
Filmes de guerra já foram feitos muitos. De todos os tipos e sobre todas as guerras. Inclusive a guerra do Vietnã. Alguns mais realistas, outros mais críticos, outros ufanistas. O que diferencia Good Morning, Vietnam é o personagem. Inspirado em um caso real, sobre um radialista especial, que trouxe esperança e um pouco de alegria ao dia-a-dia daqueles soldados. Misturando comédia e drama em um filme simples, porém com diversas camadas interessantes.
"Goooood Moooorning, Vietnam", com esse grito característico, Adrian Cronauer abria o dia na concentração do exército norte-americano, onde tinha um programa de rádio. Através dele, o personagem de Robin Williams contava piadas e selecionava músicas de rock da época, a exemplo de Bob Dylan, Beach Boys, Frank Avalon, Rolling Stones, entre outros. Uma subversão aos olhos de seus superiores que queriam músicas mais, digamos, elevadas. E esse era apenas um dos seus problemas.
O ano era de 1965 e o rock era um ritmo que simbolizava essa juventude rebelde, juventude que, inclusive, protestava contra a guerra. E o personagem de Robin Williams tem muito disso. Adrian era um homem inquieto, que não se importava com convenções, vide a forma como começa a paquerar uma garota vietnamita e como toma uma turma em um curso de inglês. E era um homem também inconformado com a guerra, tanto que questionava as censuras das notícias, ridicularizava políticos, a exemplo de Nixon, e tentou burlar algumas leis do batalhão.
O roteiro do filme traz, então, essas nuanças ao se sustentar praticamente no personagem para construir sua curva dramática. Ele é o centro de tudo. É o que chega para sacudir a rádio, que tinha um padrão mais tradicional e linear. Mexe com o entorno ao se envolver com o grupo de alunos vietnamitas, rompendo tradições e misturando culturas. Mexe com o próprio exército ao se tornar ídolo da rádio, com diversos fãs, sendo um problema se livrar dele mesmo quando é insubordinado. E através dele também, o roteirista Mitch Markowitz questiona o sentido da Guerra do Vietnã, ou de qualquer guerra. Além de discutir direitos humanos e sentido de vida.
Mas, o filme se sustenta mesmo no talento de Robin Williams. O ator é um showman e nesse filme ele tem a oportunidade de expressar todo o seu talento. Ele brinca, conta piadas, faz diversos tipos de imitações. Mas, também tem momentos sérios, onde demonstra capacidade dramática imensa e consegue ditar o ritmo da trama com muita competência. Ele demonstra estar à vontade no estúdio, dominando a cena e nos fazendo construir uma empatia extremamente forte com o personagem. Realmente passamos a admirá-lo, respeitá-lo e nos importar com ele. Até mesmo o desvio de trama para um possível amor proibido se torna natural.
Já a direção é extremamente clássica, sem grandes novidades ou pontos a serem destacados. Uma história bem contada. Exceto por uma cena que ficou bastante conhecida e que já vale as duas horas de projeção. O clipe com a música What a Wonderful World de Louis Armstrong. De uma sensibilidade incrível e em um momento-chave. As músicas que Adrian colocava na rádio, sempre ganhavam um mini-clipe com os soldados no pátio, carros passando, treinamentos. Porém, nesse momento, que coincide com um momento em que o personagem já está se questionando sobre a justiça de tudo aquilo, ele coloca a música no ar e vemos cenas de batalhas, cenas de pessoas sofrendo, cenas de explosões e pessoas feridas. O contraste da letra da música com as imagens exibidas nos traz um efeito incrível, não apenas emocional, como racional. Nos faz questionar juntos o sentido da guerra.
Sendo assim, Bom dia, Vietnã é daqueles filmes que não são uma obra-prima em sua construção, mas que trazem detalhes que o tornam eterno. A começar pelo ator e sua indiscutível grande atuação. Sendo até hoje um dos melhores trabalhos de Robin Williams que lhe rendeu duas indicações a prêmios. E por outros pontos como a escolha da trilha sonora, que é uma das mais empolgantes. Sem falar na citada cena e nas críticas e questionamentos sobre a guerra. Um filme que ainda hoje faz sentido.
Bom Dia, Vietnã! (Good Morning, Vietnam, 1987 / EUA)
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Mitch Markowitz
Com: Robin Williams, Forest Whitaker, Tung Thanh Tran, Bruno Kirby, Robert Wuhl
Duração: 121 min.
"Goooood Moooorning, Vietnam", com esse grito característico, Adrian Cronauer abria o dia na concentração do exército norte-americano, onde tinha um programa de rádio. Através dele, o personagem de Robin Williams contava piadas e selecionava músicas de rock da época, a exemplo de Bob Dylan, Beach Boys, Frank Avalon, Rolling Stones, entre outros. Uma subversão aos olhos de seus superiores que queriam músicas mais, digamos, elevadas. E esse era apenas um dos seus problemas.
O ano era de 1965 e o rock era um ritmo que simbolizava essa juventude rebelde, juventude que, inclusive, protestava contra a guerra. E o personagem de Robin Williams tem muito disso. Adrian era um homem inquieto, que não se importava com convenções, vide a forma como começa a paquerar uma garota vietnamita e como toma uma turma em um curso de inglês. E era um homem também inconformado com a guerra, tanto que questionava as censuras das notícias, ridicularizava políticos, a exemplo de Nixon, e tentou burlar algumas leis do batalhão.
O roteiro do filme traz, então, essas nuanças ao se sustentar praticamente no personagem para construir sua curva dramática. Ele é o centro de tudo. É o que chega para sacudir a rádio, que tinha um padrão mais tradicional e linear. Mexe com o entorno ao se envolver com o grupo de alunos vietnamitas, rompendo tradições e misturando culturas. Mexe com o próprio exército ao se tornar ídolo da rádio, com diversos fãs, sendo um problema se livrar dele mesmo quando é insubordinado. E através dele também, o roteirista Mitch Markowitz questiona o sentido da Guerra do Vietnã, ou de qualquer guerra. Além de discutir direitos humanos e sentido de vida.
Mas, o filme se sustenta mesmo no talento de Robin Williams. O ator é um showman e nesse filme ele tem a oportunidade de expressar todo o seu talento. Ele brinca, conta piadas, faz diversos tipos de imitações. Mas, também tem momentos sérios, onde demonstra capacidade dramática imensa e consegue ditar o ritmo da trama com muita competência. Ele demonstra estar à vontade no estúdio, dominando a cena e nos fazendo construir uma empatia extremamente forte com o personagem. Realmente passamos a admirá-lo, respeitá-lo e nos importar com ele. Até mesmo o desvio de trama para um possível amor proibido se torna natural.
Já a direção é extremamente clássica, sem grandes novidades ou pontos a serem destacados. Uma história bem contada. Exceto por uma cena que ficou bastante conhecida e que já vale as duas horas de projeção. O clipe com a música What a Wonderful World de Louis Armstrong. De uma sensibilidade incrível e em um momento-chave. As músicas que Adrian colocava na rádio, sempre ganhavam um mini-clipe com os soldados no pátio, carros passando, treinamentos. Porém, nesse momento, que coincide com um momento em que o personagem já está se questionando sobre a justiça de tudo aquilo, ele coloca a música no ar e vemos cenas de batalhas, cenas de pessoas sofrendo, cenas de explosões e pessoas feridas. O contraste da letra da música com as imagens exibidas nos traz um efeito incrível, não apenas emocional, como racional. Nos faz questionar juntos o sentido da guerra.
Sendo assim, Bom dia, Vietnã é daqueles filmes que não são uma obra-prima em sua construção, mas que trazem detalhes que o tornam eterno. A começar pelo ator e sua indiscutível grande atuação. Sendo até hoje um dos melhores trabalhos de Robin Williams que lhe rendeu duas indicações a prêmios. E por outros pontos como a escolha da trilha sonora, que é uma das mais empolgantes. Sem falar na citada cena e nas críticas e questionamentos sobre a guerra. Um filme que ainda hoje faz sentido.
Bom Dia, Vietnã! (Good Morning, Vietnam, 1987 / EUA)
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Mitch Markowitz
Com: Robin Williams, Forest Whitaker, Tung Thanh Tran, Bruno Kirby, Robert Wuhl
Duração: 121 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Bom Dia, Vietnã!
2013-08-12T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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