Na trama, um músico apaixonado pela América e uma tatuadora se envolvem, se apaixonam, passam a cantar juntos, casam, tem uma filha, mas a garotinha é diagnosticada com câncer e isso desestabiliza os dois e seus sonhos. E o grande problema é que tudo isso nos é passado de uma maneira embaralhada em um roteiro não linear que esvai a emoção e intensidade da obra, mas que, de qualquer maneira, é um filme interessante.
Falo na quebra da intensidade porque acabamos fugindo da emoção triste de uma determinada parte para a inocência do primeiro encontro de uma maneira muito brusca, por exemplo. Não há o equilíbrio e diálogo que vemos em um filme como Namorados Para Sempre, por exemplo. Até porque a grande virada da trama acaba acontecendo muito cedo, ainda tem muito que precisávamos conhecer daquele casal, daquela menina antes daquilo. As cenas mais fortes acabam se perdendo por lá.
Separo duas delas, tentando não dar spoilers. A cena do hospital, quando Didier encontra Elise e a filha Maybelle na cama. E uma cena um pouco depois disso, quando Elise, Didier e mais três familiares olham para determinado objeto com o pesar que é devido. Tem ainda a cena em que os dois estão tendo relações sexuais e ela chora compulsivamente. Na ordem em que tudo é construído só me lembra a música de Chico Buarque, "na bagunça do seu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu".
Entendo que essa confusão mental, faça parte da trama e que ver uma criancinha sofrendo com os efeitos colaterais da quimioterapia, com direito a cabelo caindo, é duro. Temos mesmo a vontade de fugir para momentos felizes, para nossas lembranças. Não acho que deveria ser um roteiro totalmente linear, mas tudo poderia ser melhor costurado, pensando nas etapas de identificação com o público.
Dito isto, não acho que Alabama Monroe seja um filme ruim. Pelo contrário, há muito de belo ali. Seja na triste e intensa história, na atuação dos atores ou até nas músicas que embalam a trama, com diversos clipes melancólicos e emocionantes. Há cenas extremamente sensíveis e belas. Mesmo quando força a paixão de Didier pela América vendo discursos de George Bush na televisão e xingando a proibição das pesquisas com células-tronco.
Alabama Monroe traz diversas nuanças, mesmo no nome que se revela quase tolo com direito a uma escolha de direção para assinar a trama quase brega, mas que demonstra uma sensibilidade. Uma busca por emoções autênticas e não apenas manipulações baratas. Há mérito nisso. Um filme que poderia envolver mais, ainda assim, dá conta do seu recado.
Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown, 2012 / Bélgica)
Direção: Felix Van Groeningen
Roteiro: Carl Joos e Felix Van Groeningen
Com: Veerle Baetens, Johan Heldenbergh, Nell Cattrysse
Duração: 111 min.