Pois, o Counselor (sim, o personagem nem tem nome) está começando a se envolver no mundo do crime, através do tráfico de drogas na divisa entre o México e os Estados Unidos. Querendo os louros do dinheiro que isso traz, ele tenta, no entanto, não atrair para si as consequências. Sua intenção é apenas ter uma vida confortável ao lado da mulher que ama, Laura, vivida por Penélope Cruz. A cena de abertura do filme, inclusive, é do casal na cama, em um clima de sensualidade que os leva a um sexo oral. Não deixa de ser instigante que um filme que fale de drogas, violência e escolhas, comece assim.
Cormac McCarthy, romancista que já teve alguns livros seus adaptados para o cinema, a exemplo de A Estrada e Onde os Fracos não Têm Vez, dessa vez assina também o roteiro. E para um primeiro roteiro cinematográfico, a economia narrativa é bastante instigante. Inclusive na implantação das pistas que serão colhidas na resolução, indicando o destino de cada um dos personagens. A cena que envolve um DVD é uma das mais fortes do filme, pena que ele tentou explicar demais com a cena posterior.
A atmosfera do filme é bem próxima a de Onde os Fracos não Têm Vez, nos trazendo esse mundo cão por um viés irônico, incômodo e até mesmo sem sentido. Porém, a direção de Ridley Scott, longe de embarcar nesse clima como tão bem fazem os irmãos Coen, torna tudo sério demais. O filme se torna, então, quase tolo. Não parece haver um propósito para sua existência, quando não há a possibilidade de explorar essa atmosfera como ela merecia.
O elenco estelar chama a atenção, claro. E apesar de Michael Fassbender estar muito bem em sua construção, o seu personagem acaba se perdendo no caminho. Ao contrário de Cameron Diaz que vai ganhando um ar instigante a cada tomada, desde sua composição física com direito a tatuagem de pele de onça, até suas atitudes no decorrer da trama. Javier Bardem, apesar de ótimo ator, tem um personagem caricato demais, com direito a um bronzeamento artificial bastante exagerado. Já Penélope Cruz cumpre o seu papel de mulher ingênua e apaixonada. Enquanto Brad Pitt tem uma participação pontual, porém, marcante.
O impacto da violência por traz desse mundo do crime não poupa efeitos especiais. Temos boas cenas de tiro, fortes cenas de morte e até uma decapitação que joga uma cabeça no chão, como quem atira um obstáculo qualquer ao chão. Nesse ponto, a direção de Ridley Scott consegue nos dar bons momentos de ação, principalmente nas cenas da estrada. Mas, de fato, tudo é levado a sério demais para uma visão que deveria mesmo ser mais crua e irônica.
No final, O Conselheiro do Crime é menos do que prometia. Um filme que já tinha tido problemas nos bastidores com a dança do elenco. Angelina Jolie seria Malkina, no lugar de Cameron Diaz. Natalie Portman seria Laura, no lugar de Penélope Cruz. Possibilidades que não necessariamente tornariam o filme melhor ou pior. Apenas diferente. O fato é que pareceu mesmo um casamento errado de roteiro e direção.
O Conselheiro do Crime (The Counselor, 2013 / EUA)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Cormac McCarthy
Com: Michael Fassbender, Penélope Cruz, Cameron Diaz, Javier Bardem, Brad Pitt
Duração: 117 min