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V de Vingança
V de Vingança
Vândalos nas ruas, diria a imprensa e as pessoas de direita. Não por acaso, V de Vingança gerou tanta polêmica quando lançado em 2005. Baseado nos quadrinhos de Allan Moore e David Lloyd, que também geraram polêmicas: seria um incentivo ao terrorismo em um mundo que ainda vivia o fantasma do 11 de setembro.
Na trama, estamos em 2020, na Inglaterra, onde um ditador fascista de nome Adam Sutler controla a tudo e a todos. Há toque de recolher, controle do pensamento, proibição de artes e religiões. O código de conduta da população é ditado pela televisão e vigiado de perto pelos homens de Sutler. Porém, em um 05 de novembro surge um homem mascarado, que se intitula V, usando uma máscara de Guy Fawkes e convocando a população a se juntar a eles.
V é um homem misterioso, mas que simboliza uma ideia, que é maior que qualquer homem: a liberdade. Sua máscara remete a outro polêmico "terrorista" inglês, Guy Fawkes que tentou explodir o parlamento inglês em 1605. Católico, ele participou da conspiração para destituir o rei protestante James I, mas foi pego antes. É interessante como a obra faz questão de nos mostrar sua história antes, para que façamos o paralelo exato com V.
V, no entanto, é mais do que um justiceiro, é movido por uma vingança quase cega adquirida a partir de um experimento que vai sendo revelado aos poucos. Neste ponto, reside um certo perigo de suas ideias. Sua anarquia não parece ser fruto de algo além do pessoal. Ainda que sua mansão e esconderijo seja repleta de livros e obras de arte proibidas à sociedade atual. É quase um egoísta falando "vão pagar pelo que me fizeram" em vez de "vamos lutar por uma sociedade livre".
Frio, muitas vezes, racional ao extremo, V é capaz de algumas atitudes bastante questionáveis como um certo "experimento" que realiza em determinado momento do filme. Ao mesmo tempo, consegue se aproximar da jovem Evey, vivida por Natalie Portman, de uma maneira tão intensa que nos lembra que ainda existe um homem por trás daquela máscara.
"Ideias são à prova de balas" ele afirma. E é verdade. Mas, até que ponto as ideias de V realmente permanecem após aquele show pirotécnico? James McTeigue é bastante feliz ao construir suas cenas expondo sutilezas de diversos pontos de vista. Tem até um mascarado aproveitando a baderna para roubar, como muitos "manifestantes" que vemos por aí. Apesar de nos dar a inspiração, ele também mostra o lado frágil do personagem e suas atitudes, não expondo um único caminho para a luta.
Hugo Weaving está muito bem no papel, compondo gestuais e na sua interpretação vocal, já que nunca vemos o seu rosto. Isso é ainda mais perturbador, nunca sabemos que V está triste, feliz, irritado, sorrido ou chorando, vemos apenas aquela máscara estranha sorrindo para nós. Natalie Portman também consegue defender bem sua personagem, em todas as fases, principalmente quando passa pela prova maior. Já John Hurt passa por um momento curioso de sua carreira. Em 1984 ele deu vida a Winston Smith, o operário oprimido da obra de George Orwell. Aqui, ele é o próprio ditador, ou Big Brother, como se completasse um ciclo.
Aliás, as semelhanças da obra de David Lloyd com a sociedade imaginada por George Orwell são muitas. O controle total de uma sociedade guiada pelo medo e pela ignorância da verdade dos fatos. "O povo não deve temer o seu governo", expõe V, dando um pouco do texto que inspira todo ser humano que luta contra o totalitarismo. A questão é como lutar? Há mesmo o paradoxo de que apenas a violência traz a paz?
São questões que o filme não responde, nem tem a pretensão de o fazer. V de Vingança é um filme pop, que trata de assuntos políticos e filosóficos quase como um show performático. O filme é visualmente bem construído, as cenas de luta são orquestradas, a parte final é envolvente, mas no final fica a dúvida do que será daquela sociedade a partir de então. De fato aprendemos algo? Usar uma máscara e aderir à sociedade Anonymous não traz de fato nenhuma mudança se não houver um aprendizado e planejamento em relação ao futuro.
V de Vingança (V for Vendetta, 2005 / EUA)
Direção: James McTeigue
Roteiro: Andy Wachowski, Lana Wachowski
Com: Hugo Weaving, Natalie Portman, Rupert Graves, John Hurt
Duração: 132 min.
Na trama, estamos em 2020, na Inglaterra, onde um ditador fascista de nome Adam Sutler controla a tudo e a todos. Há toque de recolher, controle do pensamento, proibição de artes e religiões. O código de conduta da população é ditado pela televisão e vigiado de perto pelos homens de Sutler. Porém, em um 05 de novembro surge um homem mascarado, que se intitula V, usando uma máscara de Guy Fawkes e convocando a população a se juntar a eles.
V é um homem misterioso, mas que simboliza uma ideia, que é maior que qualquer homem: a liberdade. Sua máscara remete a outro polêmico "terrorista" inglês, Guy Fawkes que tentou explodir o parlamento inglês em 1605. Católico, ele participou da conspiração para destituir o rei protestante James I, mas foi pego antes. É interessante como a obra faz questão de nos mostrar sua história antes, para que façamos o paralelo exato com V.
V, no entanto, é mais do que um justiceiro, é movido por uma vingança quase cega adquirida a partir de um experimento que vai sendo revelado aos poucos. Neste ponto, reside um certo perigo de suas ideias. Sua anarquia não parece ser fruto de algo além do pessoal. Ainda que sua mansão e esconderijo seja repleta de livros e obras de arte proibidas à sociedade atual. É quase um egoísta falando "vão pagar pelo que me fizeram" em vez de "vamos lutar por uma sociedade livre".
Frio, muitas vezes, racional ao extremo, V é capaz de algumas atitudes bastante questionáveis como um certo "experimento" que realiza em determinado momento do filme. Ao mesmo tempo, consegue se aproximar da jovem Evey, vivida por Natalie Portman, de uma maneira tão intensa que nos lembra que ainda existe um homem por trás daquela máscara.
"Ideias são à prova de balas" ele afirma. E é verdade. Mas, até que ponto as ideias de V realmente permanecem após aquele show pirotécnico? James McTeigue é bastante feliz ao construir suas cenas expondo sutilezas de diversos pontos de vista. Tem até um mascarado aproveitando a baderna para roubar, como muitos "manifestantes" que vemos por aí. Apesar de nos dar a inspiração, ele também mostra o lado frágil do personagem e suas atitudes, não expondo um único caminho para a luta.
Hugo Weaving está muito bem no papel, compondo gestuais e na sua interpretação vocal, já que nunca vemos o seu rosto. Isso é ainda mais perturbador, nunca sabemos que V está triste, feliz, irritado, sorrido ou chorando, vemos apenas aquela máscara estranha sorrindo para nós. Natalie Portman também consegue defender bem sua personagem, em todas as fases, principalmente quando passa pela prova maior. Já John Hurt passa por um momento curioso de sua carreira. Em 1984 ele deu vida a Winston Smith, o operário oprimido da obra de George Orwell. Aqui, ele é o próprio ditador, ou Big Brother, como se completasse um ciclo.
Aliás, as semelhanças da obra de David Lloyd com a sociedade imaginada por George Orwell são muitas. O controle total de uma sociedade guiada pelo medo e pela ignorância da verdade dos fatos. "O povo não deve temer o seu governo", expõe V, dando um pouco do texto que inspira todo ser humano que luta contra o totalitarismo. A questão é como lutar? Há mesmo o paradoxo de que apenas a violência traz a paz?
São questões que o filme não responde, nem tem a pretensão de o fazer. V de Vingança é um filme pop, que trata de assuntos políticos e filosóficos quase como um show performático. O filme é visualmente bem construído, as cenas de luta são orquestradas, a parte final é envolvente, mas no final fica a dúvida do que será daquela sociedade a partir de então. De fato aprendemos algo? Usar uma máscara e aderir à sociedade Anonymous não traz de fato nenhuma mudança se não houver um aprendizado e planejamento em relação ao futuro.
V de Vingança (V for Vendetta, 2005 / EUA)
Direção: James McTeigue
Roteiro: Andy Wachowski, Lana Wachowski
Com: Hugo Weaving, Natalie Portman, Rupert Graves, John Hurt
Duração: 132 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
V de Vingança
2013-12-03T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
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