Brazil: Directory of World Cinema
Foi lançado em Londres o livro Brazil: Directory of World Cinema, co-editado por Dr Louis Bayman (Kings College Londond) e Dra. Natália Pinazza (University of London). O volume faz parte te uma série intitulada World Cinema Directory que já teve versões de diversos países e traz um apanhado do nosso cinema em onze capítulos, precedidos de algumas introduções que fala inclusive de Carmem Miranda, que não deixa de ser uma difusora de nossa arte apesar de portuguesa e vivendo nos Estados Unidos.
Interessante que, ainda na introdução, o livro destaque três cineastas brasileiros Glauber Rocha e Walter Salles, representando duas gerações distintas, e José Mojica Marins, criador do famoso personagem Zé do Caixão. Todos com resenhas resgatando seu estilo e história. Já os capítulos trazem reviews de diversos filmes, separados por tema ou época, onde colaboradores dos mais variados falam sobre cada filme selecionado.
O primeiro capítulo fala dos primeiros anos (Early Years), resgatando obras e cineastas das primeiras tentativas, dos ciclos regionais, fico feliz em ver algo sobre Humberto Mauro, tão esquecido por aqui, com resenha de Ganga Bruta. E claro, não poderia faltar Limite, o lendário e único filme de Mário Peixoto. Depois vem o capítulo do Cinema Novo, com obras como Vidas Secas, Opinião Púbica e, de maneira questionável, O Pagador de Promessas, nosso vencedor da Palma de Ouro em Cannes, de Anselmo Duarte que, na verdade, não fazia parte do movimento e Glauber Rocha chegou a criticar publicamente.
O terceiro capítulo é intitulado Gender, ou seja, gênero, que tenta definir uma espécie de gênero brasileiro. Chegam à conclusão de que isto é bastante heterogêneo, principalmente de acordo com a época, criando um capítulo bastante eclético onde inclui filmes como À Meia Noite Levarei Sua Alma, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Se Eu Fosse Você, Amores Possíveis entre outros.
Temos, então, o capítulo musical, onde a música se torna parte importante do filme, não necessariamente um musical nos padrões Hollywoodianos. Temos aqui filmes como Dona Flor e seus Dois Maridos, Orfeu Negro, Cazuza - o tempo não pára, Eu, tu, eles, Rio, Zona Norte, entre outros.
No próximo, vemos o título Afro-brazilian identity, com destaque para Besouro, filme de João Daniel Tikhomiroff, que de justificável só tem mesmo o fato de ser um filme que valorize a cultura afro-descendente. Mas, o capítulo traz ótimos exemplares como Cidade de Deus, Quase dois irmãos, Jubiabá, Madame Satã e Xica da Silva.
E se falamos dos negros, o próximo capítulo é dos índios, resgatando obras como Brincando nos campos do senhor, Caramuru - a Invenção do Brasil, O descobrimento do Brasil (outro filme de Humberto Mauro) e Como era gostoso o meu francês. Senti falta de obras como Terra Vermelha, ou o recente Xingu, mas este só surgiu quando o livro já estava em finalização, então, é compreensível.
O capítulo Diáspora traz obras que abordam imigrantes ou emigrantes brasileiros e estrangeiros. Temos interessantes representantes como O Ano Em Que Meus Pais Saíram De Férias, Desmundo, O homem que virou suco, Jean Charles, O Quatrilho, entre outros. Seguido do capítulo Documentários, que nos traz obras como Ônibus 174, Jogo de Cena, Garrincha Alegria do povo, Santiago, O Prisioneiro da Grade de Ferro, Cabra Marcado para Morrer e Viramundo.
As adaptações literárias ganham um capítulo à parte, com obras como A Hora da Estrela, Memórias do Cárcere, Tenda dos Milagres, O Invasor, Lavoura Arcaica e Estorvo. Mas, chama a atenção mesmo o próximo capítulo intitulado Comédias, que felizmente nos mostra bons exemplares do gênero e não a proliferação que vemos hoje. Vemos na seleção obras como Tudobem de Arnaldo Jabor, Carlota Joaquina o marco da retomada, O auto da compadecida, O Homem Que Copiava e Histórias que nossas babás não contavam.
Temos ainda, claro, os Road Movies, gênero tão caro a diretores como Walter Salles e Cacá Diegues, com obras como Bye, Bye, Brasil, Central do Brasil, Cinema, Aspirinas e Urubus, O Caminho das Nuvens, Viajo porque preciso, volto porque te amo e O Céu de Suely. Todas obras que representam muito mais o país e nossa cultura do que a maioria do que vemos nas salas dos grandes shoppings atualmente.
Brazil: Directory of World Cinema acaba sendo um excelente documento do nosso cinema. Um resgate necessário, com obras diversas que mostram que o cinema nacional não se resume às Chanchadas da Atlântida e Glauber Rocha no passado e às comédias Globo Filmes no presente. Temos muito mais a mostrar e a ser visto. Fico feliz de ter podido participar dessa edição com o review de Os Saltimbancos Trapalhões no capítulo comédia. Um dos melhores filmes que o grupo já fez.
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Interessante que, ainda na introdução, o livro destaque três cineastas brasileiros Glauber Rocha e Walter Salles, representando duas gerações distintas, e José Mojica Marins, criador do famoso personagem Zé do Caixão. Todos com resenhas resgatando seu estilo e história. Já os capítulos trazem reviews de diversos filmes, separados por tema ou época, onde colaboradores dos mais variados falam sobre cada filme selecionado.
O primeiro capítulo fala dos primeiros anos (Early Years), resgatando obras e cineastas das primeiras tentativas, dos ciclos regionais, fico feliz em ver algo sobre Humberto Mauro, tão esquecido por aqui, com resenha de Ganga Bruta. E claro, não poderia faltar Limite, o lendário e único filme de Mário Peixoto. Depois vem o capítulo do Cinema Novo, com obras como Vidas Secas, Opinião Púbica e, de maneira questionável, O Pagador de Promessas, nosso vencedor da Palma de Ouro em Cannes, de Anselmo Duarte que, na verdade, não fazia parte do movimento e Glauber Rocha chegou a criticar publicamente.
O terceiro capítulo é intitulado Gender, ou seja, gênero, que tenta definir uma espécie de gênero brasileiro. Chegam à conclusão de que isto é bastante heterogêneo, principalmente de acordo com a época, criando um capítulo bastante eclético onde inclui filmes como À Meia Noite Levarei Sua Alma, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Se Eu Fosse Você, Amores Possíveis entre outros.
Temos, então, o capítulo musical, onde a música se torna parte importante do filme, não necessariamente um musical nos padrões Hollywoodianos. Temos aqui filmes como Dona Flor e seus Dois Maridos, Orfeu Negro, Cazuza - o tempo não pára, Eu, tu, eles, Rio, Zona Norte, entre outros.
No próximo, vemos o título Afro-brazilian identity, com destaque para Besouro, filme de João Daniel Tikhomiroff, que de justificável só tem mesmo o fato de ser um filme que valorize a cultura afro-descendente. Mas, o capítulo traz ótimos exemplares como Cidade de Deus, Quase dois irmãos, Jubiabá, Madame Satã e Xica da Silva.
E se falamos dos negros, o próximo capítulo é dos índios, resgatando obras como Brincando nos campos do senhor, Caramuru - a Invenção do Brasil, O descobrimento do Brasil (outro filme de Humberto Mauro) e Como era gostoso o meu francês. Senti falta de obras como Terra Vermelha, ou o recente Xingu, mas este só surgiu quando o livro já estava em finalização, então, é compreensível.
O capítulo Diáspora traz obras que abordam imigrantes ou emigrantes brasileiros e estrangeiros. Temos interessantes representantes como O Ano Em Que Meus Pais Saíram De Férias, Desmundo, O homem que virou suco, Jean Charles, O Quatrilho, entre outros. Seguido do capítulo Documentários, que nos traz obras como Ônibus 174, Jogo de Cena, Garrincha Alegria do povo, Santiago, O Prisioneiro da Grade de Ferro, Cabra Marcado para Morrer e Viramundo.
As adaptações literárias ganham um capítulo à parte, com obras como A Hora da Estrela, Memórias do Cárcere, Tenda dos Milagres, O Invasor, Lavoura Arcaica e Estorvo. Mas, chama a atenção mesmo o próximo capítulo intitulado Comédias, que felizmente nos mostra bons exemplares do gênero e não a proliferação que vemos hoje. Vemos na seleção obras como Tudobem de Arnaldo Jabor, Carlota Joaquina o marco da retomada, O auto da compadecida, O Homem Que Copiava e Histórias que nossas babás não contavam.
Temos ainda, claro, os Road Movies, gênero tão caro a diretores como Walter Salles e Cacá Diegues, com obras como Bye, Bye, Brasil, Central do Brasil, Cinema, Aspirinas e Urubus, O Caminho das Nuvens, Viajo porque preciso, volto porque te amo e O Céu de Suely. Todas obras que representam muito mais o país e nossa cultura do que a maioria do que vemos nas salas dos grandes shoppings atualmente.
Brazil: Directory of World Cinema acaba sendo um excelente documento do nosso cinema. Um resgate necessário, com obras diversas que mostram que o cinema nacional não se resume às Chanchadas da Atlântida e Glauber Rocha no passado e às comédias Globo Filmes no presente. Temos muito mais a mostrar e a ser visto. Fico feliz de ter podido participar dessa edição com o review de Os Saltimbancos Trapalhões no capítulo comédia. Um dos melhores filmes que o grupo já fez.
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Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Brazil: Directory of World Cinema
2014-03-28T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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