Scarface
A crítica e os cinéfilos sempre tendem a "torcer o nariz" quando se fala em refilmar clássicos. Scarface é um exemplo de que muitas vezes, uma nova roupagem a uma história pode fazer bem ao cinema. Ainda que não desmereça a versão anterior dirigida por Howard Hawks, o filme de Brian De Palma se tornou referência, destaque em sua filmografia e na carreira de Al Pacino.
Entre a história de 1932 e a de 1983 há algumas diferenças. O novo roteiro, escrito por Oliver Stone, não apenas adaptou a história para os anos 80, como também trocou o imigrante italiano por um exilado cubano e transportou a história de Chicago para Miami. Mas a premissa continua a mesma, um homem estrangeiro que tenta subir na vida, através da forma distorcida do sonho americano, envolvido com a criminalidade, tráfico de drogas e outras posturas ilícitas.
O filme se tornou um clássico por diversos motivos. Os maiores deles, a direção firme e criativa de Brian De Palma e a interpretação impressionante de Al Pacino que transformou Tony Montana em um ícone com direito a frases célebres e cenas memoráveis. A construção do personagem é muito bem feita desde sua primeira aparição. A cena do interrogatório no setor de imigração do país, é sensacional.
Começando com um plano bem fechado e, aos poucos, nos mostrando o ambiente, em um diálogo ágil onde os policiais tentam intimidar o personagem, mas ele sempre se sai de uma maneira segura e tranquila. "Sou um preso político", ele afirma. E quem tem como provar o contrário, quando Fidel despachou milhares para os Estados Unidos sem explicações detalhadas? Tony é esperto e faz de tudo para enganar os policias, jogando o próprio jogo americano ao colocar a questão capitalismo versus socialismo em pauta.
Aos poucos, ele vai conseguindo conquistar um espaço na cidade. Primeiro trabalhando com o chefão local, fazendo pequenos serviços. Com o tempo, vai se tornando uma espécie de braço direito do chefe, negociando drogas com outros chefões e se tornando uma espécie de referência para os demais.
Mas, apesar de tudo, Tony tem um bom coração quando se trata de amigos e familiares. Super protetor de sua irmã Gina, preocupado com sua mãe e leal ao amigo Manny, ele também se apaixona por Elvira, mulher do chefe. Tudo isso, acaba causando problemas diversos em sua jornada, culminado na trajetória trágica do personagem, que desde o princípio parecia fadado ao problema.
Scarface é um filme complexo, longo, porém, bem desenvolvido, que nos mostra uma saga simples em certo ponto. Mas extremamente complexa ao construir um personagem que não é simplesmente bom ou mau. As escolhas de Tony, a forma como age, torna-se imprevisível em muitos momentos, seguindo um código de ética próprio, como quando se recusa a matar "uma mãe e duas filhas". E Al Pacino consegue nos passar perfeitamente isso.
Brian De Palma também demonstra precisão em sua composição da mise-en-scène do filme seja em detalhes aparentemente simples como uma lixeira com uma maçã pintada em sua frente, lotada de lixo, criando uma espécie de metáfora da cidade de Nova York "suja", à composições emblemáticas e complexas com a cena da boate, onde um jogo de espelhos nos mostra uma variação complexa de reflexos e imagens invertidas em uma das cenas chaves do filme.
Ainda que com efeitos especiais e trilha sonora datadas, o filme consegue se comunicar ainda hoje pela força dos personagens e pela violência explícita que continua a chocar plateias. Scarface é daqueles filmes que permanecem no imaginário e merecem ser sempre revisitados.
Scarface (Scarface, 1983 / EUA)
Direção: Brian De Palma
Roteiro: Oliver Stone
Com: Al Pacino, Michelle Pfeiffer, Steven Bauer
Duração: 170 min.
Entre a história de 1932 e a de 1983 há algumas diferenças. O novo roteiro, escrito por Oliver Stone, não apenas adaptou a história para os anos 80, como também trocou o imigrante italiano por um exilado cubano e transportou a história de Chicago para Miami. Mas a premissa continua a mesma, um homem estrangeiro que tenta subir na vida, através da forma distorcida do sonho americano, envolvido com a criminalidade, tráfico de drogas e outras posturas ilícitas.
O filme se tornou um clássico por diversos motivos. Os maiores deles, a direção firme e criativa de Brian De Palma e a interpretação impressionante de Al Pacino que transformou Tony Montana em um ícone com direito a frases célebres e cenas memoráveis. A construção do personagem é muito bem feita desde sua primeira aparição. A cena do interrogatório no setor de imigração do país, é sensacional.
Começando com um plano bem fechado e, aos poucos, nos mostrando o ambiente, em um diálogo ágil onde os policiais tentam intimidar o personagem, mas ele sempre se sai de uma maneira segura e tranquila. "Sou um preso político", ele afirma. E quem tem como provar o contrário, quando Fidel despachou milhares para os Estados Unidos sem explicações detalhadas? Tony é esperto e faz de tudo para enganar os policias, jogando o próprio jogo americano ao colocar a questão capitalismo versus socialismo em pauta.
Aos poucos, ele vai conseguindo conquistar um espaço na cidade. Primeiro trabalhando com o chefão local, fazendo pequenos serviços. Com o tempo, vai se tornando uma espécie de braço direito do chefe, negociando drogas com outros chefões e se tornando uma espécie de referência para os demais.
Mas, apesar de tudo, Tony tem um bom coração quando se trata de amigos e familiares. Super protetor de sua irmã Gina, preocupado com sua mãe e leal ao amigo Manny, ele também se apaixona por Elvira, mulher do chefe. Tudo isso, acaba causando problemas diversos em sua jornada, culminado na trajetória trágica do personagem, que desde o princípio parecia fadado ao problema.
Scarface é um filme complexo, longo, porém, bem desenvolvido, que nos mostra uma saga simples em certo ponto. Mas extremamente complexa ao construir um personagem que não é simplesmente bom ou mau. As escolhas de Tony, a forma como age, torna-se imprevisível em muitos momentos, seguindo um código de ética próprio, como quando se recusa a matar "uma mãe e duas filhas". E Al Pacino consegue nos passar perfeitamente isso.
Brian De Palma também demonstra precisão em sua composição da mise-en-scène do filme seja em detalhes aparentemente simples como uma lixeira com uma maçã pintada em sua frente, lotada de lixo, criando uma espécie de metáfora da cidade de Nova York "suja", à composições emblemáticas e complexas com a cena da boate, onde um jogo de espelhos nos mostra uma variação complexa de reflexos e imagens invertidas em uma das cenas chaves do filme.
Ainda que com efeitos especiais e trilha sonora datadas, o filme consegue se comunicar ainda hoje pela força dos personagens e pela violência explícita que continua a chocar plateias. Scarface é daqueles filmes que permanecem no imaginário e merecem ser sempre revisitados.
Scarface (Scarface, 1983 / EUA)
Direção: Brian De Palma
Roteiro: Oliver Stone
Com: Al Pacino, Michelle Pfeiffer, Steven Bauer
Duração: 170 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Scarface
2014-04-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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