
E é difícil explicar qualquer coisa sobre essa culpa sem dar spoilers, por mais que o roteiro seja óbvio desde a primeira cena em que o personagem de César Troncoso aparece. Neste ponto está também o maior problema da obra de Tata Amaral. De uma maneira poética nos faz imergir no inconsciente de Vera, querendo criar um certo mistério sobre o seu passado, que não funciona, por muita coisa ser óbvia.

É estranho, no entanto, ver um filme que faz questão de parecer tão misterioso, que não quer entregar o argumento de pronto ao espectador, em determinado momento, construir uma cena extremamente didática com a leitura de um Diário Oficial e letras em efeito pela tela. Fica um visual bonito, no entanto, que cresce em emoção pela interpretação de Denise Fraga desesperada tapando os ouvidos.


Funciona, ainda que com pequenos percalços que nos cansam, exatamente por essa necessidade esconder o que está completamente à mostra. Há pequenos segredos, algumas revelações e versões. A cena em que os dois relembram o que aconteceu em determinada tarde é forte. São quatro versões e algumas revelações que trazem mais um viés de significados para tudo aquilo. E nesse ponto, talvez, haja surpresas.
Ainda assim, Hoje é uma experiência curiosa. Um filme irregular, com ótimas interpretações, inclusive dos ajudantes de mudança, destaque para João Baldasserini, e uma direção que busca sempre a poesia das cenas, mas acaba se perdendo nesses pequenos jogos de esconde.
Hoje (Hoje, 2011 / Brasil)
Direção: Tata Amaral
Roteiro: Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald, Felipe Sholl
Com: Denise Fraga, César Troncoso, João Baldasserini
Duração: 90 min.