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Confia em Mim
Confia em Mim
Em seu primeiro longa-metragem, Michel Tikhormiroff tem um mérito: buscar algo diferente do que tem sido feito no cinema nacional. O suspense Confia em Mim, no entanto, carece de alma e criatividade. O que vemos em tela é algo previsível, didático e pouco envolvente. Ainda que tenha alguns poucos bons momentos.
O filme se centra no casal Mari e Caio, vividos por Fernanda Machado e Mateus Solano. Ela é uma chefe de cozinha talentosa, porém extremamente insegura, que aceita os maus tratos de um chefe menos competente que ela. Ele, um cara simpático, boa praça, que a envolve aos poucos e convence de que merece ter seu próprio restaurante. Quanto Mari resolve seguir os conselhos do novo amado, ele some com o dinheiro, criando uma tensão que seria interessante se não fossem vários poréns.
O problema do roteiro já começa na construção dos personagens. Tudo é estereotipado demais, não parece real. Mari é uma garota talentosa e ingênua. Parece que não é desse mundo, não confiando em si mesma ao ponto de acertar um desafio de vinho e nem tentar ganhar o prêmio anunciado. Forçada também é a forma como sua família a vê, tanto a mãe quanto a irmã, "é a Mari, né, mãe", diz a garota após o golpe, em uma cena que parece ensaiada em escola. Já Caio, faz o seu papel de "homem perfeito" para dar golpe, mas já demonstra em várias pistas de que gosta de infringir regras, vide o que faz no teatro e no restaurante do flat.
Os personagens secundários também são poucos desenvolvidos, como a amiga Teresa, que é aquele eterno ombro amigo, sem muita personalidade. O policial Vicente, que é quase um pai para Mari em contrapartida aos dois policiais que registram sua queixa e desdenham de seu caso. Isso sem falar no chefe, que é o típico "chefe mau", que abusa psicologicamente dos funcionários. A mãe da moça, então, não nos dá nenhum motivo plausível para implicar tanto com a filha.
O outro problema do roteiro está na previsibilidade. Tudo vai sendo "cantado", antes do seu desenvolvimento. Mas, isso também é culpa do excesso de clichês do gênero que são convocados para fazer um filme correto, digamos assim. O problema maior é que, diante de tudo isso, temos um certo distanciamento da protagonista. Primeiro, ela é ingênua demais, isso acaba irritando em vez criar complacência. Segundo, ela não chega a sofrer um golpe financeiro duro, ainda que psicologicamente abalada. O dinheiro não eram suas economias e sim, de sua mãe, que parecia não sentir falta de 200 mil reais. Terceiro que, mesmo com tudo isso e um chefe ruim, ela não chegou a perder o emprego, ou seja, a vida poderia continuar.
De qualquer maneira, a curiosidade em relação ao golpe, acaba nos fazendo criar um certo vínculo com a trama, principalmente quando o personagem de Mateus Solano retorna com uma desculpa. Uma pena que um flashback queira, mais uma vez, explicar o que não precisava. A criação da tensão também é frágil, ainda que nos dê algumas construções interessantes como o detalhe da chave ou do relógio. Estranho é a escolha de alguns efeitos, como uma câmera desfocada em um momento-chave. Ainda assim, há méritos em uma direção correta, ainda que sem grandes marcas ou qualquer inovação.
Como se não bastasse, a resolução do filme parece construir um anti-clímax diante de tantas possibilidades expostas. Há uma construção, ainda que rasa, com pista e recompensa, além de pensar na realidade desse tipo de caso. Mas, ainda assim, algumas quebras de expectativa incomodam. Principalmente, porque, ao analisar a motivação dos personagens, muita coisa não faz sentido.
Confia em Mim acaba sendo uma tentativa, válida por buscar ir além do estabelecido. Mas, que esbarra na falta de pretensão. Ao não trazer algo próprio, seguindo uma cartilha de gênero norte-americana, Michel Tikhomiroff acaba construindo um filme vazio que nos dá a sensação eterna de encenação e não de realidade.
Confia em Mim (Confia em Mim, 2014 / Brasil)
Direção: Michel Tikhomiroff
Roteiro: Fabio Danesi
Com: Mateus Solano, Fernanda Machado, Fernanda D'Umbra, Bruno Giordano
Duração: 85 min.
O filme se centra no casal Mari e Caio, vividos por Fernanda Machado e Mateus Solano. Ela é uma chefe de cozinha talentosa, porém extremamente insegura, que aceita os maus tratos de um chefe menos competente que ela. Ele, um cara simpático, boa praça, que a envolve aos poucos e convence de que merece ter seu próprio restaurante. Quanto Mari resolve seguir os conselhos do novo amado, ele some com o dinheiro, criando uma tensão que seria interessante se não fossem vários poréns.
O problema do roteiro já começa na construção dos personagens. Tudo é estereotipado demais, não parece real. Mari é uma garota talentosa e ingênua. Parece que não é desse mundo, não confiando em si mesma ao ponto de acertar um desafio de vinho e nem tentar ganhar o prêmio anunciado. Forçada também é a forma como sua família a vê, tanto a mãe quanto a irmã, "é a Mari, né, mãe", diz a garota após o golpe, em uma cena que parece ensaiada em escola. Já Caio, faz o seu papel de "homem perfeito" para dar golpe, mas já demonstra em várias pistas de que gosta de infringir regras, vide o que faz no teatro e no restaurante do flat.
Os personagens secundários também são poucos desenvolvidos, como a amiga Teresa, que é aquele eterno ombro amigo, sem muita personalidade. O policial Vicente, que é quase um pai para Mari em contrapartida aos dois policiais que registram sua queixa e desdenham de seu caso. Isso sem falar no chefe, que é o típico "chefe mau", que abusa psicologicamente dos funcionários. A mãe da moça, então, não nos dá nenhum motivo plausível para implicar tanto com a filha.
O outro problema do roteiro está na previsibilidade. Tudo vai sendo "cantado", antes do seu desenvolvimento. Mas, isso também é culpa do excesso de clichês do gênero que são convocados para fazer um filme correto, digamos assim. O problema maior é que, diante de tudo isso, temos um certo distanciamento da protagonista. Primeiro, ela é ingênua demais, isso acaba irritando em vez criar complacência. Segundo, ela não chega a sofrer um golpe financeiro duro, ainda que psicologicamente abalada. O dinheiro não eram suas economias e sim, de sua mãe, que parecia não sentir falta de 200 mil reais. Terceiro que, mesmo com tudo isso e um chefe ruim, ela não chegou a perder o emprego, ou seja, a vida poderia continuar.
De qualquer maneira, a curiosidade em relação ao golpe, acaba nos fazendo criar um certo vínculo com a trama, principalmente quando o personagem de Mateus Solano retorna com uma desculpa. Uma pena que um flashback queira, mais uma vez, explicar o que não precisava. A criação da tensão também é frágil, ainda que nos dê algumas construções interessantes como o detalhe da chave ou do relógio. Estranho é a escolha de alguns efeitos, como uma câmera desfocada em um momento-chave. Ainda assim, há méritos em uma direção correta, ainda que sem grandes marcas ou qualquer inovação.
Como se não bastasse, a resolução do filme parece construir um anti-clímax diante de tantas possibilidades expostas. Há uma construção, ainda que rasa, com pista e recompensa, além de pensar na realidade desse tipo de caso. Mas, ainda assim, algumas quebras de expectativa incomodam. Principalmente, porque, ao analisar a motivação dos personagens, muita coisa não faz sentido.
Confia em Mim acaba sendo uma tentativa, válida por buscar ir além do estabelecido. Mas, que esbarra na falta de pretensão. Ao não trazer algo próprio, seguindo uma cartilha de gênero norte-americana, Michel Tikhomiroff acaba construindo um filme vazio que nos dá a sensação eterna de encenação e não de realidade.
Confia em Mim (Confia em Mim, 2014 / Brasil)
Direção: Michel Tikhomiroff
Roteiro: Fabio Danesi
Com: Mateus Solano, Fernanda Machado, Fernanda D'Umbra, Bruno Giordano
Duração: 85 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Confia em Mim
2014-04-09T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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