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Mato Sem Cachorro
Mato Sem Cachorro
O cinema nacional está mesmo na fase das comédias. O problema é que a maioria delas segue um mesmo padrão, estilo "Zorra Total", da busca do riso pelo riso. Mesmo as comédias românticas, trazem esse viés pastelão e muitas vezes apelativo. Mato Sem Cachorro segue por um caminho um pouco diferente, o da ironia. E só por isso, já ganha pontos.
Não quer dizer que também não exista no filme de Pedro Amorim algumas bobagens típicas de comédias descompromissadas, como o próprio protagonista Deco, interpretado por Bruno Gagliasso, que é um sujeito bobo e atrapalhado. Ou mesmo o seu primo, vivido por Danilo Gentili, em seu primeiro papel como ator, que vive nu pela casa, com piadas típicas do programa humorístico. Isso sem falar na personagem de Elke Maravilha, que faz uma velhinha paralisada em uma cadeira de rodas e não tem nenhuma função narrativa.
Mas, apesar de ter uma comédia romântica com o mote principal da história do casal Deco e Zoé, com o seu cachorro Guto, Mato Sem Cachorro tem um tom mais ácido, com a construção da ironia e até mesmo, uma pontinha crítica em relação ao universo do rádio. Um exemplo é a forma como eles citam e brincam com A Voz do Brasil, construindo uma pista e recompensa sutil, mas interessante, que critica exatamente a sua obrigatoriedade.
Outro quesito que chama a atenção é a trilha sonora da trama. Muito bem pensada para acompanhar o ritmo irônico, desde uma construção meio foto legenda com o personagem andando pela rua ao som de "eu não sou cachorro não", passando pelo vídeo de Sandy com "vamos pular", até as misturas de ritmo (os mashups) que é o mote do personagem Deco com o Sidney, personagem de Felipe Rocha, que gera boas brincadeiras como Metallica misturado com Sidney Magal. É só esquecer a piada infame que o próprio cantor solta em determinado momento do filme.
Porque chama a atenção em Mato Sem Cachorro o roteiro bem pensado e trabalhado para "dar certo". É uma típica comédia romântica, de rapaz conhece moça, rapaz perde moça, rapaz tenta recuperar moça. Mas, há elementos inseridos ali para atingir todos os públicos. O humor escrachado e ao mesmo tempo com pitadas críticas do CQC está representando em seus integrantes originais, Danilo Gentili, Rafinha Bastos e até Marcelo Tas em dose dupla em uma espécie de brincadeira ao estilo Armação Ilimitada. Há o romance, claro, na construção do casal. E há o cachorro. Ou melhor os cachorros, fofinhos para agradar e emocionar a todos.
Isso não é ruim. É uma maneira de brincar com os estereótipos, se aproveitando deles e construindo um filme divertido e envolvente, sem precisar apelar muito. E o tom irônico que a direção e montagem imprimem dá o toque a mais para que Mato sem Cachorro seja uma grande brincadeira com um fundo sério, digamos assim. Se formos destrinchar o roteiro, tem ali crítica ao mundo de aparências, ao formato tradicional das rádios, à pirataria, à onda espiritualista com a clínica de cães zens, à acomodação, e até aos exageros com os cuidados com os cães. Há também piadas com referências à cultura pop, como a brincadeira com o desenho Caverna do Dragão.
No início do filme, a personagem Ananda, vivida por Letícia Isnard, apresenta o seu programa de rádio perguntando sobre a família perfeita. Ela tenta construir, também ao estilo de Armação Ilimitada, a radialista que costura a trama e dá o tom. Não fica tão fluído quanto o seriado, mas não deixa de ter sua função. Afinal, qual a família ideal que temos em nossa mente? Este também é um dos temas do filme, talvez a tese que ele defenda se acharmos que possa existir isso. Na verdade, ele demonstra que isso não existe. Estamos sempre buscando o marido ideal, o filho ideal, o emprego ideal, a vida ideal, e esquecemos que isso se faz a cada dia.
Um dos maiores problemas do filme, no entanto, é o tempo. São quase duas horas de projeção. Muita coisa para um filme de comédia romântica. Cansa, estende demais as piadas e dá a sensação de que "já deu". Talvez isso tenha sido por causa da inexperiência do diretor, em seu primeiro longametragem. Quem já teve que montar um filme sabe como é difícil o time exato do corte, tendo que muitas vezes descartar "boas cenas" desnecessárias. Porém, não é nada que chegue a tornar o filme uma experiência ruim.
Mato Sem Cachorro não é uma grande obra. Mas, é uma luz que se destaca no mar das comédias nacionais atuais. Tem humor, tem inteligência, tem referências e tem todos os elementos que o público em geral gosta. Talvez você não se acabe de rir como em um stand up de Rafinha Bastos ou Danilo Gentili. Mas, este também não é o propósito do filme. Apesar do trailer besteirol, a trama que encontramos acaba sendo uma agradável surpresa.
Mato Sem Cachorro (Mato Sem Cachorro, 2013 / Brasil)
Direção: Pedro Amorim
Roteiro: André Pereira
Com: Bruno Gagliasso, Leandra Leal, Danilo Gentili, Letícia Isnard, Enrique Díaz, Felipe Rocha, Gabriela Duarte, Rafinha Bastos, Angela Leal e Flávio Migliaccio
Duração: 119 min.
Não quer dizer que também não exista no filme de Pedro Amorim algumas bobagens típicas de comédias descompromissadas, como o próprio protagonista Deco, interpretado por Bruno Gagliasso, que é um sujeito bobo e atrapalhado. Ou mesmo o seu primo, vivido por Danilo Gentili, em seu primeiro papel como ator, que vive nu pela casa, com piadas típicas do programa humorístico. Isso sem falar na personagem de Elke Maravilha, que faz uma velhinha paralisada em uma cadeira de rodas e não tem nenhuma função narrativa.
Mas, apesar de ter uma comédia romântica com o mote principal da história do casal Deco e Zoé, com o seu cachorro Guto, Mato Sem Cachorro tem um tom mais ácido, com a construção da ironia e até mesmo, uma pontinha crítica em relação ao universo do rádio. Um exemplo é a forma como eles citam e brincam com A Voz do Brasil, construindo uma pista e recompensa sutil, mas interessante, que critica exatamente a sua obrigatoriedade.
Outro quesito que chama a atenção é a trilha sonora da trama. Muito bem pensada para acompanhar o ritmo irônico, desde uma construção meio foto legenda com o personagem andando pela rua ao som de "eu não sou cachorro não", passando pelo vídeo de Sandy com "vamos pular", até as misturas de ritmo (os mashups) que é o mote do personagem Deco com o Sidney, personagem de Felipe Rocha, que gera boas brincadeiras como Metallica misturado com Sidney Magal. É só esquecer a piada infame que o próprio cantor solta em determinado momento do filme.
Porque chama a atenção em Mato Sem Cachorro o roteiro bem pensado e trabalhado para "dar certo". É uma típica comédia romântica, de rapaz conhece moça, rapaz perde moça, rapaz tenta recuperar moça. Mas, há elementos inseridos ali para atingir todos os públicos. O humor escrachado e ao mesmo tempo com pitadas críticas do CQC está representando em seus integrantes originais, Danilo Gentili, Rafinha Bastos e até Marcelo Tas em dose dupla em uma espécie de brincadeira ao estilo Armação Ilimitada. Há o romance, claro, na construção do casal. E há o cachorro. Ou melhor os cachorros, fofinhos para agradar e emocionar a todos.
Isso não é ruim. É uma maneira de brincar com os estereótipos, se aproveitando deles e construindo um filme divertido e envolvente, sem precisar apelar muito. E o tom irônico que a direção e montagem imprimem dá o toque a mais para que Mato sem Cachorro seja uma grande brincadeira com um fundo sério, digamos assim. Se formos destrinchar o roteiro, tem ali crítica ao mundo de aparências, ao formato tradicional das rádios, à pirataria, à onda espiritualista com a clínica de cães zens, à acomodação, e até aos exageros com os cuidados com os cães. Há também piadas com referências à cultura pop, como a brincadeira com o desenho Caverna do Dragão.
No início do filme, a personagem Ananda, vivida por Letícia Isnard, apresenta o seu programa de rádio perguntando sobre a família perfeita. Ela tenta construir, também ao estilo de Armação Ilimitada, a radialista que costura a trama e dá o tom. Não fica tão fluído quanto o seriado, mas não deixa de ter sua função. Afinal, qual a família ideal que temos em nossa mente? Este também é um dos temas do filme, talvez a tese que ele defenda se acharmos que possa existir isso. Na verdade, ele demonstra que isso não existe. Estamos sempre buscando o marido ideal, o filho ideal, o emprego ideal, a vida ideal, e esquecemos que isso se faz a cada dia.
Um dos maiores problemas do filme, no entanto, é o tempo. São quase duas horas de projeção. Muita coisa para um filme de comédia romântica. Cansa, estende demais as piadas e dá a sensação de que "já deu". Talvez isso tenha sido por causa da inexperiência do diretor, em seu primeiro longametragem. Quem já teve que montar um filme sabe como é difícil o time exato do corte, tendo que muitas vezes descartar "boas cenas" desnecessárias. Porém, não é nada que chegue a tornar o filme uma experiência ruim.
Mato Sem Cachorro não é uma grande obra. Mas, é uma luz que se destaca no mar das comédias nacionais atuais. Tem humor, tem inteligência, tem referências e tem todos os elementos que o público em geral gosta. Talvez você não se acabe de rir como em um stand up de Rafinha Bastos ou Danilo Gentili. Mas, este também não é o propósito do filme. Apesar do trailer besteirol, a trama que encontramos acaba sendo uma agradável surpresa.
Mato Sem Cachorro (Mato Sem Cachorro, 2013 / Brasil)
Direção: Pedro Amorim
Roteiro: André Pereira
Com: Bruno Gagliasso, Leandra Leal, Danilo Gentili, Letícia Isnard, Enrique Díaz, Felipe Rocha, Gabriela Duarte, Rafinha Bastos, Angela Leal e Flávio Migliaccio
Duração: 119 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mato Sem Cachorro
2013-10-02T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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