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Canção para Marion

Canção para MarionTerceira idade reencontrando o sentido da vida através da música. Não é um tema incomum. E a rebeldia do coral liderado pela jovem Elizabeth, interpretada por Gemma Arterton, lembra muito a situação quase vexatória de Mudança de Hábito. Mas, até por isso, é divertido, é leve e nos envolve de uma maneira muito doce.

O filme se centra no casal Arthur e Marion, interpretados por Terence Stamp e Vanessa Redgrave. E nisso reside o maior trunfo do filme, já que ambos esbanjam talento em personagens tão especiais. Arthur é um homem ranzinza que guarda seus sentimentos para si, sempre desagradável, mas completamente devoto a sua esposa, Marion. A única que parece ver algo a mais nele. Ela, por sua vez, é a alegria em pessoa, generosa, amigável, com sede de vida, apesar de ser uma paciente terminal de câncer.

Canção para MarionOs dois melhores momentos do filme, sem dúvidas, envolvem os dois atores e música. Não entro em maiores detalhes para não estragar a surpresa, mas a emoção que ambos conseguem passar na voz, no olhar, na expressão corporal é incrível. Vanessa Redgrave treme tanto em sua cena que a sensação é de que a própria atriz está nervosa ali. Enquanto que Terence Stamp nos mostra uma emoção contida no olhar, fazendo jus a seu personagem. Isso sem falar na escolha musical que é extremamente propícia.

Canção para MarionMas, o filme não se resume a interpretação dos dois. É composta também nos detalhes. Há uma cena em que Arthur volta para casa quando Marion está na UTI que é extremamente sensível. Ele deitado na cama, olhando o lado dela vazio, passa a mão como se a acariciasse e podemos ver a emoção, o medo da perda. É a capacidade de traduzir emoções em imagens que faz de Canção para Marion um filme especial.

O roteiro não tem grandes viradas, nem inovações. É quase tolo, previsível, cheio de clichês. Mas, é emocionante. A gente se sente bem vendo aquilo. Talvez o amor de Marion e Arthur seja o que as plateias que saíram revoltadas do filme Amor quisessem ver. Um amor forte e sincero na maturidade, que resistiu a uma vida inteira, e mesmo na doença, sobrevive, sofrido, mas leve ao mesmo tempo, nos mostrando esperança.

Canção para MarionE Paul Andrew Williams consegue nos dar bons momentos com sua câmera. Alguns enquadramentos chamam a atenção como em uma cena em que Arthur está no quarto velando o sono de Marion, e o filho deles está com a neta na cozinha, conversando de maneira leve. O contraste da vida que se vai e da que está apenas iniciando é bastante interessante, ainda mais vista em uma mesma tela, divididas por uma parede. Aliás, o diretor lembra em muitos momentos a neurose de Kubrick pela simetria. Podemos perceber muitos enquadramentos simétricos com portas dentro de portas sob perspectivas.

Canção para Marion não é um filme espetacular, não inova, nem é extremante inteligente em sua trama. Mas, ele consegue nos emocionar e ir além de qualquer razão. É aquele momento em que simplesmente deixamos o coração falar e sorrimos com uma bela história de amor. Pena que passou quase despercebido na época do seu lançamento.


Canção para Marion (Song for Marion, 2012 / Inglaterra)
Direção: Paul Andrew Williams
Roteiro: Paul Andrew Williams
Com: Terence Stamp, Gemma Arterton, Christopher Eccleston, Vanessa Redgrave
Duração: 93 min.

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