Roteiristas e Produtores em busca de reconhecimento
No último sábado, Salvador abrigou o I Encontro Baiano de Roteiristas e Produtores. O evento idealizado pelo roteirista Gustavo Erick a partir da necessidade de discutir as possibilidades, a carreira, os caminhos que essas duas funções tem no Brasil. Principalmente por causa de nossa tradição, fora da indústria, em que o diretor é a alma e a injeção de qualquer obra audiovisual.
O foco principal do evento, no entanto, não foi o cinema. Televisão, internet e novas mídias foram os assuntos da vez, animados principalmente pela lei 12.485 que obriga todas as televisões por assinatura do país a terem uma cota mínima de programação nacional. Todos estão se mexendo em busca das novas oportunidades. É preciso se capacitar, se unir e começar a produzir, construindo suas próprias oportunidades. Essa foi a sensação que ficou após o evento.
A primeira mesa teve como tema WEB-SÉRIES: Roteiros e Tendências. Fui a moderadora da mesa e abri os trabalhos comentando o quão significativo era ter esse tema como abertura do evento. Afinal, anos atrás, o audiovisual era para poucos. Equipamentos caros, poucas janelas de exibição. Hoje, esse cenário mudou. Para o bem ou para o mal, qualquer um hoje pode produzir um material com um celular e publicar no Youtube, por exemplo. O que fazer para se diferenciar em meio a tantos?
Na mesa, Anderson Soares, produtor do Projeto Cine Arts, a roteirista do mesmo projeto, Eliane Vasconcelos e o produtor Raoni Oliveira, da Liga dos Baianos falaram sobre suas experiências e visões sobre o negócio possível na internet. Raoni foi bastante sensato ao destacar que tudo depende do seu objetivo e planejamento traçado para atingi-lo. A internet pode ser apenas uma vitrine para alçar outros voos, como ser contratado para algum projeto ou mesmo migrar completamente para outras mídias como a televisão. Mas, pode também ser o negócio em si, para isso, é preciso conquistar um público e ter o bom número de acessos.
A segunda mesa falou de um tema mais delicado: O roteirista independente e as atuais perspectivas profissionais na indústria do Audiovisual. Recentemente, vimos uma chuva de matérias dizendo: Faltam roteiristas. Esse foi um dos pontos levantados pelo moderador da mesa, Gustavo Erick. As duas palestrantes, Carollini Assis e Iara Syndestricker concordaram que essa não é uma verdade. Sim, hoje em dia muitos dizem que escrevem sem ter nem mesmo qualificação. Outros escrevem apenas para determinados tipos de mídias, como confessou Carollini. Mas, há também um processo complicado onde o roteirista é sempre a corda mais fraca.
O que me parece é que quando as produtoras falam "falta roteirista", elas estão apenas simplificando um processo bem mais complexo onde querem roteiristas que trabalhem no risco e já levem projetos prontos. Então, não falta roteiristas, falta roteiros que eles aprovem e só paguem quando o produto estiver produzido e gerando lucro. Não vemos produtoras contratando roteiristas para desenvolver um projeto. E isso é mesmo complicado.
A terceira mesa nos trouxe uma visão de mercado bem realista. Produzindo séries de televisão para a indústria nacional: desafios e oportunidades trouxe como palestrantes os produtores Amadeu Alban e Ducca Rios, ambos com uma vasta experiência na área, tendo inclusive uma boa visão do mercado nacional e internacional já que participaram de diversos eventos, palestras, rodada de negócios e produtores já feitos.
Também mediei essa mesa e foi o trabalho mais fácil já que ambos tinham muito a falar, compartilhar e estavam ávidos por isso. Pudemos saber um pouco mais sobre os processos práticos de busca por um objetivo a ser traçado. Amadeu nos mostrou os caminhos das pedras, principalmente focando na questão das oportunidades com os canais menores. "Devemos conhecer o canal e pensar em uma proposta que se encaixe com o perfil dela", lembrou. Já Ducca falou bastante da necessidade de se capacitar e treinar a linguagem, "apenas com quantidade vamos começar a tirar qualidade", disse.
Esta é a parte chave, não dá mesmo para sair produzindo conteúdo ficcional de qualidade sem experiência. Mas, nunca teremos experiência se não começarmos. Os Estados Unidos que estão bem à frente nesse quesito já produziram muito e continuam todo ano testando e lançando inúmeras séries até chegar às pérolas. E estamos em um momento promissor para isso. Mesmo o cinema, tão criticado pelo excesso de comédias populares está em uma boa fase. Nunca se produziu tanto audiovisual no país.
Uma dica de Amadeu ainda foi sobre as oficinas de capacitação que o Sebrae pretende produzir em 2014 em algumas cidades do país. Muitas tem ocorrido como o projeto do NetLab que escolheu projetos para orientar, ou os eventos da Globosat com Robert Mckee, que terá sua segunda edição em janeiro de 2014. Isso sem falar no Rio Content Market que é uma ótima vitrine para negócios diversos.
A quarta mesa buscou ampliar o foco para outras mídias. Mediada por Paulo Trocoli, o tema trazia Roteiros em outras plataformas – experiências em Games e Quadrinhos. Os palestrantes Marcelo Lima, roteirista de quadrinhos, e Gustavo Erick, roteirista de games, falaram sobre as semelhanças e diferenças das plataformas. É interessante que apesar da especialização e especificidades de cada meio, a "fórmula" de contar uma boa história é o que vale.
Em todas as mesas, o que ficou claro também é que no atual cenário brasileiro, produtores e roteiristas têm que ter suas funções misturadas. Não dá para simplesmente criar e esperar as coisas acontecerem. Nem dá para produzir algo que não foi bem criado, por um profissional especializado. Sonhar é importante, mas é preciso saber realizar seus sonhos. Esta é a palavra de ordem. Ir em busca da realização.
Como fomento inicial foi um ótimo evento. Muito ainda precisa ser feito. Que venham outros como esse, assim como outras oficinas, encontros, grupos, forças e ideias. Talentos estão por aí, em busca de caminhos para realizações mais consistentes.
O foco principal do evento, no entanto, não foi o cinema. Televisão, internet e novas mídias foram os assuntos da vez, animados principalmente pela lei 12.485 que obriga todas as televisões por assinatura do país a terem uma cota mínima de programação nacional. Todos estão se mexendo em busca das novas oportunidades. É preciso se capacitar, se unir e começar a produzir, construindo suas próprias oportunidades. Essa foi a sensação que ficou após o evento.
A primeira mesa teve como tema WEB-SÉRIES: Roteiros e Tendências. Fui a moderadora da mesa e abri os trabalhos comentando o quão significativo era ter esse tema como abertura do evento. Afinal, anos atrás, o audiovisual era para poucos. Equipamentos caros, poucas janelas de exibição. Hoje, esse cenário mudou. Para o bem ou para o mal, qualquer um hoje pode produzir um material com um celular e publicar no Youtube, por exemplo. O que fazer para se diferenciar em meio a tantos?
Na mesa, Anderson Soares, produtor do Projeto Cine Arts, a roteirista do mesmo projeto, Eliane Vasconcelos e o produtor Raoni Oliveira, da Liga dos Baianos falaram sobre suas experiências e visões sobre o negócio possível na internet. Raoni foi bastante sensato ao destacar que tudo depende do seu objetivo e planejamento traçado para atingi-lo. A internet pode ser apenas uma vitrine para alçar outros voos, como ser contratado para algum projeto ou mesmo migrar completamente para outras mídias como a televisão. Mas, pode também ser o negócio em si, para isso, é preciso conquistar um público e ter o bom número de acessos.
A segunda mesa falou de um tema mais delicado: O roteirista independente e as atuais perspectivas profissionais na indústria do Audiovisual. Recentemente, vimos uma chuva de matérias dizendo: Faltam roteiristas. Esse foi um dos pontos levantados pelo moderador da mesa, Gustavo Erick. As duas palestrantes, Carollini Assis e Iara Syndestricker concordaram que essa não é uma verdade. Sim, hoje em dia muitos dizem que escrevem sem ter nem mesmo qualificação. Outros escrevem apenas para determinados tipos de mídias, como confessou Carollini. Mas, há também um processo complicado onde o roteirista é sempre a corda mais fraca.
O que me parece é que quando as produtoras falam "falta roteirista", elas estão apenas simplificando um processo bem mais complexo onde querem roteiristas que trabalhem no risco e já levem projetos prontos. Então, não falta roteiristas, falta roteiros que eles aprovem e só paguem quando o produto estiver produzido e gerando lucro. Não vemos produtoras contratando roteiristas para desenvolver um projeto. E isso é mesmo complicado.
A terceira mesa nos trouxe uma visão de mercado bem realista. Produzindo séries de televisão para a indústria nacional: desafios e oportunidades trouxe como palestrantes os produtores Amadeu Alban e Ducca Rios, ambos com uma vasta experiência na área, tendo inclusive uma boa visão do mercado nacional e internacional já que participaram de diversos eventos, palestras, rodada de negócios e produtores já feitos.
Também mediei essa mesa e foi o trabalho mais fácil já que ambos tinham muito a falar, compartilhar e estavam ávidos por isso. Pudemos saber um pouco mais sobre os processos práticos de busca por um objetivo a ser traçado. Amadeu nos mostrou os caminhos das pedras, principalmente focando na questão das oportunidades com os canais menores. "Devemos conhecer o canal e pensar em uma proposta que se encaixe com o perfil dela", lembrou. Já Ducca falou bastante da necessidade de se capacitar e treinar a linguagem, "apenas com quantidade vamos começar a tirar qualidade", disse.
Esta é a parte chave, não dá mesmo para sair produzindo conteúdo ficcional de qualidade sem experiência. Mas, nunca teremos experiência se não começarmos. Os Estados Unidos que estão bem à frente nesse quesito já produziram muito e continuam todo ano testando e lançando inúmeras séries até chegar às pérolas. E estamos em um momento promissor para isso. Mesmo o cinema, tão criticado pelo excesso de comédias populares está em uma boa fase. Nunca se produziu tanto audiovisual no país.
Uma dica de Amadeu ainda foi sobre as oficinas de capacitação que o Sebrae pretende produzir em 2014 em algumas cidades do país. Muitas tem ocorrido como o projeto do NetLab que escolheu projetos para orientar, ou os eventos da Globosat com Robert Mckee, que terá sua segunda edição em janeiro de 2014. Isso sem falar no Rio Content Market que é uma ótima vitrine para negócios diversos.
A quarta mesa buscou ampliar o foco para outras mídias. Mediada por Paulo Trocoli, o tema trazia Roteiros em outras plataformas – experiências em Games e Quadrinhos. Os palestrantes Marcelo Lima, roteirista de quadrinhos, e Gustavo Erick, roteirista de games, falaram sobre as semelhanças e diferenças das plataformas. É interessante que apesar da especialização e especificidades de cada meio, a "fórmula" de contar uma boa história é o que vale.
Em todas as mesas, o que ficou claro também é que no atual cenário brasileiro, produtores e roteiristas têm que ter suas funções misturadas. Não dá para simplesmente criar e esperar as coisas acontecerem. Nem dá para produzir algo que não foi bem criado, por um profissional especializado. Sonhar é importante, mas é preciso saber realizar seus sonhos. Esta é a palavra de ordem. Ir em busca da realização.
Como fomento inicial foi um ótimo evento. Muito ainda precisa ser feito. Que venham outros como esse, assim como outras oficinas, encontros, grupos, forças e ideias. Talentos estão por aí, em busca de caminhos para realizações mais consistentes.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Roteiristas e Produtores em busca de reconhecimento
2013-12-04T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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