O Cinema também é escola
Hoje é o Dia do Professor. E ao contrário dos anos anteriores, não vou trazer um filme sobre educação ou algum personagem professor. Quero abranger o tema para a capacidade que o cinema tem de ensinar. Não por acaso, é um recurso didático tão utilizado em salas de aulas. Quem nunca viu O Nome da Rosa em uma aula de história medieval? Ou A Revolução dos Bichos para entender o Socialismo?
Porém, indo além desta primeira visão de filmes educativos, é possível perceber e ensinar com os mais diversos filmes. Pois filmes falam da vida, nos trazem exemplos, discutem temas diversos que podem nos fazer refletir e ir além do puro entretenimento. Tanto que David Gilmour contou sua experiência de educar o filho apenas com a obrigação diária de assistir a filmes diversos no livro O Clube do Filme.
Na última semana do FICI em Salvador, pude presenciar uma sessão especial de 5x Favela, agora por nós mesmos que demonstra bem isso. Após a sessão, uma das diretoras do filme, Manaíra Carneiro e a pedagoga Lilia Levy conversaram com a plateia que não era composta apenas pelos adolescentes (já que era uma sessão da Mostra Novos Jovens), mas por professores e representantes de associações de bairros populares da Região Metropolitana de Salvador.
O processo do filme em si já foi um bom exemplo do cinema como meio de educação. Manaíra Carneiro falou como foi a seleção para as oficinas e escolha dos temas de cada um dos cinco curtas que foram produzidos pela própria comunidade. E o quanto isso trouxe verdade para a tela. Pois, como ela mesma lembrou, pobreza não é defeito "o pior é a pessoa pobre de espírito". E o quanto essa experiência ajudou a ela e aos outros a perceber melhor seu lugar no mundo e o que queriam passar.
A pedagoga Levy reforçou que um traço importante desse projeto é falar de problemas das favelas, mas trazer um viés de esperança. O projeto traz os jovens em uma visão própria da sua realidade, demonstrando "o que eles queriam que fossem e como resolver os problemas que ali se encontram". E por ser feito por eles, cria-se uma identificação com o que se vê na tela.
A partir disso, a plateia foi se manifestando, reforçando que o que viram muito se assemelha à realidade que eles vivem. "Não é apenas no Rio de Janeiro que esse tipo de coisa acontece", relatou um. "Em Simões Filho tem muita rixa de comunidades rivais, onde o jovem fica no meio como foi no filme", completou ele, se referindo à história do curta "Deixa Voar", onde um garoto tem que atravessar o bairro rival para pegar uma pipa.
O curta-metragem "Fonte de Renda" da própria Manaíra, foi o que mais levantou discussão, pela questão da causa e consequência do tráfico. A platéia chamou a atenção para o fato do garoto ser o melhor aluno da classe e por suas dificuldades financeiras serem tentadas pelo pedido dos colegas que querem drogas. "O desespero faz ir pelo caminho mais fácil", afirmou alguém. Mas, outro chamou a atenção pelo fato dele não ter reagido quando o padrasto lhe pune "Ele sabia que estava errado".
Mas, todos foram unânimes em reconhecer que o filme mostra sempre um mesmo caminho: o olhar sensível de que a ascensão deve ser pela educação. Em um país onde dar o peixe parece estar sendo mais importante que ensinar a pescar, é imprescindível perceber o quão importante é esse setor para tudo. Não apenas para conseguir um emprego e um lugar ao sol. Mas, uma população educada sabe respeitar os direitos do próximos e conviver em melhores condições. Isso 5x Favela demonstra. Mas, não apenas ele.
Diversos filmes são capazes de nos ensinar um pouco sobre atitudes diante da vida. Todos os dias, a cada filme que vemos, somos capazes de refletir e aguçar o nosso senso crítico. Por isso também que a cada crítica, tento despertar esse olhar nos leitores. Ampliando a discussão para além da tela. Aprendemos juntos, sempre. E isso, é graças também ao poder de assimilação do cinema. Então, nesse dia, temos também que homenagear este grande professor da vida.
Porém, indo além desta primeira visão de filmes educativos, é possível perceber e ensinar com os mais diversos filmes. Pois filmes falam da vida, nos trazem exemplos, discutem temas diversos que podem nos fazer refletir e ir além do puro entretenimento. Tanto que David Gilmour contou sua experiência de educar o filho apenas com a obrigação diária de assistir a filmes diversos no livro O Clube do Filme.
Na última semana do FICI em Salvador, pude presenciar uma sessão especial de 5x Favela, agora por nós mesmos que demonstra bem isso. Após a sessão, uma das diretoras do filme, Manaíra Carneiro e a pedagoga Lilia Levy conversaram com a plateia que não era composta apenas pelos adolescentes (já que era uma sessão da Mostra Novos Jovens), mas por professores e representantes de associações de bairros populares da Região Metropolitana de Salvador.
O processo do filme em si já foi um bom exemplo do cinema como meio de educação. Manaíra Carneiro falou como foi a seleção para as oficinas e escolha dos temas de cada um dos cinco curtas que foram produzidos pela própria comunidade. E o quanto isso trouxe verdade para a tela. Pois, como ela mesma lembrou, pobreza não é defeito "o pior é a pessoa pobre de espírito". E o quanto essa experiência ajudou a ela e aos outros a perceber melhor seu lugar no mundo e o que queriam passar.
A pedagoga Levy reforçou que um traço importante desse projeto é falar de problemas das favelas, mas trazer um viés de esperança. O projeto traz os jovens em uma visão própria da sua realidade, demonstrando "o que eles queriam que fossem e como resolver os problemas que ali se encontram". E por ser feito por eles, cria-se uma identificação com o que se vê na tela.
A partir disso, a plateia foi se manifestando, reforçando que o que viram muito se assemelha à realidade que eles vivem. "Não é apenas no Rio de Janeiro que esse tipo de coisa acontece", relatou um. "Em Simões Filho tem muita rixa de comunidades rivais, onde o jovem fica no meio como foi no filme", completou ele, se referindo à história do curta "Deixa Voar", onde um garoto tem que atravessar o bairro rival para pegar uma pipa.
O curta-metragem "Fonte de Renda" da própria Manaíra, foi o que mais levantou discussão, pela questão da causa e consequência do tráfico. A platéia chamou a atenção para o fato do garoto ser o melhor aluno da classe e por suas dificuldades financeiras serem tentadas pelo pedido dos colegas que querem drogas. "O desespero faz ir pelo caminho mais fácil", afirmou alguém. Mas, outro chamou a atenção pelo fato dele não ter reagido quando o padrasto lhe pune "Ele sabia que estava errado".
Mas, todos foram unânimes em reconhecer que o filme mostra sempre um mesmo caminho: o olhar sensível de que a ascensão deve ser pela educação. Em um país onde dar o peixe parece estar sendo mais importante que ensinar a pescar, é imprescindível perceber o quão importante é esse setor para tudo. Não apenas para conseguir um emprego e um lugar ao sol. Mas, uma população educada sabe respeitar os direitos do próximos e conviver em melhores condições. Isso 5x Favela demonstra. Mas, não apenas ele.
Diversos filmes são capazes de nos ensinar um pouco sobre atitudes diante da vida. Todos os dias, a cada filme que vemos, somos capazes de refletir e aguçar o nosso senso crítico. Por isso também que a cada crítica, tento despertar esse olhar nos leitores. Ampliando a discussão para além da tela. Aprendemos juntos, sempre. E isso, é graças também ao poder de assimilação do cinema. Então, nesse dia, temos também que homenagear este grande professor da vida.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Cinema também é escola
2013-10-15T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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