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Os Pássaros
Os Pássaros
Imagine se, de repente, diversas espécies de pássaros iniciassem uma guerra sem explicações contra a humanidade? Atacariam aos bandos, em um movimento cíclico, sem um motivo aparente, chegando a matá-los? Absurdo? Não foi o que o mestre do suspense, Alfred Hitchcock pensou, criando assim um dos seus filmes mais conhecidos.
Os Pássaros é o filme onde Hitchcock flerta com o surreal, construindo simbologias diversas em interpretações que chegam até a uma possível crítica ao comunismo. E talvez essa seja a parte mais divertida do filme, não há uma explicação explícita para o ataque. Até porque pássaros não falam. Revolta pelos maus tratos? Resolveram tomar a ilha para si? O fato é que o tom apocalíptico pegou as plateias da época, criando um terror impactante que precisava superar o sucesso do inovador Psicose.
A trama é simples, a bela, rica e fútil Melanie Daniels, vivida por Tippi Hedren, conhece o advogado Mitch Brenner em um loja de pássaros. Uma conversa fútil, repleta de jogos, instiga a ambos e ela resolve viajar até Bodega Bay, onde ele passa os fins de semana, para lhe presentear com um casal de periquitos (lovebirds). Lá, ela vai ficando até começar os ataques das aves.
A forma como Hitchcock constrói o foco nos pássaros durante todo o filme é um dos pontos altos da obra. Desde o princípio, com a loja de pássaros. Na estrada, temos planos detalhes dos periquitos na gaiola acompanhando as curvas da estrada. Na cena da travessia de barco, quando Melanie é atacada pela primeira vez, vemos também a gaivota se aproximando, preparando o golpe. Mas, nenhuma cena é tão emblemática quanto a reunião de corvos na frente da escola. A cada corte e retorno para o plano de Melanie encostada na cerca, vamos vendo mais e mais corvos se reunindo.
O som também é muito bem trabalhado. Na cena citada da escola, por exemplo, vemos essa reunião progressiva ao som das crianças em coral. O contraste da tensão com a inocência de suas vozes felizes cria um clima ainda mais interessante e angustiante. Já a cena em que ela retorna de barco, antes do ataque, não possui nenhum som, criando um clima ainda mais tenso. Porém, o momento em que o som é mais impactante é quando Mitch, sua mãe Lydia, Melanie e a pequena Cathy estão "presos" em casa e começa-se a ouvir o barulho dos pássaros do lado de fora.
O terror construído apenas com o som e o desespero dos personagens é o momento mais tenso da trama, provocando medo genuíno. Há o desespero do som que nos dá a ideia de uma quantidade imensa, há a iminência do ataque, há a falta de espaço de fuga. Tudo construído apenas com o som das asas, dos piados e do bico batendo nas portas. Essa tensão acaba sendo mais eficiente que o próprio ataque dos pássaros em outros momentos, que causa mais horror do que cria medo.
Isso sem falar na carência de recursos tecnológicos para construir melhor esses ataques. O chroma key da época se mostra aos olhos de hoje bastante ineficiente, deixando clara a montagem e tirando parte do impacto dos ataques. Em poucos momentos, Hitchcock utilizou pássaros próximos aos atores, como na cena do ataque final a Melanie que levou a atriz Tippi Hedren ao hospital, por ele não ter cortado a cena quando o adestrador mandou. Mas, ainda assim, temos boas construções de planos fechados e curtos que nos passam angústia, assim como uma boa cena de um ponto de vista de um pássaro no céu, na cena em que um posto de gasolina explode, nos dando a noção do caos.
Os Pássaros é uma das obras mais emblemáticas de Hitchcock. Um terror surreal construído nos mínimos detalhes, com um elenco bem afinado, destaque para a sempre ótima Jessica Tandy, como a mãe de Mitch, e uma tensão crescente. Uma prova de que uma história boba pode ser muito bem conduzida nas mãos de um hábil diretor.
Os Pássaros (The Birds, 1963 / EUA)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Evan Hunter
Com: Rod Taylor, Tippi Hedren, Suzanne Pleshette, Jessica Tandy, Veronica Cartwright
Duração: 119 min.
Os Pássaros é o filme onde Hitchcock flerta com o surreal, construindo simbologias diversas em interpretações que chegam até a uma possível crítica ao comunismo. E talvez essa seja a parte mais divertida do filme, não há uma explicação explícita para o ataque. Até porque pássaros não falam. Revolta pelos maus tratos? Resolveram tomar a ilha para si? O fato é que o tom apocalíptico pegou as plateias da época, criando um terror impactante que precisava superar o sucesso do inovador Psicose.
A trama é simples, a bela, rica e fútil Melanie Daniels, vivida por Tippi Hedren, conhece o advogado Mitch Brenner em um loja de pássaros. Uma conversa fútil, repleta de jogos, instiga a ambos e ela resolve viajar até Bodega Bay, onde ele passa os fins de semana, para lhe presentear com um casal de periquitos (lovebirds). Lá, ela vai ficando até começar os ataques das aves.
A forma como Hitchcock constrói o foco nos pássaros durante todo o filme é um dos pontos altos da obra. Desde o princípio, com a loja de pássaros. Na estrada, temos planos detalhes dos periquitos na gaiola acompanhando as curvas da estrada. Na cena da travessia de barco, quando Melanie é atacada pela primeira vez, vemos também a gaivota se aproximando, preparando o golpe. Mas, nenhuma cena é tão emblemática quanto a reunião de corvos na frente da escola. A cada corte e retorno para o plano de Melanie encostada na cerca, vamos vendo mais e mais corvos se reunindo.
O som também é muito bem trabalhado. Na cena citada da escola, por exemplo, vemos essa reunião progressiva ao som das crianças em coral. O contraste da tensão com a inocência de suas vozes felizes cria um clima ainda mais interessante e angustiante. Já a cena em que ela retorna de barco, antes do ataque, não possui nenhum som, criando um clima ainda mais tenso. Porém, o momento em que o som é mais impactante é quando Mitch, sua mãe Lydia, Melanie e a pequena Cathy estão "presos" em casa e começa-se a ouvir o barulho dos pássaros do lado de fora.
O terror construído apenas com o som e o desespero dos personagens é o momento mais tenso da trama, provocando medo genuíno. Há o desespero do som que nos dá a ideia de uma quantidade imensa, há a iminência do ataque, há a falta de espaço de fuga. Tudo construído apenas com o som das asas, dos piados e do bico batendo nas portas. Essa tensão acaba sendo mais eficiente que o próprio ataque dos pássaros em outros momentos, que causa mais horror do que cria medo.
Isso sem falar na carência de recursos tecnológicos para construir melhor esses ataques. O chroma key da época se mostra aos olhos de hoje bastante ineficiente, deixando clara a montagem e tirando parte do impacto dos ataques. Em poucos momentos, Hitchcock utilizou pássaros próximos aos atores, como na cena do ataque final a Melanie que levou a atriz Tippi Hedren ao hospital, por ele não ter cortado a cena quando o adestrador mandou. Mas, ainda assim, temos boas construções de planos fechados e curtos que nos passam angústia, assim como uma boa cena de um ponto de vista de um pássaro no céu, na cena em que um posto de gasolina explode, nos dando a noção do caos.
Os Pássaros é uma das obras mais emblemáticas de Hitchcock. Um terror surreal construído nos mínimos detalhes, com um elenco bem afinado, destaque para a sempre ótima Jessica Tandy, como a mãe de Mitch, e uma tensão crescente. Uma prova de que uma história boba pode ser muito bem conduzida nas mãos de um hábil diretor.
Os Pássaros (The Birds, 1963 / EUA)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Evan Hunter
Com: Rod Taylor, Tippi Hedren, Suzanne Pleshette, Jessica Tandy, Veronica Cartwright
Duração: 119 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Pássaros
2013-11-07T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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