CineClube Glauber Rocha
Os cinéfilos de Salvador já podem comemorar. Nessa terça-feira, dia 06 de maio, terá a primeira sessão do Cineclube Glauber Rocha. O filme não poderia ser mais emblemático, Laranja Mecânica de Kubrick. O filme que ficou proibido por anos e teve sua cópia restaurada no ano passado, combina bem com o clima de desalento que marca o país. A trama de Alex nunca pareceu tão atual. E claro, é um marco do cinema.
A ideia do CineClube é exatamente despertar essa paixão cinematográfica. "Queremos trabalhar o resgate dessa cinefilia que já foi tão forte em Salvador e que se perdeu. Fazer com que as pessoas se importem com o cinema, que curtam o cinema, que possam entender a diferença que é apreciar um filme em uma sala em condições especiais", explicou Cláudio em uma entrevista dada em 2013 aqui no site.
Após a exibição do filme, estava programado um debate com o crítico João Carlos Sampaio, que infelizmente foi chamado a outra esfera, onde, com certeza, tinha compromissos mais urgentes. Talvez esteja até ao lado de Kubrick, explicando o porquê de terem liberado a exibição do filme que este proibira após as críticas ferrenhas da época de lançamento.
A sessão, então, virou uma homenagem a esse crítico contagiante que tanto amava o cinema. Essa arte apaixonante, que tanto Cláudio quanto Sylvia Abreu em recente entrevista apontaram estar se perdendo no mundo atual. As pessoas não parecem se importar mais com o cinema em si, mas com uma espécie de entretenimento fácil que lota as salas de shoppings com comédias e blockbusters, muitas vezes de gostos duvidosos. E esvazia as salas de rua, como o Espaço Itaú Glauber Rocha.
O cinema é uma espécie de ícone da cidade, desde o tempo em que se chamava Cine Guarany. Inaugurado em 1919 como Cine-Theatro Kursaal-Baiano, no ano seguinte já tinha sido rebatizado, exibindo filmes vindos dos Estados Unidos e Europa. Instalado na Praça Castro Alves, que é do povo, abrigou também a época áurea do ciclo baiano de cinema. A estreia de Redenção, por exemplo, foi lá. Assim como tantos outros filmes que foram feitos na Bahia na década de 60.
Não por acaso, também, após a morte de Glauber Rocha, o cinema mudou de nome, homenageando o maior cineasta da terra, que não se importava apenas em fazer filmes, mas em vivenciar o cinema. Glauber era antes de tudo um cinéfilo, formado no cineclube organizado por Walter da Silveira na década de 50. Foi também um teórico fervoroso, se importando com a arte enquanto linguagem, proposta e, claro, posição política. Inspirou muitos, incomodou tantos outros. Sempre autêntico.
Mas, o momento cinematográfico brasileiro na década de 80 não era bom, e o Cine Glauber Rocha (rebatizado em 1982) não durou muito tempo, fechando as portas em 1988 e ficando abandonado até sua reforma e relançamento em 2009. Foi uma grande notícia para o cinema baiano e para os cinéfilos que viram ali um porto importante.
E por isso, também, esse espaço que já foi Guarany e já foi Glauber Rocha, se transformou, e acertadamente, se manteve fiel às origens. O Espaço Itaú Glauber Rocha é um dos poucos cinemas de rua que ainda resiste na capital baiana. É comercial, também, claro, não dá para não ser em dias como esses. Suas quatro salas sempre equilibram blockbusters com filmes independentes. Mas, há um clima cinéfilo naquele local que não encontramos nos shoppings. Isso é gostoso de acompanhar. E ao mesmo tempo triste diante dos públicos cada vez menores e dos problemas cada vez maiores.
Quem vai ao Glauber sabe a dificuldade de locomoção. Ônibus são poucos e para os carros, o estacionamento é cada vez menor. O que tinha do outro lado da rua, mesmo pago, fechou, virou particular. E não foram poucas vezes que presenciei as filas na rua esperando uma vaga no pequeno estacionamento ao lado do cinema. Parece que falta interesse das vias públicas e privadas em investir ali. O que é uma pena. O estacionamento que citei, por exemplo, poderia ser um bom negócio, até porque é grande o suficiente para abrigar públicos das quatro salas.
Por isso, também, o Cineclube Glauber Rocha chega em bom momento. Uma forma de reacender a cinefilia e o costume de ir ao cinema de rua. As sessões são especiais e o preço simbólico. R$ 1,00 a inteira, R$ 0,50 a meia. E Laranja Mecânica é apenas o primeiro de muitos outros grandes filmes da história que prometem povoar as noites baianas.
A ideia do CineClube é exatamente despertar essa paixão cinematográfica. "Queremos trabalhar o resgate dessa cinefilia que já foi tão forte em Salvador e que se perdeu. Fazer com que as pessoas se importem com o cinema, que curtam o cinema, que possam entender a diferença que é apreciar um filme em uma sala em condições especiais", explicou Cláudio em uma entrevista dada em 2013 aqui no site.
Após a exibição do filme, estava programado um debate com o crítico João Carlos Sampaio, que infelizmente foi chamado a outra esfera, onde, com certeza, tinha compromissos mais urgentes. Talvez esteja até ao lado de Kubrick, explicando o porquê de terem liberado a exibição do filme que este proibira após as críticas ferrenhas da época de lançamento.
A sessão, então, virou uma homenagem a esse crítico contagiante que tanto amava o cinema. Essa arte apaixonante, que tanto Cláudio quanto Sylvia Abreu em recente entrevista apontaram estar se perdendo no mundo atual. As pessoas não parecem se importar mais com o cinema em si, mas com uma espécie de entretenimento fácil que lota as salas de shoppings com comédias e blockbusters, muitas vezes de gostos duvidosos. E esvazia as salas de rua, como o Espaço Itaú Glauber Rocha.
O cinema é uma espécie de ícone da cidade, desde o tempo em que se chamava Cine Guarany. Inaugurado em 1919 como Cine-Theatro Kursaal-Baiano, no ano seguinte já tinha sido rebatizado, exibindo filmes vindos dos Estados Unidos e Europa. Instalado na Praça Castro Alves, que é do povo, abrigou também a época áurea do ciclo baiano de cinema. A estreia de Redenção, por exemplo, foi lá. Assim como tantos outros filmes que foram feitos na Bahia na década de 60.
Não por acaso, também, após a morte de Glauber Rocha, o cinema mudou de nome, homenageando o maior cineasta da terra, que não se importava apenas em fazer filmes, mas em vivenciar o cinema. Glauber era antes de tudo um cinéfilo, formado no cineclube organizado por Walter da Silveira na década de 50. Foi também um teórico fervoroso, se importando com a arte enquanto linguagem, proposta e, claro, posição política. Inspirou muitos, incomodou tantos outros. Sempre autêntico.
Mas, o momento cinematográfico brasileiro na década de 80 não era bom, e o Cine Glauber Rocha (rebatizado em 1982) não durou muito tempo, fechando as portas em 1988 e ficando abandonado até sua reforma e relançamento em 2009. Foi uma grande notícia para o cinema baiano e para os cinéfilos que viram ali um porto importante.
E por isso, também, esse espaço que já foi Guarany e já foi Glauber Rocha, se transformou, e acertadamente, se manteve fiel às origens. O Espaço Itaú Glauber Rocha é um dos poucos cinemas de rua que ainda resiste na capital baiana. É comercial, também, claro, não dá para não ser em dias como esses. Suas quatro salas sempre equilibram blockbusters com filmes independentes. Mas, há um clima cinéfilo naquele local que não encontramos nos shoppings. Isso é gostoso de acompanhar. E ao mesmo tempo triste diante dos públicos cada vez menores e dos problemas cada vez maiores.
Quem vai ao Glauber sabe a dificuldade de locomoção. Ônibus são poucos e para os carros, o estacionamento é cada vez menor. O que tinha do outro lado da rua, mesmo pago, fechou, virou particular. E não foram poucas vezes que presenciei as filas na rua esperando uma vaga no pequeno estacionamento ao lado do cinema. Parece que falta interesse das vias públicas e privadas em investir ali. O que é uma pena. O estacionamento que citei, por exemplo, poderia ser um bom negócio, até porque é grande o suficiente para abrigar públicos das quatro salas.
Por isso, também, o Cineclube Glauber Rocha chega em bom momento. Uma forma de reacender a cinefilia e o costume de ir ao cinema de rua. As sessões são especiais e o preço simbólico. R$ 1,00 a inteira, R$ 0,50 a meia. E Laranja Mecânica é apenas o primeiro de muitos outros grandes filmes da história que prometem povoar as noites baianas.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
CineClube Glauber Rocha
2014-05-06T08:30:00-03:00
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