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Fruitvale Station: A Última Parada
Fruitvale Station: A Última Parada
Daquelas coisas infelizes que o Brasil adora, acrescentar o sub-título A Última Parada só me faz lembrar do Ônibus 174. E o filme até começa com um recurso usado por Padilha no documentário sobre a vida de Sandro: câmeras mostrando e ao mesmo tempo não mostrando o que aconteceu naquela estação. Vemos um tumulto e, de repente, ouvimos um tiro. Pronto, estamos fisgados e curiosos. Assim, propensos a acompanhar a história de Oscar.
Neste ponto, recordo de outro filme brasileiro: Jean Charles. A escolha narrativa de Ryan Coogler é exatamente a mesma de Henrique Goldman e Marcelo Starobinas. E faz algum eco também com o filme de Bruno Barreto que dirigiu a ficção baseada no Ônibus 174. Ou seja, todos eles procuram nos mostrar a pessoa por trás da tragédia. Porém, enquanto Barreto nos mostrava o lado bom e mau de Sandro. Jean Charles e Oscar, o protagonista de Fruitvale Station, são quase endeusados.
Oscar é um cara bacana, apesar de já ter se envolvido com drogas e ter parado na prisão por tráfico. Tem um bom coração, é um filho exemplar, um irmão cuidadoso, um namorado fiel e um pai amoroso. Com os amigos, ele é o grande brother. Está sempre ajudando, mesmo pessoas completamente desconhecidas, como uma moça no mercado que não sabe que peixe comprar. Ou uma mulher grávida querendo ir ao banheiro na noite de ano novo. Ele perdeu o emprego e passa por dificuldades, mas tem apenas 22 anos e uma vida pela frente.
Não que seja errado mostrar quem foi Oscar. E, sem dúvidas, ele deve ter sido um cara legal. Mas, o filme parece pesar as tintas para suas qualidades, escondendo os defeitos. Uma forma de manipular nossas emoções para fiquemos completamente colados a ele e nos sintamos também atingidos pelo que está por vir. Mas, não precisava exagerar na dose da emoção. Tem até filha tendo uma espécie de premonição.
De qualquer maneira, Michael B. Jordan defende com dignidade seu papel. Oscar está vivo na tela, em seus dilemas, sua vontade de construir algo bom para sua família. O típico cara de bem que foi desviado por más escolhas e companhias, mas tem consciência disso e quer mudar. Não é fácil jogar no mar meio kilo de maconha, quando se está desempregado e devendo na praça, por exemplo.
Já o tom de Octavia Spencer como a mãe de Oscar, incomoda. Em nenhum momento, ela nos passa esse sentimento da forma como deveria. Sempre com um olhar blasé e uma expressão de irritação por estar ali em cada cena, seja na cadeia, em casa ou no hospital. Só tem um momento que ela se desarma e nos passa um sentimento verdadeiro, mas é pouco para uma atriz que já tem um Oscar nas costas e um papel que tinha tudo para mostrar a que veio. Os demais atores cumprem seus papéis.
Outra questão importante no acontecimento e na trama é que a data também traz suas peculiaridades. Virada de ano, quando todos estão propícios a pensar no futuro, fazer planos e promessas. O sentimento de "agora vai" nos deixa vulneráveis e isso acaba sendo mais uma arma para a revolta posterior. Afinal, queremos concordar que a vida vale a pena. Queremos acreditar que a polícia está ali para proteger cidadãos e não expô-los ao perigo. São homens treinados, deviam saber como agir.
No final, Fruitvale Station: A Última Parada é um filme denúncia. Ryan Coogler, em seu trabalho de estreia quer expor uma situação desumana para que todos tenham conhecimento, se revoltem e também lutem por justiça. Ele faz a cartilha direitinho começando com um detalhe que aguça nossa curiosidade, apresentando o personagem, nos fazendo gostar dele, para só então mostrar o acontecido. Filme feito quase sob encomenda de manuais de roteiro. Pena que caia em algumas armadilhas na hora de utilizar o melodrama para dar o tom da história.
Fruitvale Station: A Última Parada (Fruitvale Station, 2013 / EUA)
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Com: Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer
Duração: 85 min.
Neste ponto, recordo de outro filme brasileiro: Jean Charles. A escolha narrativa de Ryan Coogler é exatamente a mesma de Henrique Goldman e Marcelo Starobinas. E faz algum eco também com o filme de Bruno Barreto que dirigiu a ficção baseada no Ônibus 174. Ou seja, todos eles procuram nos mostrar a pessoa por trás da tragédia. Porém, enquanto Barreto nos mostrava o lado bom e mau de Sandro. Jean Charles e Oscar, o protagonista de Fruitvale Station, são quase endeusados.
Oscar é um cara bacana, apesar de já ter se envolvido com drogas e ter parado na prisão por tráfico. Tem um bom coração, é um filho exemplar, um irmão cuidadoso, um namorado fiel e um pai amoroso. Com os amigos, ele é o grande brother. Está sempre ajudando, mesmo pessoas completamente desconhecidas, como uma moça no mercado que não sabe que peixe comprar. Ou uma mulher grávida querendo ir ao banheiro na noite de ano novo. Ele perdeu o emprego e passa por dificuldades, mas tem apenas 22 anos e uma vida pela frente.
Não que seja errado mostrar quem foi Oscar. E, sem dúvidas, ele deve ter sido um cara legal. Mas, o filme parece pesar as tintas para suas qualidades, escondendo os defeitos. Uma forma de manipular nossas emoções para fiquemos completamente colados a ele e nos sintamos também atingidos pelo que está por vir. Mas, não precisava exagerar na dose da emoção. Tem até filha tendo uma espécie de premonição.
De qualquer maneira, Michael B. Jordan defende com dignidade seu papel. Oscar está vivo na tela, em seus dilemas, sua vontade de construir algo bom para sua família. O típico cara de bem que foi desviado por más escolhas e companhias, mas tem consciência disso e quer mudar. Não é fácil jogar no mar meio kilo de maconha, quando se está desempregado e devendo na praça, por exemplo.
Já o tom de Octavia Spencer como a mãe de Oscar, incomoda. Em nenhum momento, ela nos passa esse sentimento da forma como deveria. Sempre com um olhar blasé e uma expressão de irritação por estar ali em cada cena, seja na cadeia, em casa ou no hospital. Só tem um momento que ela se desarma e nos passa um sentimento verdadeiro, mas é pouco para uma atriz que já tem um Oscar nas costas e um papel que tinha tudo para mostrar a que veio. Os demais atores cumprem seus papéis.
Outra questão importante no acontecimento e na trama é que a data também traz suas peculiaridades. Virada de ano, quando todos estão propícios a pensar no futuro, fazer planos e promessas. O sentimento de "agora vai" nos deixa vulneráveis e isso acaba sendo mais uma arma para a revolta posterior. Afinal, queremos concordar que a vida vale a pena. Queremos acreditar que a polícia está ali para proteger cidadãos e não expô-los ao perigo. São homens treinados, deviam saber como agir.
No final, Fruitvale Station: A Última Parada é um filme denúncia. Ryan Coogler, em seu trabalho de estreia quer expor uma situação desumana para que todos tenham conhecimento, se revoltem e também lutem por justiça. Ele faz a cartilha direitinho começando com um detalhe que aguça nossa curiosidade, apresentando o personagem, nos fazendo gostar dele, para só então mostrar o acontecido. Filme feito quase sob encomenda de manuais de roteiro. Pena que caia em algumas armadilhas na hora de utilizar o melodrama para dar o tom da história.
Fruitvale Station: A Última Parada (Fruitvale Station, 2013 / EUA)
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler
Com: Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer
Duração: 85 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Fruitvale Station: A Última Parada
2014-02-01T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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