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Júlio Andrade
Lee Taylor
Maria Ribeiro
Martha Nowill
Paulo Morelli
Paulo Villhena
Pedro Morelli
Entre Nós
Entre Nós
Vencedor de três prêmios no Festival do Rio de 2013, Entre Nós traz um fôlego novo para o nosso cinema. É um filme comercial que traz um drama psicológico muito bem cuidado, envolvente e até mesmo surpreendente. Daqueles que torcemos para ter mais no Brasil.
Tudo tem início com um encontro de sete amigos em uma casa de campo de um deles. A ideia era escrever uma carta que deveria ser aberta apenas dez anos depois. Mas, o tempo é sempre um pegador de peças e quando eles se reencontram no mesmo lugar para cumprir a promessa muita coisa aconteceu. Inclusive a morte de um deles, com consequências, feridas e escolhas que podem trazer grandes problemas.
O clima é muito bem construído, até pela época em que é ambientado. O primeiro encontro se passa em 1992, o segundo em 2002. Apesar de ser pouco explorado, é possível perceber o retrato de uma geração pós "filhos da revolução". Uma mistura maior de emoções e buscas, onde a ideologia política não é mais a dominante. Vivemos ainda em um país pré-Lula. E isso não deixa de ser citado em um diálogo rápido sobre política que também faz uma metáfora de um dos problemas principais da trama: "ninguém chega ao poder sem sujar as mãos", sentencia um deles.
O que parece uma inserção simples, quase leviana, traduz muito daqueles jovens e de nosso país. De um Lula que ainda era esperança de uma esquerda que nunca se viu no poder, do medo da direita de perder a estabilidade conquistada. E ao mesmo tempo traduz o que cada indivíduo sentia ali, com seus próprios medos, suas escolhas, seus sonhos frustados. Quando somos jovens, sempre achamos que podemos mudar o mundo. E depois ficamos nos perguntando o que aconteceu conosco, com nossa acomodação, nossos desvios.
O reencontro dos seis amigos e a lembrança eterna do sétimo que se foi dá o tom de melancolia, de feridas abertas, de redescobertas de uma maneira muito natural. Os diálogos são bem colocados, não há didatismo em relação ao que passou, algumas lacunas até ficam para que pensemos mais sobre aquele grupo e o que se passou com cada um. Há, também, uma troca de casal, que também apimenta a trama.
A atuações também são dignas de elogio. Todos os sete atores estão muito bem, entregues aos personagens, passando a verdade de cada um deles. Destaque para o casal vivido por Júlio Andrade e Martha Nowill que estão em eterno clima de briga, mas que não desmerece nenhum dos outros. Uma das cenas mais fortes e bem conduzidas, por exemplo, acontece entre Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena em um balanço. O drama do personagem de Caio Blat também é intenso e o ator conduz bem isso.
Apesar de ser um drama psicológico com fortes diálogos e destaque na direção de atores, o filme também demonstra um cuidado extremo na linguagem. A fotografia é muito bem decupada, assim como a montagem é sutil. Temos construções poéticas como o escaravelho de barriga para cima ou o passarinho caído. Isso sem falar na própria cena da pedra, que nos dá a sensação metafórica de um enterro. Como se os sonhos deles fossem enterrados ali, para quem sabe vir a tona em dez anos.
Entre Nós é mais do que um filme sobre jovens amigos e o tempo. É um retrato de sensações, pensamentos, dúvidas, escolhas, construídos de uma maneira incrivelmente bem feita. Já vi pessoas comparando aos filmes argentinos. Mas, como já disse, na verdade, o que ele tem dos hermanos é exatamente o fato de ser um drama psicológico e não mais os diversos dramas sociais que já tivemos. Ainda assim, traz uma identidade própria que, torço, seja uma porta a mais no nosso cinema.
Entre Nós (Brasil, 2014)
Direção: Paulo Morelli, Pedro Morelli
Roteiro: Paulo Morelli, Pedro Morelli
Com: Júlio Andrade, Caio Blat, Carolina Dieckmann, Martha Nowill, Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Lee Taylor
Duração: 100 min.
Tudo tem início com um encontro de sete amigos em uma casa de campo de um deles. A ideia era escrever uma carta que deveria ser aberta apenas dez anos depois. Mas, o tempo é sempre um pegador de peças e quando eles se reencontram no mesmo lugar para cumprir a promessa muita coisa aconteceu. Inclusive a morte de um deles, com consequências, feridas e escolhas que podem trazer grandes problemas.
O clima é muito bem construído, até pela época em que é ambientado. O primeiro encontro se passa em 1992, o segundo em 2002. Apesar de ser pouco explorado, é possível perceber o retrato de uma geração pós "filhos da revolução". Uma mistura maior de emoções e buscas, onde a ideologia política não é mais a dominante. Vivemos ainda em um país pré-Lula. E isso não deixa de ser citado em um diálogo rápido sobre política que também faz uma metáfora de um dos problemas principais da trama: "ninguém chega ao poder sem sujar as mãos", sentencia um deles.
O que parece uma inserção simples, quase leviana, traduz muito daqueles jovens e de nosso país. De um Lula que ainda era esperança de uma esquerda que nunca se viu no poder, do medo da direita de perder a estabilidade conquistada. E ao mesmo tempo traduz o que cada indivíduo sentia ali, com seus próprios medos, suas escolhas, seus sonhos frustados. Quando somos jovens, sempre achamos que podemos mudar o mundo. E depois ficamos nos perguntando o que aconteceu conosco, com nossa acomodação, nossos desvios.
O reencontro dos seis amigos e a lembrança eterna do sétimo que se foi dá o tom de melancolia, de feridas abertas, de redescobertas de uma maneira muito natural. Os diálogos são bem colocados, não há didatismo em relação ao que passou, algumas lacunas até ficam para que pensemos mais sobre aquele grupo e o que se passou com cada um. Há, também, uma troca de casal, que também apimenta a trama.
A atuações também são dignas de elogio. Todos os sete atores estão muito bem, entregues aos personagens, passando a verdade de cada um deles. Destaque para o casal vivido por Júlio Andrade e Martha Nowill que estão em eterno clima de briga, mas que não desmerece nenhum dos outros. Uma das cenas mais fortes e bem conduzidas, por exemplo, acontece entre Carolina Dieckmann e Paulo Vilhena em um balanço. O drama do personagem de Caio Blat também é intenso e o ator conduz bem isso.
Apesar de ser um drama psicológico com fortes diálogos e destaque na direção de atores, o filme também demonstra um cuidado extremo na linguagem. A fotografia é muito bem decupada, assim como a montagem é sutil. Temos construções poéticas como o escaravelho de barriga para cima ou o passarinho caído. Isso sem falar na própria cena da pedra, que nos dá a sensação metafórica de um enterro. Como se os sonhos deles fossem enterrados ali, para quem sabe vir a tona em dez anos.
Entre Nós é mais do que um filme sobre jovens amigos e o tempo. É um retrato de sensações, pensamentos, dúvidas, escolhas, construídos de uma maneira incrivelmente bem feita. Já vi pessoas comparando aos filmes argentinos. Mas, como já disse, na verdade, o que ele tem dos hermanos é exatamente o fato de ser um drama psicológico e não mais os diversos dramas sociais que já tivemos. Ainda assim, traz uma identidade própria que, torço, seja uma porta a mais no nosso cinema.
Entre Nós (Brasil, 2014)
Direção: Paulo Morelli, Pedro Morelli
Roteiro: Paulo Morelli, Pedro Morelli
Com: Júlio Andrade, Caio Blat, Carolina Dieckmann, Martha Nowill, Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Lee Taylor
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Entre Nós
2014-03-31T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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