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Psicopata Americano

Baseado no livro de Bret Easton Ellis, Psicopata Americano é um filme perturbador. Não apenas por desnudar um comportamento cada vez mais comum na classe alta: o egocentrismo exacerbado. Como por construir tudo com uma ironia e sarcasmo tal que nos faz quase rir diante de situações tão absurdas, principalmente na parte final.

Patrick Bateman é um típico yuppie. Empresário de sucesso de Walt Street, bonito, atraente, com um belo apartamento e uma ótima situação financeira. Porém, assim como muitos dos americanos dos anos 80 lhe falta um sentido para a vida. Bateman preenche esse vazio com um impulso bastante estranho, no entanto: matando pessoas.

O que chama a atenção na construção do personagem é que ele não parece exatamente um psicopata como sugere o título. Um ser humano assim é desprovido de emoções e age de uma maneira bastante racional e calculada. Bateman não parece ser assim, suas mortes são construídas com uma espécie de acesso de raiva sempre que alguém aparece com algo superior a ele. Mesmo que essa superioridade seja exposta em um simples cartão de visitas mais bonito.

Aliás, a cena da apresentação dos cartões de visita são um show à parte. Como cavaleiros em um duelo, eles vão sacando os cartões na mesa. É interessante observar os detalhes dos gestos. Tirando o porta-cartões do paletó com um gesto rápido. Sacando o cartão, jogando-o na mesa, a troca de olhares observando cada um deles. Os planos detalhes nos cartões. Há ainda um certo eco nessa cena da cena inicial onde todos sacam um cartão de crédito da bandeira American Express para pagar a conta de "apenas" $ 570,00.

Além de agir por acessos de raiva, Patrick Bateman também sofre de TOC, transtorno obsessivo compulsivo. A sua necessidade de manter tudo em ordem chama a atenção, a ponto de ter quase um colapso porque a secretária iria colocar a colher de sorvete em cima da mesa. Seu descontrole é crescente e visível em toda a trajetória da trama que culmina na exagerada parte final.

É interessante, no entanto, a forma como tudo vai sendo construído de uma maneira quase onírica. Ainda que os crimes nos pareçam bastante reais, com detalhes expostos em tela, tudo parece incrível demais. Longe de uma realidade, que ainda de aparências, nos traz algum senso de exposição. Vide a cena da serra elétrica no corredor do apartamento.

Mas, o que chama a atenção mesmo no filme é Christian Bale. A interpretação do ator merece aplausos em todos os níveis. Desde a forma fria com que nos apresenta a rotina do seu personagem, passando pelos acessos de raiva, os desconfortos com o TOC, ou mesmo o narcisismo extremo na cena em que faz sexo olhando-se no espelho. Isso sem falar no descontrole de algumas cenas.

Psicopata Americano é um filme incômodo. Quase risível para alguns, Christian Bale declarou que sua mãe riu a sessão inteira. E talvez, por isso, tão assustador. Porque por mais irreal e distante que o personagem pareça de nossa realidade, é possível construir paralelos, mesmo que simbólicos. Como um desejo incontrolável de esganar um desafeto, ou um xingamento excessivo no trânsito, por exemplo. Um filme que nos faz pensar.


Psicopata Americano (American Psycho, 2000 / EUA)
Direção: Mary Harron
Roteiro: Mary Harron e Guinevere Turner
Com: Christian Bale, Justin Theroux, Josh Lucas, Willem Dafoe
Duração: 102 min.

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