Um Corpo Que Cai
Considerado por muitos a obra-prima de Hitchcock, Um Corpo que Cai tem mesmo muitas qualidades. A forma como o diretor procura imergir o público na trama através das imagens é tanta que chegou a testar, junto a Irmin Roberts, um novo movimento de câmera, que ficou conhecido como Vertigo.
Vertigo, ou vertigem em português, seria exatamente aquela sensação de deslocamento no espaço ao experimentar locais altos, que pode dar tontura em pessoas que sofrem de acrofobia. O que o "efeito vertigo" fez foi afastar a câmera no movimento dolly-out, enquanto aproximava a imagem através do zoom in. Essa dicotomia na direção dos dois movimentos deu a sensação de deslocamento do fundo, simulando a vertigem. Em três momentos do filme, é possível ver esse efeito.
Por isso, o nome do filme Vertigo é muito mais condizente que Um Corpo que Cai, ainda que corpos caiam durante a trama. Mas, pelo menos, é melhor que o título em Portugal, A Mulher que Viveu Duas Vezes. Falo isso, porque Vertigo se cola no protagonista John 'Scottie' Ferguson (James Stewart) e não em Madeleine Elster (Kim Novak), muito menos em Judy Barton, que só "conhecemos" na parte final do filme.
Scottie é um detetive policial que tem que se aposentar compulsoriamente devido a sua doença, acrofobia, que o fez falhar em campo. Apesar disso, um antigo amigo lhe pede um favor, aceitar seguir e investigar sua esposa, Madeleine, que está tendo um comportamento estranho, vagando todos os dias pela cidade. Ele acredita que ela esteja possuída pelo fantasma da bisavó que cometera suicídio com a mesma idade que Madeleine tem hoje.
A forma como somos apresentados ao caso e vamos sendo envolvidos com a história apresentada é bem feita. Mas, ali, os olhos atentos já começam a perceber as pistas da verdadeira trama por trás de tudo. E é interessante como até aquilo que poderia soar forçado, como ela não perceber que estava sendo seguida por ele, faz todo o sentido no final. Hitchcock nunca gostou de enganar o público. Pelo contrário, preferia revelar os segredos logo no início e puxar a plateia como cúmplice daquilo, envolvendo-a e deixando-a angustiada com os desdobramentos. Isso é que ele considerava um suspense. Psicose é um dos poucos filmes onde a revelação só vem no final.
No caso de Vertigo há uma mistura dos dois programas de efeito. Durante a primeira parte do filme, estamos como Scottie sendo levados, não entendendo o que está por trás. Depois da virada, nos é dada a resposta que o protagonista só saberá no final, e acompanhamos com atenção onde tudo aquilo irá resultar. Mas, antes de nos revelar a verdade, Hitchcock ainda brinca com a ilusão de ótica, mostrando Scottie obcecado por encontrar Madeleine em qualquer mulher que vê na rua. Sempre vemos primeiro a visão do personagem, visualizando a mulher amada, para só depois revelar quem está ali de fato.
Não concordo que esta seja a obra-prima de Hitchcock, nem mesmo o melhor filme de todos os tempos, como elegeu a revista Sight and Sound ano passado. De qualquer maneira, não se pode negar que temos aqui um grande filme, muito bem planejado em seus detalhes, construindo uma imersão fílmica inesquecível. Daqueles filmes que rever traz sempre uma descoberta a mais.
Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958 / EUA)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alec Coppel e Samuel A. Taylor
Com: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore
Duração: 128 min.
Vertigo, ou vertigem em português, seria exatamente aquela sensação de deslocamento no espaço ao experimentar locais altos, que pode dar tontura em pessoas que sofrem de acrofobia. O que o "efeito vertigo" fez foi afastar a câmera no movimento dolly-out, enquanto aproximava a imagem através do zoom in. Essa dicotomia na direção dos dois movimentos deu a sensação de deslocamento do fundo, simulando a vertigem. Em três momentos do filme, é possível ver esse efeito.
Por isso, o nome do filme Vertigo é muito mais condizente que Um Corpo que Cai, ainda que corpos caiam durante a trama. Mas, pelo menos, é melhor que o título em Portugal, A Mulher que Viveu Duas Vezes. Falo isso, porque Vertigo se cola no protagonista John 'Scottie' Ferguson (James Stewart) e não em Madeleine Elster (Kim Novak), muito menos em Judy Barton, que só "conhecemos" na parte final do filme.
Scottie é um detetive policial que tem que se aposentar compulsoriamente devido a sua doença, acrofobia, que o fez falhar em campo. Apesar disso, um antigo amigo lhe pede um favor, aceitar seguir e investigar sua esposa, Madeleine, que está tendo um comportamento estranho, vagando todos os dias pela cidade. Ele acredita que ela esteja possuída pelo fantasma da bisavó que cometera suicídio com a mesma idade que Madeleine tem hoje.
A forma como somos apresentados ao caso e vamos sendo envolvidos com a história apresentada é bem feita. Mas, ali, os olhos atentos já começam a perceber as pistas da verdadeira trama por trás de tudo. E é interessante como até aquilo que poderia soar forçado, como ela não perceber que estava sendo seguida por ele, faz todo o sentido no final. Hitchcock nunca gostou de enganar o público. Pelo contrário, preferia revelar os segredos logo no início e puxar a plateia como cúmplice daquilo, envolvendo-a e deixando-a angustiada com os desdobramentos. Isso é que ele considerava um suspense. Psicose é um dos poucos filmes onde a revelação só vem no final.
No caso de Vertigo há uma mistura dos dois programas de efeito. Durante a primeira parte do filme, estamos como Scottie sendo levados, não entendendo o que está por trás. Depois da virada, nos é dada a resposta que o protagonista só saberá no final, e acompanhamos com atenção onde tudo aquilo irá resultar. Mas, antes de nos revelar a verdade, Hitchcock ainda brinca com a ilusão de ótica, mostrando Scottie obcecado por encontrar Madeleine em qualquer mulher que vê na rua. Sempre vemos primeiro a visão do personagem, visualizando a mulher amada, para só depois revelar quem está ali de fato.
Não concordo que esta seja a obra-prima de Hitchcock, nem mesmo o melhor filme de todos os tempos, como elegeu a revista Sight and Sound ano passado. De qualquer maneira, não se pode negar que temos aqui um grande filme, muito bem planejado em seus detalhes, construindo uma imersão fílmica inesquecível. Daqueles filmes que rever traz sempre uma descoberta a mais.
Um Corpo Que Cai (Vertigo, 1958 / EUA)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alec Coppel e Samuel A. Taylor
Com: James Stewart, Kim Novak, Barbara Bel Geddes, Tom Helmore
Duração: 128 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Um Corpo Que Cai
2013-11-10T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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