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O Quarteto
O Quarteto
Quando os primeiros acordes de Libiamo Ne'lieti Calici da Ópera La Traviata de Verdi enchem nossos ouvidos na abertura do filme O Quarteto, temos a sensação de uma boa história. E Dustin Hoffman, estreando de fato na direção, é feliz na escolha da música e na forma como constrói as cenas de diversos músicos espalhados pelos cômodos do lar. Pena que ele não quis explorar mais a fundo o que tinha nas mãos.
Na verdade, O Quarteto é uma adaptação da peça de Ronald Harwood, que assina o roteiro do filme e nos traz a história de uma casa de repouso para músicos aposentados. Por isso, a peça de La Traviata caía como uma luva, e a música Libiamo Ne'lieti Calici nos traz o convite para que aproveitemos o tempo que nos resta. Quer uma forma melhor de aproveitar a vida do que músicos fazendo música, ainda que no outono da vida, cercados de uma caldeira de vaidades?
Mas, O Quarteto prefere não entrar muito nessa questão tão rica que o argumento nos traz ao se concentrar no quarteto a que o título se refere. Reginald Paget, Wilf Bond, Cissy Robson e Jean Horton foram umas das maiores vozes da Inglaterra e fizeram muito sucesso quando atuaram juntos na peça Rigoletto, também de Verdi. Os três primeiros viviam em paz na casa de repouso até a chegada de Jean Horton que gera duas questões: o retorno das mágoas do passado em sua história com Reginald e a esperança dos demais em conseguir uma festa disputada com a apresentação do antigo quarteto.
Este é um ponto em que o roteiro do filme não cria a empatia e verossimilhança necessária para que o espectador embarque completamente na trama. Em nenhum momento sentimos o desespero de uma ameaça ao fechamento do local. Está no discurso dos personagens: "precisamos arrecadar fundos na festa, senão não temos dinheiro para manter o espaço". Mas, não traz verdade. É um movimento oco de que somos lembrados por vezes, sem muita força.
A construção da trama passa também pela sensação de fim do caminho para aquelas pessoas que já estiveram no topo e vivem com um certo peso. As doenças, os medos, a solidão. A personagem de Pauline Collins, a Cissy Robson, está com sérios problemas de memória, tem ausências e desorientação, mas tudo é levado com humor. O personagem de Billy Connolly, o Wilf Bond, é inconformado com a velhice e vive fazendo piadas sexuais. Também é tratado como alívio cômico.
O drama está mesmo no casal vivido por Maggie Smith e Tom Courtenay. O desconforto de Reginald com a presença da ex-esposa que o traiu é bem desenvolvido, assim como a sua insegurança diante desse encontro e do mundo em geral. Primeira estrela do grupo, ela confessa se preocupar muito com as críticas e cantar se tornou um fardo. Neste ponto, o filme se torna interessante, humano e envolvente. Ainda que tenha uma curva dramática repleta de clichês, há um certo apuro, até na forma de contar a história dos dois, vide a comparação do que aconteceu com a ópera Rigoletto: "uma peça sobre traição", Reginald define.
Em seu primeiro filme como diretor, após a tentativa em Liberdade Condicional, que acabou sendo assumido por Ulu Grosbard, Dustin Hoffman não se arrisca muito. Mas, mesmo mantendo uma posição confortável em uma direção correta, nos dá alguns momentos de poesia. Como a já citada abertura do filme, a cena em que Maggie Smith observa a mudança da janela de sua antiga casa, ou a cena em que Reginald e Jane se vêem pela primeira vez, em meio a uma aula de ópera vs rap. Outra bela cena é quando ele está na varanda angustiado, podemos vê-la da janela, deitada na cama, e entre os dois, outro músico, tocando o seu violoncelo.
O Quarteto tinha elementos para se tornar uma grande obra, bons atores e possibilidades diversas dentro de um argumento tão rico. De qualquer maneira, é um filme agradável, com momentos divertidos e outros emocionantes. E que faz uma homenagem a músicos que hoje podem estar esquecidos. Uma espécie de Crepúsculo dos Deuses musical, mas que curiosamente, tem pouca música.
O Quarteto (Quartet, 2012 / Inglaterra)
Direção: Dustin Hoffman
Roteiro: Ronald Harwood
Com: Maggie Smith, Michael Gambon, Billy Connolly, Pauline Collins, Tom Courtenay
Duração: 98 min.
Na verdade, O Quarteto é uma adaptação da peça de Ronald Harwood, que assina o roteiro do filme e nos traz a história de uma casa de repouso para músicos aposentados. Por isso, a peça de La Traviata caía como uma luva, e a música Libiamo Ne'lieti Calici nos traz o convite para que aproveitemos o tempo que nos resta. Quer uma forma melhor de aproveitar a vida do que músicos fazendo música, ainda que no outono da vida, cercados de uma caldeira de vaidades?
Mas, O Quarteto prefere não entrar muito nessa questão tão rica que o argumento nos traz ao se concentrar no quarteto a que o título se refere. Reginald Paget, Wilf Bond, Cissy Robson e Jean Horton foram umas das maiores vozes da Inglaterra e fizeram muito sucesso quando atuaram juntos na peça Rigoletto, também de Verdi. Os três primeiros viviam em paz na casa de repouso até a chegada de Jean Horton que gera duas questões: o retorno das mágoas do passado em sua história com Reginald e a esperança dos demais em conseguir uma festa disputada com a apresentação do antigo quarteto.
Este é um ponto em que o roteiro do filme não cria a empatia e verossimilhança necessária para que o espectador embarque completamente na trama. Em nenhum momento sentimos o desespero de uma ameaça ao fechamento do local. Está no discurso dos personagens: "precisamos arrecadar fundos na festa, senão não temos dinheiro para manter o espaço". Mas, não traz verdade. É um movimento oco de que somos lembrados por vezes, sem muita força.
A construção da trama passa também pela sensação de fim do caminho para aquelas pessoas que já estiveram no topo e vivem com um certo peso. As doenças, os medos, a solidão. A personagem de Pauline Collins, a Cissy Robson, está com sérios problemas de memória, tem ausências e desorientação, mas tudo é levado com humor. O personagem de Billy Connolly, o Wilf Bond, é inconformado com a velhice e vive fazendo piadas sexuais. Também é tratado como alívio cômico.
O drama está mesmo no casal vivido por Maggie Smith e Tom Courtenay. O desconforto de Reginald com a presença da ex-esposa que o traiu é bem desenvolvido, assim como a sua insegurança diante desse encontro e do mundo em geral. Primeira estrela do grupo, ela confessa se preocupar muito com as críticas e cantar se tornou um fardo. Neste ponto, o filme se torna interessante, humano e envolvente. Ainda que tenha uma curva dramática repleta de clichês, há um certo apuro, até na forma de contar a história dos dois, vide a comparação do que aconteceu com a ópera Rigoletto: "uma peça sobre traição", Reginald define.
Em seu primeiro filme como diretor, após a tentativa em Liberdade Condicional, que acabou sendo assumido por Ulu Grosbard, Dustin Hoffman não se arrisca muito. Mas, mesmo mantendo uma posição confortável em uma direção correta, nos dá alguns momentos de poesia. Como a já citada abertura do filme, a cena em que Maggie Smith observa a mudança da janela de sua antiga casa, ou a cena em que Reginald e Jane se vêem pela primeira vez, em meio a uma aula de ópera vs rap. Outra bela cena é quando ele está na varanda angustiado, podemos vê-la da janela, deitada na cama, e entre os dois, outro músico, tocando o seu violoncelo.
O Quarteto tinha elementos para se tornar uma grande obra, bons atores e possibilidades diversas dentro de um argumento tão rico. De qualquer maneira, é um filme agradável, com momentos divertidos e outros emocionantes. E que faz uma homenagem a músicos que hoje podem estar esquecidos. Uma espécie de Crepúsculo dos Deuses musical, mas que curiosamente, tem pouca música.
O Quarteto (Quartet, 2012 / Inglaterra)
Direção: Dustin Hoffman
Roteiro: Ronald Harwood
Com: Maggie Smith, Michael Gambon, Billy Connolly, Pauline Collins, Tom Courtenay
Duração: 98 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Quarteto
2013-11-13T09:48:00-03:00
Amanda Aouad
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