A premissa é a mesma do curta. Leonardo é um garoto cego, que tem como melhor amiga sua colega de turma Giovana. A amizade dos dois sofre um abalo com a chegada de um novo garoto no colégio: Gabriel. A aproximação dos dois, fará Leonardo descobrir sua própria sexualidade, causando ciúmes em Giovana e despertando outras inseguranças. A novidade é que aqui, outros personagens são envolvidos nessa trama.
Com mais tempo para desenvolver seus personagens e o arco dramático desse triângulo amoroso, Daniel Ribeiro nos dá uma dimensão melhor do que queria passar. A homossexualidade continua sendo tratada de uma maneira bastante natural, sem tabus. Já a deficiência visual do personagem, aqui é mais explorada, ressaltando um preconceito dos colegas e um excesso de preocupação da mãe do protagonista. Este é um dos plots da trama.
Leonardo é um garoto como outro qualquer, pelo menos é como ele quer ser visto. Sua mãe, porém, tem um cuidado excessivo que o sufoca, tanto que pensa em sair do país através de um intercâmbio. Seus colegas no colégio também vivem a fazer piadas tolas e outros tipos de bullying como o episódio na festa. Apesar disso, ele consegue viver e fazer suas atividades normalmente, principalmente por contar com a ajuda de Giovana e Gabriel.
O contraponto familiar também é explorado de uma maneira bem realista. Enquanto a mãe é um exagero de preocupação tratando o filho quase como um incapaz, o pai busca sempre ponderar e compreender o seu lado. Tanto que na cena em que ajuda a fazer a barba, ele apenas indica o caminho, deixando o filho passar a lâmina no rosto. A mãe, provavelmente, faria por ele. A conversa sobre o intercâmbio, por exemplo, mostra bem a visão ponderada que ele tem da situação.
É instigante que o filme busque passar a "visão" do protagonista, através de imagens. Estamos próximos de Leonardo, mas nunca sabemos exatamente como é ser como ele. São seus pequenos gestos que nos dão as pistas do que sente, como uma expressão de decepção ou euforia a cada estímulo de Gabriel. Ou em cenas mais explícitas como a do moletom, que gera uma bela cena de despertar de sensações. Ou ainda a cena do pesadelo do garoto, em uma mistura de imagens e sombras.
Mas, é interessante também como o filme busca trabalhar os sentimentos de Gabriel a partir do não dito. O beijo roubado, a desculpa da bebida, suas expressões dúbias ou a cena no vestiário com seu constrangimento ao tentar disfarçar o indisfarçável. E, mais uma vez, tudo construído com muita delicadeza e naturalidade. Não há apelação, nem exposição desnecessária. Tudo muito bonito.
No final das contas, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é uma expansão mais do que bem-vinda. Não estraga uma bela história, pelo contrário, resolve algumas pontas soltas como a resolução apressada do curta, trabalhando as situações e seus personagens como eles merecem. Tudo de uma maneira bem simples, sincera e envolvente. Mais um belo exemplar para a filmografia brasileira deste ano.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014 / Brasil)
Direção: Daniel Ribeiro
Roteiro: Daniel Ribeiro
Com: Ghilherme Lobo, Fabio Audi, Tess Amorim
Duração: 95min.