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Obsessão
Depois do sucesso de Preciosa, Lee Daniels retorna à direção com um filme que mantem algumas das marcas apresentadas no filme anterior, como o melodrama exacerbado e o preconceito racial como um dos temas. Mas, há em The Paperboy um viés a mais, voltado para o nonsense em uma crítica irônica, que chama atenção.
A trama é baseada no livro de Peter Dexter, que assinou o roteiro junto ao próprio Lee Daniels e conta a história de um crime mal julgado, digamos assim. Hillary Van Wetter, personagem de John Cusack está no corredor da morte, mas se diz inocente. Charlotte Bless, personagem de Nicole Kidman tem o hábito de se corresponder com presos condenados à morte e acaba se "apaixonando" por Hillary, se dispondo a provar sua inocência. Para isso, ela escreve ao jornalista Ward Jansen, personagem de Matthew McConaughey que compra a briga e retorna à sua cidade natal para desvendar a verdade. Junto com o redator Yardley Acheman (David Oyelowo) e seu irmão mais novo, Jack Jansen (Zac Efron) irão mergulhar no caso, mas não tinham ideia das consequências disso.
A brincadeira do título original, então, tem tudo a ver, The Paperboy que seria o jornaleiro, nos traz o viés do repórter investigativo em busca da verdade, personificando as figuras de Ward e Yardley, mas que, na verdade, acabam criando foco para Jack, o verdadeiro protagonista da trama e sua futura profissão. Por isso, desde já fica a reflexão sobre a tradução brasileira que o lança como Obsessão. Não que seja necessariamente ruim, há diversas obsessões no filme, em diversos núcleos e personagens, mas será a obsessão o foco principal da trama?
O olhar da narrativa é curioso, principalmente pela escolha de construí-la pelo ponto de vista de Anita Chester, a personagem de Macy Gray que é empregada doméstica da família de Jack e Ward. Com ela vem a questão racial, que é abordada também no personagem de David Oyelowo, e esta relação meio familiar, meio profissional que as domésticas travam com seus patrões. Mas, o fato de ser ela a nos contar aquela história traz um direcionamento, até para tornar o Jack o protagonista. É interessante como o seu depoimento apresenta e guia o filme, dando um tom intimista.
Esta escolha acaba influindo também na estética do filme. Ela nos narra em um ponto futuro o que aconteceu em agosto de 1969, já dando essa sensação de história passada. E com isso, a fotografia pode brincar com o tempo. Temos um tom envelhecido na imagem, uma granulação maior. Não é apenas a direção de arte que é retrô, ambientando o final da década de 60, a imagem parece vinda de lá. Perdida no tempo. E isso, acaba construindo um diferencial para embarcarmos na trama.
A montagem também procura construir sempre uma sobreposição de imagens, quase funções que praticamente caíram em desuso. Assim como as "inovações" de tela dividida e algumas brincadeiras com a dimensão da tela que nos dão uma sensação de experimentação. Há uma utilização constante também de raccord sonoro, sempre trazendo algum som, música de uma cena anterior ou posterior para fazer o link mais fluído. Se observarmos melhor a questão da estética retrô, até o cartaz do filme segue essa linha antiga.
Porém, o que chama a atenção mesmo é o elenco. Mais do que o elenco, as atuações do filme. Principalmente do jovem Zac Efron que ainda hoje carrega o peso do High School Musical, mas nos apresenta aqui uma carga dramática extremamente eficiente e convincente. É um crescimento visível inclusive do filme Um Homem de Sorte. Nicole Kidman também está muito bem no papel da estranha mulher devassa, há um tom over, que condiz com sua personagem. E tanto falaram da cena do xixi, mas chama muito mais atenção a cena do sexo oral quase por telepatia. De qualquer forma, é mais a composição da personagem como um todo que merece destaque. O restante do elenco também está bem, com destaque ainda para o louco construído por John Cusack.
Obsessão não é um filme simples. Apesar de ter uma narradora, a narrativa acaba sendo solta em boa parte da projeção, temos que pescar muitas vezes as ideias. Há uma atmosfera nonsense em toda a trama e personagens. Há violência, há loucura, há uma aproximação excessiva da humanidade. E como diria Caetano Veloso, parafraseando Tolstoi, "de perto ninguém é normal". Talvez, exatamente por isso, o filme se torne tão instigante e impactante. Há o melodrama, poderia não pesar em algumas cenas, principalmente no sofrimento do personagem de Zac Efron. Mas, há também uma crítica mais ácida, um questionamento ou simplesmente a apresentação do estranhamento. Como já foi dito, um filme instigante.
Obsessão (The Paperboy, 2012 / EUA)
Direção: Lee Daniels
Roteiro: Peter Dexter, Lee Daniels
Com: Zac Efron, Matthew McConaughey, Nicole Kidman, John Cusack, David Oyelowo
Duração: 107 min.
A trama é baseada no livro de Peter Dexter, que assinou o roteiro junto ao próprio Lee Daniels e conta a história de um crime mal julgado, digamos assim. Hillary Van Wetter, personagem de John Cusack está no corredor da morte, mas se diz inocente. Charlotte Bless, personagem de Nicole Kidman tem o hábito de se corresponder com presos condenados à morte e acaba se "apaixonando" por Hillary, se dispondo a provar sua inocência. Para isso, ela escreve ao jornalista Ward Jansen, personagem de Matthew McConaughey que compra a briga e retorna à sua cidade natal para desvendar a verdade. Junto com o redator Yardley Acheman (David Oyelowo) e seu irmão mais novo, Jack Jansen (Zac Efron) irão mergulhar no caso, mas não tinham ideia das consequências disso.
A brincadeira do título original, então, tem tudo a ver, The Paperboy que seria o jornaleiro, nos traz o viés do repórter investigativo em busca da verdade, personificando as figuras de Ward e Yardley, mas que, na verdade, acabam criando foco para Jack, o verdadeiro protagonista da trama e sua futura profissão. Por isso, desde já fica a reflexão sobre a tradução brasileira que o lança como Obsessão. Não que seja necessariamente ruim, há diversas obsessões no filme, em diversos núcleos e personagens, mas será a obsessão o foco principal da trama?
O olhar da narrativa é curioso, principalmente pela escolha de construí-la pelo ponto de vista de Anita Chester, a personagem de Macy Gray que é empregada doméstica da família de Jack e Ward. Com ela vem a questão racial, que é abordada também no personagem de David Oyelowo, e esta relação meio familiar, meio profissional que as domésticas travam com seus patrões. Mas, o fato de ser ela a nos contar aquela história traz um direcionamento, até para tornar o Jack o protagonista. É interessante como o seu depoimento apresenta e guia o filme, dando um tom intimista.
Esta escolha acaba influindo também na estética do filme. Ela nos narra em um ponto futuro o que aconteceu em agosto de 1969, já dando essa sensação de história passada. E com isso, a fotografia pode brincar com o tempo. Temos um tom envelhecido na imagem, uma granulação maior. Não é apenas a direção de arte que é retrô, ambientando o final da década de 60, a imagem parece vinda de lá. Perdida no tempo. E isso, acaba construindo um diferencial para embarcarmos na trama.
A montagem também procura construir sempre uma sobreposição de imagens, quase funções que praticamente caíram em desuso. Assim como as "inovações" de tela dividida e algumas brincadeiras com a dimensão da tela que nos dão uma sensação de experimentação. Há uma utilização constante também de raccord sonoro, sempre trazendo algum som, música de uma cena anterior ou posterior para fazer o link mais fluído. Se observarmos melhor a questão da estética retrô, até o cartaz do filme segue essa linha antiga.
Porém, o que chama a atenção mesmo é o elenco. Mais do que o elenco, as atuações do filme. Principalmente do jovem Zac Efron que ainda hoje carrega o peso do High School Musical, mas nos apresenta aqui uma carga dramática extremamente eficiente e convincente. É um crescimento visível inclusive do filme Um Homem de Sorte. Nicole Kidman também está muito bem no papel da estranha mulher devassa, há um tom over, que condiz com sua personagem. E tanto falaram da cena do xixi, mas chama muito mais atenção a cena do sexo oral quase por telepatia. De qualquer forma, é mais a composição da personagem como um todo que merece destaque. O restante do elenco também está bem, com destaque ainda para o louco construído por John Cusack.
Obsessão não é um filme simples. Apesar de ter uma narradora, a narrativa acaba sendo solta em boa parte da projeção, temos que pescar muitas vezes as ideias. Há uma atmosfera nonsense em toda a trama e personagens. Há violência, há loucura, há uma aproximação excessiva da humanidade. E como diria Caetano Veloso, parafraseando Tolstoi, "de perto ninguém é normal". Talvez, exatamente por isso, o filme se torne tão instigante e impactante. Há o melodrama, poderia não pesar em algumas cenas, principalmente no sofrimento do personagem de Zac Efron. Mas, há também uma crítica mais ácida, um questionamento ou simplesmente a apresentação do estranhamento. Como já foi dito, um filme instigante.
Obsessão (The Paperboy, 2012 / EUA)
Direção: Lee Daniels
Roteiro: Peter Dexter, Lee Daniels
Com: Zac Efron, Matthew McConaughey, Nicole Kidman, John Cusack, David Oyelowo
Duração: 107 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Obsessão
2013-10-05T13:35:00-03:00
Amanda Aouad
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