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Filma Robatto!
Filma Robatto!
Alexandre Robatto Filho foi um dos pioneiros do cinema na Bahia, documentarista cuidadoso, apaixonado pela possibilidade de se comunicar através de uma câmera, fez parte de uma geração culturalmente rica, sendo amigo e parceiro de nomes como Jorge Amado, Mario Cravo e Caribé, este último participava de seus filmes como storybordista.
Robatto era formado em odontologia e professor universitário, sendo a arte uma espécie de hobby bem desenvolvido, tanto que quando o cinema começou a se industrializar no final da década de 50, ele achou que não tinha mais espaço para ele. Isso e outras curiosidades da vida do cineasta que também era pintor, escultor e escritor amador, podem ser conferidas no documentário dirigido por Petrus Pires, "Os filmes que eu não fiz", título que brinca com um pensamento de Robatto que dizia que seria conhecido pelo que não fez e não pelo que fez.
No documentário, estudiosos e familiares citam "Raimunda que foi", livro poderia ser o seu primeiro longametragem, pois era construído de uma maneira totalmente cinematográfica. O próprio Robatto dizia que não era escritor e o cinema era a forma que sabia se expressar, por isso o livro fora construído de uma maneira tão visual.
O curta é construído com depoimentos, algumas imagens de obras do cineasta e uma desnecessária encenação, que, por sorte, ocupa pouco espaço dos 26 minutos do filme. Através dele conhecemos um pouco mais da vida pessoal de Robatto, seus filhos, seus pensamentos. Inclusive o fato mais marcante para a perde da memória do cinema baiano, quando ele queimou a maioria de seus trabalhos com medo de arquivar o celulóide em casa, após um caso no Rio de Janeiro onde negativos explodiram.
É fato que o mal condicionamento das antigas películas poderia causar acidentes sérios, já que eram extremamente inflamáveis. Porém, com isso, muita coisa se perdeu e hoje temos poucos registros dos trabalhos de Alexandre Robbato Filho. Alguns deles foram restaurados recentemente e compõem, junto ao documentário de Petrus Pires, um DVD produzido pelo Estúdio Sonia Robatto.
Curtas que compõem o DVD Filma Robatto
Entre o mar e o tendal (1952)
Duração: 22 min
Um dos seus trabalhos mais conhecidos e reconhecido, documenta o trabalho dos pescadores em Itapoã, de olho na passagem do xaréu, um tipo de peixe com uma rotina conhecida na migração marítima. O curta mostra e narra todo o processo desde a confecção do tendal, colocação no mar, e arraste da rede.
O que chama a atenção é a qualidade da fotografia, não apenas bela, mas bem colocada, registrando o processo como um todo, mas também os detalhes das expressões dos pescadores, dos ajudantes e das mulheres que observam.
Xaréu (1954)
Duração: 9 min
Um versão reduzida e mais artística de Entre o mar e o tendal. Sem a narração constante explicando tudo, aqui temos uma música que dita o ritmo e as imagens que nos mostram a pescaria. Este se concentra mais na pesca em si, enquanto que o anterior mostra muito da preparação e até da primeira tentativa frustrada.
Vadiação (1954)
Duração: 8 minutos
Considerado por muitos como o mais importante registro da Capoeira. Vadiação é, inclusive, uma espécie de "codinome" para disfarçar a verdadeira intenção do treino e da luta. Construído em um estúdio, com direto a cenários e figurinos cuidadosamente compostos, acompanhamos uma roda de capoeira. Bastante dinâmico, com diversos planos mostrando os movimentos e golpes.
Os quatro próximos documentários, são registros históricos com menos criatividade artística, que os outros dois, são obras encomendadas. Ainda assim, ele demonstra um cuidado na imagem que nos guia no tema.
Desfile dos quatro séculos (1949)
Duração: 9 minutos
O mais simples de todos, mostra um desfile que aconteceu nas ruas de Salvador em comemoração aos quatro séculos de fundação da cidade. A câmera fica boa parte do tempo em um único local, com pouca variação de planos, apenas registrando a passagem dos artistas. Apenas no final, vemos a plateia, por exemplo, e o desfile de outro ângulo.
O regresso de Marta Rocha (1955)
Duração: 8 minutos
Outro registro histórico, porém, mais elaborado. Aqui vemos o retorno da miss Marta Rocha após sua excursão internacional. O documentário é patrocinado pela Fratelli Vita e temos uma inserção quase forçada da curiosidade de Marta por belos cristais feitos na terra, seguidos de uma visita da miss à fábrica da Fratelli Vita de refrigerantes e de cristais. Ainda assim, é interessante ver um registro tão bem filmado da época.
Um Milhão de KVA (1949)
Duração: 13 minutos
Aqui é uma encomenda das hidrelétricas do estado, mostrando o processo de construção da barragem de Paulo Afonso. Como curiosidade, podemos ver imagens da cachoeira antes da obra, realmente uma bela força da natureza. Sensível, Alexandre Robatto ocupa boa parte do início para registrar essas imagens da água descendo solta, com força total. Já que aquilo não mais existiria após a obra.
A Marcha das boiadas (1949)
Duração: 11 minutos
Este foi para a pecuária nordestina, mostrando a rotina do gado no sertão, do vaqueiro e sua função importante na economia nordestina. Ele que seria descrito em diversos livros, conforme a própria narração do curta explicita. Uma composição interessante de imagens e registro.
Ginkana em Salvador (1952)
Duração: 7 minutos
E por último, um registro curioso da época. Uma gincana em pleno bairro de Ondina, onde os participantes iam de carro parando de ponto em ponto para cumprir as tarefas mais estranhas, como acertar um quebra pote, morder uma maçã pendurada ou beber um café e dançar uma música. O evento era promovido pelo Automóvel Clube do Brasil.
Além de um filme dirigido por seu filho, Silvo Robatto, que foi montado e produzido por Alexandre.
Igreja (1960)
Duração: 8 minutos
O curta não é um documentário, mas uma ficcionalização interessante de uma moça que vai em uma excursão conhecer uma Igreja de Salvador, acaba se perdendo e ficando presa em uma sala com imagens católicas e profanas, onde tudo se torna assustador. Uma experiência visual interessante.
Robatto era formado em odontologia e professor universitário, sendo a arte uma espécie de hobby bem desenvolvido, tanto que quando o cinema começou a se industrializar no final da década de 50, ele achou que não tinha mais espaço para ele. Isso e outras curiosidades da vida do cineasta que também era pintor, escultor e escritor amador, podem ser conferidas no documentário dirigido por Petrus Pires, "Os filmes que eu não fiz", título que brinca com um pensamento de Robatto que dizia que seria conhecido pelo que não fez e não pelo que fez.
No documentário, estudiosos e familiares citam "Raimunda que foi", livro poderia ser o seu primeiro longametragem, pois era construído de uma maneira totalmente cinematográfica. O próprio Robatto dizia que não era escritor e o cinema era a forma que sabia se expressar, por isso o livro fora construído de uma maneira tão visual.
O curta é construído com depoimentos, algumas imagens de obras do cineasta e uma desnecessária encenação, que, por sorte, ocupa pouco espaço dos 26 minutos do filme. Através dele conhecemos um pouco mais da vida pessoal de Robatto, seus filhos, seus pensamentos. Inclusive o fato mais marcante para a perde da memória do cinema baiano, quando ele queimou a maioria de seus trabalhos com medo de arquivar o celulóide em casa, após um caso no Rio de Janeiro onde negativos explodiram.
É fato que o mal condicionamento das antigas películas poderia causar acidentes sérios, já que eram extremamente inflamáveis. Porém, com isso, muita coisa se perdeu e hoje temos poucos registros dos trabalhos de Alexandre Robbato Filho. Alguns deles foram restaurados recentemente e compõem, junto ao documentário de Petrus Pires, um DVD produzido pelo Estúdio Sonia Robatto.
Curtas que compõem o DVD Filma Robatto
Entre o mar e o tendal (1952)
Duração: 22 min
Um dos seus trabalhos mais conhecidos e reconhecido, documenta o trabalho dos pescadores em Itapoã, de olho na passagem do xaréu, um tipo de peixe com uma rotina conhecida na migração marítima. O curta mostra e narra todo o processo desde a confecção do tendal, colocação no mar, e arraste da rede.
O que chama a atenção é a qualidade da fotografia, não apenas bela, mas bem colocada, registrando o processo como um todo, mas também os detalhes das expressões dos pescadores, dos ajudantes e das mulheres que observam.
Xaréu (1954)
Duração: 9 min
Um versão reduzida e mais artística de Entre o mar e o tendal. Sem a narração constante explicando tudo, aqui temos uma música que dita o ritmo e as imagens que nos mostram a pescaria. Este se concentra mais na pesca em si, enquanto que o anterior mostra muito da preparação e até da primeira tentativa frustrada.
Vadiação (1954)
Duração: 8 minutos
Considerado por muitos como o mais importante registro da Capoeira. Vadiação é, inclusive, uma espécie de "codinome" para disfarçar a verdadeira intenção do treino e da luta. Construído em um estúdio, com direto a cenários e figurinos cuidadosamente compostos, acompanhamos uma roda de capoeira. Bastante dinâmico, com diversos planos mostrando os movimentos e golpes.
Os quatro próximos documentários, são registros históricos com menos criatividade artística, que os outros dois, são obras encomendadas. Ainda assim, ele demonstra um cuidado na imagem que nos guia no tema.
Desfile dos quatro séculos (1949)
Duração: 9 minutos
O mais simples de todos, mostra um desfile que aconteceu nas ruas de Salvador em comemoração aos quatro séculos de fundação da cidade. A câmera fica boa parte do tempo em um único local, com pouca variação de planos, apenas registrando a passagem dos artistas. Apenas no final, vemos a plateia, por exemplo, e o desfile de outro ângulo.
O regresso de Marta Rocha (1955)
Duração: 8 minutos
Outro registro histórico, porém, mais elaborado. Aqui vemos o retorno da miss Marta Rocha após sua excursão internacional. O documentário é patrocinado pela Fratelli Vita e temos uma inserção quase forçada da curiosidade de Marta por belos cristais feitos na terra, seguidos de uma visita da miss à fábrica da Fratelli Vita de refrigerantes e de cristais. Ainda assim, é interessante ver um registro tão bem filmado da época.
Um Milhão de KVA (1949)
Duração: 13 minutos
Aqui é uma encomenda das hidrelétricas do estado, mostrando o processo de construção da barragem de Paulo Afonso. Como curiosidade, podemos ver imagens da cachoeira antes da obra, realmente uma bela força da natureza. Sensível, Alexandre Robatto ocupa boa parte do início para registrar essas imagens da água descendo solta, com força total. Já que aquilo não mais existiria após a obra.
A Marcha das boiadas (1949)
Duração: 11 minutos
Este foi para a pecuária nordestina, mostrando a rotina do gado no sertão, do vaqueiro e sua função importante na economia nordestina. Ele que seria descrito em diversos livros, conforme a própria narração do curta explicita. Uma composição interessante de imagens e registro.
Ginkana em Salvador (1952)
Duração: 7 minutos
E por último, um registro curioso da época. Uma gincana em pleno bairro de Ondina, onde os participantes iam de carro parando de ponto em ponto para cumprir as tarefas mais estranhas, como acertar um quebra pote, morder uma maçã pendurada ou beber um café e dançar uma música. O evento era promovido pelo Automóvel Clube do Brasil.
Além de um filme dirigido por seu filho, Silvo Robatto, que foi montado e produzido por Alexandre.
Igreja (1960)
Duração: 8 minutos
O curta não é um documentário, mas uma ficcionalização interessante de uma moça que vai em uma excursão conhecer uma Igreja de Salvador, acaba se perdendo e ficando presa em uma sala com imagens católicas e profanas, onde tudo se torna assustador. Uma experiência visual interessante.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Filma Robatto!
2014-03-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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