O Oscar e a questão humana
A Cerimônia do Oscar é na próxima semana e, apesar de de Nebraska não ter estreado em Salvador, já dá para sentir o que predomina nessa premiação. Muitos falaram da questão da sobrevivência. E sim, os filmes falam disso. Mas, acho que observando cada um deles é possível perceber uma preocupação mais latente: a compreensão das relações humanas.
Como estamos nos relacionando hoje com o mundo e as demais pessoas? Esta parece a principal preocupação da nossa geração. Uma geração extremamente tecnológica que perdeu o contato humano direto. A possibilidade de estar junto, a amizade, a troca pessoa de experiências parecem começar a ser substituídas por redes sociais online diversas. Basta observar um pouco as ruas, os bares, os shoppings com todos grudados em suas telas.
Neste ponto o filme de Spike Jonze é o mais óbvio na questão. Uma verdadeira metáfora de nossa sociedade atual, Ela nos mostra que preferimos nos relacionar com máquina a seres humanos. Ainda que do outro lado da tela tenha um deles teclando. Parece que a proteção da barreira cibernética nos ajuda a criar coragem para sermos mais incisivos e até mesmo abrir nossos segredos mais íntimos. Nos sentimos confortáveis diante de uma tela, mas não diante de uma pessoa olhando nos seus olhos.
E se observamos os demais concorrentes, muito disso está ali construído, mesmo quando temos representações de épocas passadas, afinal, o cinema nada mais é do que a tradução de uma época. Se queremos entender como uma sociedade pensa, quais os seus valores e anseios, basta observar os filmes ali feitos.
Dessa maneira, uma obra como 12 Anos de Escravidão, Clube de Compras Dallas ou Philomena que se passam em épocas distintas da nossa história, possuem essa preocupação com as relações humanas. Temos em 12 Anos de Escravidão a relação mais desprezível que nossa história já deu, que é a de senhor e escravo. E é possível observar como o filme de Steve McQueen explora nuanças dessas relações, seja Solomon Northup com os demais escravos como Patsey ou Eliza, seja com seus "senhores", desde o "bonzinho" Benedict Cumberbatch, cruel Michael Fassbender e sua desprezível esposa que nos faz pensar como um ser humano pode ser tão mesquinho.
Clube de Compras Dallas nos dá também diversas questões humanas. Os "amigos" do protagonista que o desprezam após a descoberta da doença são um bom exemplo de até que ponto nossas relações são verdadeiras. Enquanto que o impossível relacionamento entre Ron e Rayon vai sendo desenvolvido de maneira bastante sensível. Em Philomena, temos algo semelhante, o desprezo e desumanidade das freiras do convento, enquanto que a protagonista e o jornalista Sixsmith criam um improvável laço afetivo.
Gravidade é um exemplo de filme curioso que nos mostra uma protagonista quase sozinha a maior parte da trama, mas fala o tempo todo dessa necessidade de relacionar-se com outros. Não por acaso, o personagem de George Clooney aparece em um momento chave para motivar Sandra Bullock. E não por acaso também muitos apontam a cena do contato com a Terra uma das melhores cenas do filme. A personagem é uma mulher sozinha, sofrida com a morte da filha e estar sozinha no espaço lutando por sua sobrevivência não deixa de ser uma forma de fazê-la perceber que precisa dos outros.
Temos, então, Capitão Phillips que nos traz um encontro inusitado do dito capitão com os sequestradores somalianos. E chama a atenção, a forma como Paul Greengrass faz questão de trabalhar e trazer a visão dos ditos vilões da trama, conhecendo suas angústias e fazendo o personagem de Tom Hanks pensar também na maneira como lida com os estrangeiros. A cena do tratamento do corte no pé, por exemplo, é bastante significativa nisso.
Por fim, temos dois filmes que tratam de golpes, desconfianças e parcerias tortas. Tanto Trapaça quanto O Lobo de Wall Street nos mostra as relações humanas em seu estágio mais problemático. E mesmo neste ponto, é preciso ter com quem contar ou pelo menos tentar. A fidelidade e traição é explorada em ambos, como pontos cruciais para a sobrevivência dos personagens. E nos mostra também como o ser humano é previsível em momentos de dificuldade.
Como disse, infelizmente, ainda não conferi Nebraska, mas pelo que li sobre o filme, as relações humanas também tem destaque ali. Ao contar a história de um homem que acredita estar milionário, ele trata de como os seres humanos podem mudar diante de situações desta natureza, tendo a ganância como motor de suas relações.
Como foi dito, essa parece ser uma de nossas principais preocupações na atualidade. O fato de viver em sociedade e conviver com pessoas diversas é que nos faz seres humanos. Porém, até que ponto essas relações não nos são nocivas e como conseguimos confiar e contar com o próximo? Nunca foi fácil e sempre buscando compreender e reavaliar nossas relações. Mas, no mundo virtual de hoje, tudo parece ainda mais difícil.
Como estamos nos relacionando hoje com o mundo e as demais pessoas? Esta parece a principal preocupação da nossa geração. Uma geração extremamente tecnológica que perdeu o contato humano direto. A possibilidade de estar junto, a amizade, a troca pessoa de experiências parecem começar a ser substituídas por redes sociais online diversas. Basta observar um pouco as ruas, os bares, os shoppings com todos grudados em suas telas.
Neste ponto o filme de Spike Jonze é o mais óbvio na questão. Uma verdadeira metáfora de nossa sociedade atual, Ela nos mostra que preferimos nos relacionar com máquina a seres humanos. Ainda que do outro lado da tela tenha um deles teclando. Parece que a proteção da barreira cibernética nos ajuda a criar coragem para sermos mais incisivos e até mesmo abrir nossos segredos mais íntimos. Nos sentimos confortáveis diante de uma tela, mas não diante de uma pessoa olhando nos seus olhos.
E se observamos os demais concorrentes, muito disso está ali construído, mesmo quando temos representações de épocas passadas, afinal, o cinema nada mais é do que a tradução de uma época. Se queremos entender como uma sociedade pensa, quais os seus valores e anseios, basta observar os filmes ali feitos.
Dessa maneira, uma obra como 12 Anos de Escravidão, Clube de Compras Dallas ou Philomena que se passam em épocas distintas da nossa história, possuem essa preocupação com as relações humanas. Temos em 12 Anos de Escravidão a relação mais desprezível que nossa história já deu, que é a de senhor e escravo. E é possível observar como o filme de Steve McQueen explora nuanças dessas relações, seja Solomon Northup com os demais escravos como Patsey ou Eliza, seja com seus "senhores", desde o "bonzinho" Benedict Cumberbatch, cruel Michael Fassbender e sua desprezível esposa que nos faz pensar como um ser humano pode ser tão mesquinho.
Clube de Compras Dallas nos dá também diversas questões humanas. Os "amigos" do protagonista que o desprezam após a descoberta da doença são um bom exemplo de até que ponto nossas relações são verdadeiras. Enquanto que o impossível relacionamento entre Ron e Rayon vai sendo desenvolvido de maneira bastante sensível. Em Philomena, temos algo semelhante, o desprezo e desumanidade das freiras do convento, enquanto que a protagonista e o jornalista Sixsmith criam um improvável laço afetivo.
Gravidade é um exemplo de filme curioso que nos mostra uma protagonista quase sozinha a maior parte da trama, mas fala o tempo todo dessa necessidade de relacionar-se com outros. Não por acaso, o personagem de George Clooney aparece em um momento chave para motivar Sandra Bullock. E não por acaso também muitos apontam a cena do contato com a Terra uma das melhores cenas do filme. A personagem é uma mulher sozinha, sofrida com a morte da filha e estar sozinha no espaço lutando por sua sobrevivência não deixa de ser uma forma de fazê-la perceber que precisa dos outros.
Temos, então, Capitão Phillips que nos traz um encontro inusitado do dito capitão com os sequestradores somalianos. E chama a atenção, a forma como Paul Greengrass faz questão de trabalhar e trazer a visão dos ditos vilões da trama, conhecendo suas angústias e fazendo o personagem de Tom Hanks pensar também na maneira como lida com os estrangeiros. A cena do tratamento do corte no pé, por exemplo, é bastante significativa nisso.
Por fim, temos dois filmes que tratam de golpes, desconfianças e parcerias tortas. Tanto Trapaça quanto O Lobo de Wall Street nos mostra as relações humanas em seu estágio mais problemático. E mesmo neste ponto, é preciso ter com quem contar ou pelo menos tentar. A fidelidade e traição é explorada em ambos, como pontos cruciais para a sobrevivência dos personagens. E nos mostra também como o ser humano é previsível em momentos de dificuldade.
Como disse, infelizmente, ainda não conferi Nebraska, mas pelo que li sobre o filme, as relações humanas também tem destaque ali. Ao contar a história de um homem que acredita estar milionário, ele trata de como os seres humanos podem mudar diante de situações desta natureza, tendo a ganância como motor de suas relações.
Como foi dito, essa parece ser uma de nossas principais preocupações na atualidade. O fato de viver em sociedade e conviver com pessoas diversas é que nos faz seres humanos. Porém, até que ponto essas relações não nos são nocivas e como conseguimos confiar e contar com o próximo? Nunca foi fácil e sempre buscando compreender e reavaliar nossas relações. Mas, no mundo virtual de hoje, tudo parece ainda mais difícil.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Oscar e a questão humana
2014-02-23T08:00:00-03:00
Amanda Aouad
materias|Oscar 2014|
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