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O Mordomo da Casa Branca
O Mordomo da Casa Branca
A história já seria fantástica, um homem que passou a sua vida a serviço dos outros e foi mordomo de sete presidentes dos Estados Unidos durante 30 anos de trabalho. Mas, Lee Daniels e o roteirista Danny Strong quiseram ir além e criar em cima da realidade, deixando tudo excessivamente romântico.
Cecil Gaines não é ingênuo, mas foi treinado para obedecer sem questionar, e não prestar atenção em política. A única vez em que se revoltou contra a sua condição, quando viu sua mãe ser abusada, ficando louca, seu pai foi morto. Desde então, ele simplesmente segue o que os brancos o ensinaram, e vai ter um embate com seu filho mais velho, que não aceita tal situação de submissão.
Através do olhar de pai e filho, Lee Daniels tenta reconstruir um olhar de luta racial no país. Temos símbolos como Martin Luther King, Os Panteras Negras, as lutas contra o Apartheid na África do Sul, das pequenas às grandes manifestações. Vemos a luta por dividir os mesmos espaços, o ônibus da liberdade, a represália da Ku Klux Klan, a luta pelo direito do voto, entre outras.
Como um mordomo da Casa Branca, Cecil Gaines viu e passou por muita coisa dos bastidores do país. Mas, como seus superiores já o alertavam, não era para se meter em política. Então, todos os fatos históricos que não envolvem a luta dos direitos raciais, são panos de fundo bem leves na trama, como toda a trajetória de Nixon, desde que tentou panfletar quando ainda era vice-presidente, até quando foi deposto pelo escândalo de Watergate.
Porém, quando se trata de questões raciais, as soluções parecem simplistas demais. Como quando mostra Kennedy sendo morto logo após um discurso inflamado em favor dos direitos dos negros de ir e vir, inclusive na questão das escolas mistas. Ou quando Reagan pergunta a Gaines sobre seus filhos e logo depois o vemos discursando sobre as lutas. Pode ser a visão do personagem, verdade, mas a forma como aparece no filme parece forçar um tema.
De qualquer maneira, a trama traz seus bons momentos, com em uma montagem paralela mostrando a rotina da Casa Branca ao mesmo tempo em que mostra a ação dos jovens que protestam nos locais, em busca de direitos iguais. Começa com a frase: "É hora do show!" dita por Luther King se referindo às ações. E mostra os mordomos negros colocando as luvas brancas para começar a servir. Toda a construção em paralelo traz comparações e novos significados para as duas situações, sendo um dos melhores momentos do filme.
Forest Whitaker nos apresenta uma interpretação bastante sensível de Cecil Gaines, dando conta da complexidade desse homem que viu tanta coisa, passou por diversas humilhações e aprendizados, mas nunca perdeu a dignidade. Isso o filme é feliz em mostrar, não são apenas os mártires, os que brigaram contra o sistema que merecem a nossa admiração, mas também os que suportaram quietos, os que trabalharam em silêncio.
O seu olhar de felicidade ao ver a eleição de Barack Obama emociona, assim como outro momento que ele tem com o filho. Mas, fica também a questão de se não é mais uma visão simplista. Será que o racismo acabou na América só porque o seu presidente é negro? Ou ele continua lá, só que velado, como um oponente ainda mais perigoso?
É louvável que Lee Daniels brigue por filmes que levantam bandeiras em causas próprias, pois elas também são das minorias. Este filme, então, veio com bastante símbolos e lutas, tanto que Oprah Winfrey e outros se associaram ao filme. Sobre ela, por sinal, não vi nada demais em sua interpretação. Mas, sobre racismo, eu tendo a concordar com Morgan Freeman que respondeu a um repórter que o racismo só termina quando não precisarmos mais falar dele. "Pare de me chamar de uma pessoa negra. Eu te conheço como Mike Wallace. Você me conhece por Morgan Freeman".
O Mordomo da Casa Branca (The Butler, 2013 / EUA)
Direção: Lee Daniels
Roteiro: Danny Strong
Com: Forest Whitaker, Oprah Winfrey, John Cusack, Terrence Howard, Cuba Gooding Jr., Lenny Kravitz, Robin Williams, Jane Fonda, Alan Rickman, Mariah Carey
Duração: 132 min.
Cecil Gaines não é ingênuo, mas foi treinado para obedecer sem questionar, e não prestar atenção em política. A única vez em que se revoltou contra a sua condição, quando viu sua mãe ser abusada, ficando louca, seu pai foi morto. Desde então, ele simplesmente segue o que os brancos o ensinaram, e vai ter um embate com seu filho mais velho, que não aceita tal situação de submissão.
Através do olhar de pai e filho, Lee Daniels tenta reconstruir um olhar de luta racial no país. Temos símbolos como Martin Luther King, Os Panteras Negras, as lutas contra o Apartheid na África do Sul, das pequenas às grandes manifestações. Vemos a luta por dividir os mesmos espaços, o ônibus da liberdade, a represália da Ku Klux Klan, a luta pelo direito do voto, entre outras.
Como um mordomo da Casa Branca, Cecil Gaines viu e passou por muita coisa dos bastidores do país. Mas, como seus superiores já o alertavam, não era para se meter em política. Então, todos os fatos históricos que não envolvem a luta dos direitos raciais, são panos de fundo bem leves na trama, como toda a trajetória de Nixon, desde que tentou panfletar quando ainda era vice-presidente, até quando foi deposto pelo escândalo de Watergate.
Porém, quando se trata de questões raciais, as soluções parecem simplistas demais. Como quando mostra Kennedy sendo morto logo após um discurso inflamado em favor dos direitos dos negros de ir e vir, inclusive na questão das escolas mistas. Ou quando Reagan pergunta a Gaines sobre seus filhos e logo depois o vemos discursando sobre as lutas. Pode ser a visão do personagem, verdade, mas a forma como aparece no filme parece forçar um tema.
De qualquer maneira, a trama traz seus bons momentos, com em uma montagem paralela mostrando a rotina da Casa Branca ao mesmo tempo em que mostra a ação dos jovens que protestam nos locais, em busca de direitos iguais. Começa com a frase: "É hora do show!" dita por Luther King se referindo às ações. E mostra os mordomos negros colocando as luvas brancas para começar a servir. Toda a construção em paralelo traz comparações e novos significados para as duas situações, sendo um dos melhores momentos do filme.
Forest Whitaker nos apresenta uma interpretação bastante sensível de Cecil Gaines, dando conta da complexidade desse homem que viu tanta coisa, passou por diversas humilhações e aprendizados, mas nunca perdeu a dignidade. Isso o filme é feliz em mostrar, não são apenas os mártires, os que brigaram contra o sistema que merecem a nossa admiração, mas também os que suportaram quietos, os que trabalharam em silêncio.
O seu olhar de felicidade ao ver a eleição de Barack Obama emociona, assim como outro momento que ele tem com o filho. Mas, fica também a questão de se não é mais uma visão simplista. Será que o racismo acabou na América só porque o seu presidente é negro? Ou ele continua lá, só que velado, como um oponente ainda mais perigoso?
É louvável que Lee Daniels brigue por filmes que levantam bandeiras em causas próprias, pois elas também são das minorias. Este filme, então, veio com bastante símbolos e lutas, tanto que Oprah Winfrey e outros se associaram ao filme. Sobre ela, por sinal, não vi nada demais em sua interpretação. Mas, sobre racismo, eu tendo a concordar com Morgan Freeman que respondeu a um repórter que o racismo só termina quando não precisarmos mais falar dele. "Pare de me chamar de uma pessoa negra. Eu te conheço como Mike Wallace. Você me conhece por Morgan Freeman".
O Mordomo da Casa Branca (The Butler, 2013 / EUA)
Direção: Lee Daniels
Roteiro: Danny Strong
Com: Forest Whitaker, Oprah Winfrey, John Cusack, Terrence Howard, Cuba Gooding Jr., Lenny Kravitz, Robin Williams, Jane Fonda, Alan Rickman, Mariah Carey
Duração: 132 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Mordomo da Casa Branca
2014-02-11T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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