
O filme continua exatamente de onde parou, com a história de, digamos, amor de Joe e Jerôme. Junto com o capítulo do pai, este é o momento mais próximo de Joe com alguma espécie de sentimento. E é curioso que antes de entrar propriamente no capítulo que a conta, ela nos explica como começou o seu problema sexual, que, claro, é construído de uma maneira metafórica, com uma explicação detalhada de Seligman.

Tais explicações poderiam tornar o filme cansativo, se não fosse o humor satírico do diretor que brinca o tempo todo com o público. Ao ponto de em determinada cena, após uma explicação de Seligman, Joe sentenciar que aquela foi a sua pior digressão. Em outros momento, Lars von Trier constrói paralelos com suas próprias obras, como quando Joe esconde colheres no restaurante, lembrando um personagem de Melancolia, ou quando usa o mesmo argumento de Anticristo sobre o papel da mulher no sexo.

Temos cenas de sexo aqui, sim. Mais órgãos sexuais expostos, cenas de sadomasoquismo, mas ainda assim, não o torna um soft porno. Não há em nenhum momento do filme a intenção se excitar a plateia. E Lars von Trier deixa isso muito claro em sua última e polêmica cena. Não cabe a nós nos empolgar com a história de Joe, mas refletir e até mesmo nos assustar com tanta "monstruosidade", digamos assim.

Ninfomaníaca: Volume 2 encerra de maneira polêmica, ainda que digna o filme que Lars von Trier nos quis passar. Teve muito mais marketing que cinema em tudo isso, não discuto. De qualquer maneira, há exercícios estilísticos que brincam com o público, suas expectativas e suas convicções. Só por isso, já demonstra que o diretor continua com sua capacidade de nos trazer algo novo a cada trabalho.
Ninfomaníaca: Volume 2 (Nymphomaniac: Vol. II, 2014 / Dinamarca/Alemanha/França/ Bélgica/ Reino Unido)
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Com: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Stacy Martin, Willem Dafoe, Mia Goth, Shia LaBeouf
Duração: 123 min.