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A Grande Beleza

A Grande Beleza"Eu sou uma artista, não preciso dar explicações", sentencia uma personagem após dar uma cabeçada na parede. De certa maneira, isto resume o filme de Paolo Sorrentino, que, com muita ironia, reflete sobre o estado da arte e a eterna busca pela Grande Beleza.

O escritor Jep Gambardella, vivido por Toni Servillo em ótima performance, está assim. Autor de um único livro, vive há 40 anos da fama deste, frequentando festas da alta sociedade e exposições artísticas diversas. Em um convívio diário fútil e reflexivo ao mesmo tempo, ele poderia seguir sem grandes mudanças, mas a notícia de um grande amor do passado o faz mudar de rumo e querer um pouco mais da vida.

A Grande BelezaPaolo Sorrentino bebe na fonte de Fellini para construir a sua obra. Há um quê da busca Guido em Jep, mas há também muito do clima criado pelo diretor italiano em muitas de suas obras. Não apenas por ambos estarem em Roma, mas por toda a atmosfera reflexiva da trama. Neste ponto, podemos observar também muito de Terrence Malick nas escolhas estéticas e no ritmo da obra, que se constitui em uma poesia fílmica.

A fotografia de Luca Bigazzi auxilia nesta composição, assim como a montagem que nos proporciona uma experiência estética única. A escolha de nos mostrar muitas das festas que Jep participa com diversos clipes nos ajudando a imergir naquele ambiente e sentir o clima proposto, constrói uma identificação com a sensação de estranhamento que Jep começa a experimentar, após as notícias de Elisa, seu antigo amor.

A Grande BelezaO jogo e a ironia com que observa e reflete sobre a arte é outro ponto alto da trama, quando nos são apresentadas performances das mais estranhas e intensas, como a já citada artista que se expressa corporalmente, ao ponto de sangrar em cena. Ou uma garotinha que joga tintas em uma tela vazia desorientadamente gerando um resultado surpreendente. É interessante a forma como Sorrentino nos mostra o artista intercalando com as reações da plateia e de Jep nela.

Neste ponto, temos também o "tutorial" do enterro, um dos momentos fortes do filme. Onde Jep explica toda a preparação e encenação do ato, tal qual uma peça de teatro, onde cada um tem o seu papel específico.

Ainda no nível irônico temos toda a sequência da Irmã Maria, uma santa viva que adorou o livro de Jep, "O Aparelho Humano", e possui hábitos de total abnegação em vida. A cena em torno da mesa, com o seu "agente" vangloriando seus atos é extremamente perspicaz, assim como os detalhes que a câmera nos dá dela dormindo no chão ou subindo a escadaria de joelhos. Isso, sem perder a oportunidade de lançar outras reflexões como "eu só como raiz, porque a raiz é importante para vida".

Talvez falte a Jep exatamente isso, uma raiz. Sem ela, a árvore não cresce frondosa ou pelo menos não se sustenta diante do sucesso. A Grande Beleza está lá, interna, guardando nossas angústias e anseios e nos dando sustentação para encarar a vida.


A Grande Beleza (La grande bellezza, 2013 / Itália)
Direção: Paolo Sorrentino
Roteiro: Paolo Sorrentino
Com: Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli
Duração: 142 min.

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