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Dominguinhos

DominguinhosHoje é dia de São João. Então, nada melhor do que falar deste documentário que estreou mês passado no Brasil e ainda pode ser visto nos cinemas de todo o país. Dominguinhos resgata não apenas a história do músico do título, como a cultura sertaneja e o baião, gênero imortalizado por Luiz Gonzaga de quem ele foi o maior discípulo.

O documentário feito a três mãos traz uma mistura de estilos e formatos que poderia ser mais conciso, mas não deixa de ser interessante, principalmente na primeira parte, quando utiliza a narração do músico e suas músicas para ilustrar imagens do sertão brasileiro e seu povo. A vida e dificuldades do sertanejo, sua cultura, o cangaço, as tradições, tudo acaba sendo abordado de uma maneira poética e bela.

DominguinhosO filme já começa simbólico com um acordeão abrindo e fechando ao som de um pulmão respirando fundo. Esse instrumento que, de fato, é o pulmão do baião, mas que também sustenta tão bem a música popular brasileira como um todo. Tanto que durante o documentário vemos Dominguinhos tocando com nomes como Gal Costa, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Nara Leão, Nana Caymmi e Djavan. Isso sem falar na cena final, que é das mais emocionantes.

Porém, ainda que tenha costuras interessantes, o filme parece meio disperso no roteiro. Não sei até que ponto é responsabilidade de Di Moretti ou dos três diretores que quiseram imprimir diversos estilos no mesmo. Como disse, o filme começa com imagens ilustrando a narração de Dominguinhos, até que do nada, ela é cortada para uma cena musical que não tem tanta ligação com o que estava sendo dito. Depois, temos uma série de clipes com músicas e imagens do sertão, que são muito bons. Até que a narração continua intercalando, agora, imagens da carreira do músico com diversas parcerias.

DominguinhosGonzagão, claro, ganha um bom espaço em toda a história. Era ídolo, inspiração e principal incentivador de Dominguinhos. E podemos ver imagens incríveis, como uma disputa pelo xaxado entre os dois. Mas, em determinado momento, após contar sobre o convite para ser padrinho de seu casamento, que o rei do baião brigou e depois aceitou, somos apresentados a uma estranha cena de Luiz Gonzaga cantando uma música em uma casa, onde parte participa como ensaiado e outra parte assiste quase assustado ao número.

DominguinhosInterferências assim, acabam acontecendo durante toda a projeção. Temos diversos momentos em que parece que o corte da montagem foi antes do que deveria, como se faltasse algo. Mas, isso não chega a inutilizar o documentário, que traz belos momentos, imagens raras e muita emoção nesta homenagem mais do que merecida. Fica estranho apenas que nos créditos não tenha nenhuma referência ao falecimento do músico no ano passado. Do jeito que fica, parece que ele ainda está vivo. Talvez, seja uma vontade de deixá-lo assim, eternizado, mas não deixa de ser estranho.

De qualquer maneira, o documentário consegue passar a alma de Dominguinhos. A alma do sertanejo, da simplicidade, do amor à terra, daquele que prefere o silêncio à bagunça. O homem que gosta de cantar suas raízes. Poderia explorar mais a ideia dos clipes do início, ou seguir um mesmo formato o documentário inteiro. Mas, também vale como experiência. E viva ao São João, com muito Dominguinhos e baião.

Dominguinhos (Dominguinhos, 2014 / Brasil)
Direção: Mariana Aydar, Joaquim Castro, Eduardo Nazarian
Roteiro: Di Moretti
Duração: 79 min.

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