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Miguel Gomes
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Tabu
Tabu
Dividido em dois capítulos, Paraíso Perdido e Paraíso, o português Miguel Gomes nos conta uma fábula do amor proibido. E o que nos encanta é a forma doce e azeda com que ele faz isso, nos sensibilizando, divertindo e envolvendo com suas imagens que buscam a verdadeira inocência perdida.
Pilar é uma senhora solitária que vive em Lisboa dedicada a causas sociais. Recebe estudantes estrangeiros em sua casa, ajuda os amigos e vizinhos, preocupa-se com as pessoas em geral. Sua atenção se volta para sua vizinha Aurora, uma senhora já com traços senis que vive com a empregada Santa, uma africana que desperta a desconfiança de sua senhora, que entre delírios e preconceitos acha que está sofrendo maus tratos. Porém, quando o destino de Aurora é traçado, Pilar e Santa ficam conhecendo o seu passado e o amor proibido com o italiano Ventura.
A construção narrativa busca uma leveza no trato do tema, mas insere uma dose de ironia que deixa à trama com um viés crítico desde a história do explorador português na savana africana. O tom do filme é irônico, com doses surreais que nos traz essa atmosfera onírica que também estão nas interpretações pouco naturalistas e na imagem em preto e branco. Tudo parece buscar um simbolismo a mais do que a simples trama de uma senhora e seu passado escondido.
No capítulo Paraíso Perdido, cujo foco é Pilar, temos esse olhar distante da senhora Aurora. Ela que perdeu todo o dinheiro em um cassino por causa de um sonho. Uma mulher que parece não falar nada de coerente, mas que, através de suas palavras ditas ou escritas, conseguimos vislumbrar um pouco mais. "Tenho sangue nas mãos, Pilar", ela solta em um dos seus devaneios.
Irônico também é sua empregada se chamar Santa e ela maldizer a moça o tempo todo chamando-a de "macumbeira". E o mais interessante é a forma dúbia com a qual Miguel Gomes nos apresenta a situação, mostrando ela comendo e vendo televisão, parecendo não ligar para a patroa e se recusando a dar o contato da filha para Pilar. Mas, ao mesmo tempo, parecendo ter um ar inocente e sempre pedindo ajuda da vizinha, quando sua senhora está em perigo real.
Quando entramos no capítulo Paraíso, a construção da trama também sofre algumas mudanças que nos chamam a atenção para as escolhas do diretor. O filme passa a ser filmado em 16 mm, com uma imagem mais granulada que deixa o preto e branco ainda mais simbólico e onírico. Também não temos diálogos e pouco som direto, sempre pontuados pela narração de Ventura. Tudo isso nos remete aos primórdios do cinema. Talvez Miguel Gomes assim também esteja nos dizendo que o Paraíso era o cinema de outrora. Vale ressaltar que todo o filme é feito com a dimensão de tela de 4x3, não mais utilizada nem mesmo em televisão.
A fábula amorosa é narrada de uma maneira doce e saudosa, ao mesmo tempo em que os pecados que os fizeram ser "expulsos" do paraíso não procuram ser justificados ou perdoados. Tudo é apenas uma constatação de fatos. E é interessante também perceber que o "paraíso" é a colônia africana, que Portugal perdeu em meio às guerras civis. E a forma como todos os acontecimentos se enlaçam na parte final traz também uma crítica instigante de uma resolução bastante realista.
Tabu é um filme que os envolve e faz pensar. Parte de uma trama simples e até mesmo já bastante explorada do amor proibido, mas a reconstrói. Não apenas pela inversão narrativa, mas pelos detalhes que a compõe. Sua crítica e viés irônico também ajudam na apreciação e instiga as reflexões sobre o tema. Assim como o seu título que é justificado na trama pelo nome do morro próximo às fazendas. E que, na realidade, não existe.
Tabu (Tabu, 2012 / Portugal)
Direção: Miguel Gomes
Roteiro: Miguel Gomes, Mariana Ricardo
Com: Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Carloto Cotta
Duração: 118 min.
Pilar é uma senhora solitária que vive em Lisboa dedicada a causas sociais. Recebe estudantes estrangeiros em sua casa, ajuda os amigos e vizinhos, preocupa-se com as pessoas em geral. Sua atenção se volta para sua vizinha Aurora, uma senhora já com traços senis que vive com a empregada Santa, uma africana que desperta a desconfiança de sua senhora, que entre delírios e preconceitos acha que está sofrendo maus tratos. Porém, quando o destino de Aurora é traçado, Pilar e Santa ficam conhecendo o seu passado e o amor proibido com o italiano Ventura.
A construção narrativa busca uma leveza no trato do tema, mas insere uma dose de ironia que deixa à trama com um viés crítico desde a história do explorador português na savana africana. O tom do filme é irônico, com doses surreais que nos traz essa atmosfera onírica que também estão nas interpretações pouco naturalistas e na imagem em preto e branco. Tudo parece buscar um simbolismo a mais do que a simples trama de uma senhora e seu passado escondido.
No capítulo Paraíso Perdido, cujo foco é Pilar, temos esse olhar distante da senhora Aurora. Ela que perdeu todo o dinheiro em um cassino por causa de um sonho. Uma mulher que parece não falar nada de coerente, mas que, através de suas palavras ditas ou escritas, conseguimos vislumbrar um pouco mais. "Tenho sangue nas mãos, Pilar", ela solta em um dos seus devaneios.
Irônico também é sua empregada se chamar Santa e ela maldizer a moça o tempo todo chamando-a de "macumbeira". E o mais interessante é a forma dúbia com a qual Miguel Gomes nos apresenta a situação, mostrando ela comendo e vendo televisão, parecendo não ligar para a patroa e se recusando a dar o contato da filha para Pilar. Mas, ao mesmo tempo, parecendo ter um ar inocente e sempre pedindo ajuda da vizinha, quando sua senhora está em perigo real.
Quando entramos no capítulo Paraíso, a construção da trama também sofre algumas mudanças que nos chamam a atenção para as escolhas do diretor. O filme passa a ser filmado em 16 mm, com uma imagem mais granulada que deixa o preto e branco ainda mais simbólico e onírico. Também não temos diálogos e pouco som direto, sempre pontuados pela narração de Ventura. Tudo isso nos remete aos primórdios do cinema. Talvez Miguel Gomes assim também esteja nos dizendo que o Paraíso era o cinema de outrora. Vale ressaltar que todo o filme é feito com a dimensão de tela de 4x3, não mais utilizada nem mesmo em televisão.
A fábula amorosa é narrada de uma maneira doce e saudosa, ao mesmo tempo em que os pecados que os fizeram ser "expulsos" do paraíso não procuram ser justificados ou perdoados. Tudo é apenas uma constatação de fatos. E é interessante também perceber que o "paraíso" é a colônia africana, que Portugal perdeu em meio às guerras civis. E a forma como todos os acontecimentos se enlaçam na parte final traz também uma crítica instigante de uma resolução bastante realista.
Tabu é um filme que os envolve e faz pensar. Parte de uma trama simples e até mesmo já bastante explorada do amor proibido, mas a reconstrói. Não apenas pela inversão narrativa, mas pelos detalhes que a compõe. Sua crítica e viés irônico também ajudam na apreciação e instiga as reflexões sobre o tema. Assim como o seu título que é justificado na trama pelo nome do morro próximo às fazendas. E que, na realidade, não existe.
Tabu (Tabu, 2012 / Portugal)
Direção: Miguel Gomes
Roteiro: Miguel Gomes, Mariana Ricardo
Com: Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Carloto Cotta
Duração: 118 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Tabu
2013-10-21T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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