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Pau Brasil - Filme"Vivo porque sou alma condenada a viver", sentencia a personagem de Arany Santana. E é por aí que segue o primeiro longa-metragem de Fernando Belens ao retratar a vida de um pequeno vilarejo perdido no tempo e espaço, que constrói a si mesmo na rotina impalpável da hipocrisia humana.

O roteiro, baseado no livro homônimo de Dinorath do Valle, foca em duas famílias distintas. Uma bastante atípica, composta por um marido generoso e pacato, uma mulher fogosa e também generosa, um amigo surgido do nada e um filho que gera maledicências por ser negro de pais brancos. No outro lado da rua, outra família, infelizmente, típica do interior. Um pai cruel que leva todos na linha, uma esposa e duas filhas amedrontadas pelas ameças paternas. A mais velha, responde como um cordeiro de cabeça baixa, enquanto a mais nova é rebelde e planeja uma fuga.

Pau Brasil - FilmeA personagem de Arany Santana é uma espécie de arauto local, personificada em uma "preta velha", mas que cumpre bem a função de comentarista ao estilo do teatro grego, profetizando e jogando verdades filosóficas em tela. Esta composição estranha à linhagem atual, assim como algumas outras digressões ou simbologias, podem tornar Pau Brasil de difícil digestão para o público, mas dentro dessa intensidade e densidade há uma história bastante palpável e humana.

O filme fala sobre desejos, sejam eles reprimidos ou escancarados. E a forma como os que se reprimem acabam condenando os que se soltam. A maior representatividade disso está no personagem de Oswaldo Mil, que brada aos sete ventos a "pouca vergonha" da vizinha que dorme com todos os caminhoneiros enquanto o marido está fora. Mas, dentro de casa também tem seus desejos reprimidos que se expõem em momentos de raiva. É um infeliz, em uma família infeliz, enquanto que a personagem de Fernanda Paquelet se diz realizada por não lhe faltar nada do bom marido vivido por Bertrand Duarte. E isso seria mesmo verdade, se outros desejos não fossem reprimidos naquela família.

Pau Brasil - FilmeVindo da geração superoitista que surgiu na Bahia nos anos 80, Fernando Belens consegue dar vitalidade à sua história, ainda que pareça muito carregada da linguagem teatral. Com muitos planos abertos e espaço para o ator se mostrar, o filme traz também elementos da linguagem cinematográfica que nos encantam, como uma fotografia muito bem cuidada, bonita de se ver, é verdade, mas que está à serviço da trama, nos mostrando a realidade daquele mundo à parte, cercado pelo mar e uma estrada de barro. Tanto que vemos em uma cena o mar bastante agitado, retratando as emoções locais, enquanto que em outro, ele está calmo, como se tudo tivesse se resolvido.

Pau Brasil - FilmeA trilha sonora também é marcante, dando o ritmo das passagens, e principalmente, das cenas de Arany Santana. Há uma origem de raiz ali, que envolve e nos deixa dentro da trama. Vivenciando junto com os personagens todo aquele caos. Nisso, a direção de arte também ajuda bastante, construindo um cenário único, que mistura a pobreza humana com a esperança de dias melhores através dos sonhos de cada um.

Os atores são outro ponto forte do filme, como já foi explicitado, a direção deixa espaço para eles, que aproveitam. Principalmente, Bertrand Duarte que constrói o contido e bondoso marido, Oswaldo Mil que é o oposto, em explosão e raiva. E as duas meninas vividas por Fernanda Belling e Milena Flick que seguram bem o denso texto e se destacam na maioria das cenas.

Pau Brasil é um filme difícil, é verdade. Extremamente denso, com experimentações pouco comuns no cinema atual e flertando demais com o teatro, traz estranhamento. Mas, ao mesmo tempo, tem, uma verdade e uma composição tão forte de humanidade que nos envolve e encanta. Um filme para nos fazer pensar.



Pau Brasil (Pau Brasil, 2009 / Brasil)
Direção: Fernando Belens
Roteiro: Fernando Belens e Dinorath do Valle
Com: Bertrand Duarte, Oswaldo Mil, Fernanda Paquelet, Arany Santana, Fernanda Belling e Milena Flick
Duração: 98 min

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