Em alguns pontos, Crô é superior a Giovanni Improtta. Primeiro, o personagem é melhor, mais carismático e também está mais fresco na memória do público. Depois, o filme tem um humor mais próximo do que foi visto na própria telenovela, talvez até pelo fato do roteirista aqui ser o próprio Aguinaldo Silva. Por fim, a obra como um todo tem um tom farsesco que justifica muitas das bobagens vistas, e até diverte. Afinal, ao ver um garotinho correndo pela casa com a cabeça de Marcelo Serrado em um efeito especial bem precário, temos a certeza de que é um filme que não se leva a sério.
Exatamente por isso, destoa toda a trama do núcleo encabeçado por Carolina Ferraz e Milhem Cortaz. Tentar falar de um tema sério como exploração de trabalho escravo, abuso de menor, em meio a uma baderna de um mordomo homossexual rico e entediado que está a procura de uma nova patroa não combina. A trama ficaria vazia se fosse só a busca de Crô? Talvez, mas, aí, poderiam explorar melhor a questão dele com a mãe, o preconceito do personagem de Alexandre Nero que não consegue se assumir gay, e outras brincadeiras dentro da mansão.
Marcelo Serrado retorna ao seu papel de maior destaque e consegue manter o bom nível de piadas. Mesmo quando parece um minimi esquisito quando pequeno, não deixa de ser engraçado. E, por incrível que pareça, a participação de Ivete Sangalo acaba sendo a melhor do filme. A brincadeira dela como a mãe do pequeno Crô soa natural e divertida. E ela consegue nos passar essa "rainha" do garoto que coloca em sua cabeça todas as certezas que ele terá no futuro.
Já Ana Maria Braga soa artificial entrevistando o Crô em sua mansão, mas segue o fluxo. Assim como Gaby Amarantos, que exagera em algumas piadas, mas mantém o nível geral do filme. Os outros dois personagens que migram da telenovela, interpretados por Alexandre Nero e Katia Moraes, também ajudam a compor o personagem Crô, dando uma liga ainda maior ao spin-off, citando inclusive a personagem de Christiane Torloni, antiga patroa do mordomo que lhe deixou toda a fortuna.
O ponto mais negativo é mesmo o núcleo da confecção clandestina de roupas. Há um exagero no tom, também, um certo humor pastelão, a brincadeira com o dramalhão mexicano. Mas, tudo fica over demais, ainda mais diante de uma tema tão sério. E como boa parte da trama é focada nesse núcleo, o filme inteiro acaba perdendo a mão.
Crô: O Filme não é para se levar a sério. É comédia popular baseada em um personagem que ganhou força em uma telenovela e conseguiu um mote para justificar sua aventura solo nos cinemas. Uma pena que o roteiro não tenha explorado melhor esse viés, tentando ir além do que poderia.
Crô: O Filme (Crô, 2013 / Brasil)
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Aguinaldo Silva
Com: Marcelo Serrado, Alexandre Nero, Katia Moraes, Carolina Ferraz, Milhem Cortaz, Ivete Sangalo, Carlos Machado, Ana Maria Braga e Gaby Amarantos
Duração: 100 min.