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Limite: Um mito do cinema brasileiro
Limite: Um mito do cinema brasileiro
Considerado Patrimônio Regional pela Unesco, em 2009, Limite é o filme mais icônico do cinema brasileiro. E tenho certeza que boa parte da população nem sabe que ele existe. Os soteropolitanos tem a chance de vê-lo hoje na Sala de Cinema da UFBA. A sessão começa às 18:40 e é gratuita. Então, se você puder ir, corra.
O filme foi dirigido por Mário Peixoto em 1931 e foi o único filme que ele dirigiu. Lembro de minhas aulas de cinema brasileiro na pós-graduação, quando o professor Cláudio Luiz Pereira dedicou uma aula inteira ao filme. E foi mesmo uma viagem fascinante por um mundo único. Mas, por que Limite é tão emblemático?
Primeiro, pela época em que foi produzido. Os anos 30, pós Semana de 22, quando o Brasil passava por uma renovação política e social com o início da Era Vargas, fim da República do Café com Leite, início da industrialização. E o mais importante para o cinema, início dos tempos do cinema sonoro. Limite, entre muitas coisas, é também um resistente do cinema mudo, que não utiliza nem mesmo legendas para se explicar.
Limite é um filme de vanguarda, é um experimento repleto de simbologias e também com uma força arrebatadora em sua tentativa de entender a alma humana. O filme fala de solidão humana e seu eterno desejo de evasão ou comunhão. Um filme complexo como seu autor, um jovem de 22 anos, rico na época, recém chegado da Europa, onde estudou na França e na Alemanha, um poeta solitário com diversas angústias e desentendimentos com o pai.
Tudo isso, de alguma maneira, Mário Peixoto passou para tela ao construir Limite. O filme nos mostra três pessoas, um homem e duas mulheres, em um barco à deriva. E suas histórias pregressas vão sendo narradas via flashback, nos mostrando que todos passaram por encruzilhadas em suas vidas. Uma mulher foge de uma prisão, a outra de um marido bêbado e violento, e o homem teme as consequências de ter se envolvido com uma mulher leprosa.
Ali, no meio do mar, após uma tempestade, eles encaram o limite da vida e da morte, da luta e da desistência, ao mesmo tempo que são sobreviventes, tal qual a humanidade, que parece simplesmente seguir o barco em uma construção temporal relativa. Até por isso, o roteiro ser não-linear é mais do que um achado. Não há esquemas, tudo é relativo. E o tempo, nada mais do que uma ilusão. Por isso, também, os planos longos e poéticos que nos envolvem e angustiam ao mesmo tempo.
Além de inovar na narrativa inventiva e repleta de simbologias, Mário Peixoto também inova na linguagem em si, com planos e montagem impressionantes. A busca pelo ritmo próprio, pelo significado, por uma síntese do próprio cinema. A fotografia também impressiona, principalmente a forma como ele utiliza as forças da natureza com espinhos e árvores retorcidas.
Tudo é impressionante e incomodou na época em que foi apresentado em uma única exibição em 17 de maio de 1931, que acabou em confusão. Por isso, o cineasta o proibiu. O filme só foi restaurado na década de 80 e resgatado também em alguns filmes como "Onde a terra acaba", de Sérgio Medrado e o curta "O homem do morcego" de Rui Solberg. O filme ainda foi utilizado em "O Cinema Falado" de Caetano Veloso, e Adriana Calcanhoto utilizou suas imagens em seu DVD "Adriana Partimpim" na música O "Mocho e a Gatinha".
Em 2007, David Bowie incluiu a obra em sua lista de dez filmes preferidos para o High Line Festival, sendo o único latino-americano entre os selecionados. E no mesmo ano, uma cópia restaurada foi exibida no Festival de Cannes, como um dos selecionados da World Cinema Foundation. Ou seja, sem querer usar o trocadilho infame, não há limites para a obra de Mário Peixoto. E bom seria se mais brasileiros pudessem conhecê-lo.
Limite (1931 / Brasil)
Direção: Mário Peixoto
Roteiro: Mário Peixoto
Com: Tatiana Rey, Edgar Brasil, Olga Breno
Duração: 120 min.
O filme foi dirigido por Mário Peixoto em 1931 e foi o único filme que ele dirigiu. Lembro de minhas aulas de cinema brasileiro na pós-graduação, quando o professor Cláudio Luiz Pereira dedicou uma aula inteira ao filme. E foi mesmo uma viagem fascinante por um mundo único. Mas, por que Limite é tão emblemático?
Primeiro, pela época em que foi produzido. Os anos 30, pós Semana de 22, quando o Brasil passava por uma renovação política e social com o início da Era Vargas, fim da República do Café com Leite, início da industrialização. E o mais importante para o cinema, início dos tempos do cinema sonoro. Limite, entre muitas coisas, é também um resistente do cinema mudo, que não utiliza nem mesmo legendas para se explicar.
Limite é um filme de vanguarda, é um experimento repleto de simbologias e também com uma força arrebatadora em sua tentativa de entender a alma humana. O filme fala de solidão humana e seu eterno desejo de evasão ou comunhão. Um filme complexo como seu autor, um jovem de 22 anos, rico na época, recém chegado da Europa, onde estudou na França e na Alemanha, um poeta solitário com diversas angústias e desentendimentos com o pai.
Tudo isso, de alguma maneira, Mário Peixoto passou para tela ao construir Limite. O filme nos mostra três pessoas, um homem e duas mulheres, em um barco à deriva. E suas histórias pregressas vão sendo narradas via flashback, nos mostrando que todos passaram por encruzilhadas em suas vidas. Uma mulher foge de uma prisão, a outra de um marido bêbado e violento, e o homem teme as consequências de ter se envolvido com uma mulher leprosa.
Ali, no meio do mar, após uma tempestade, eles encaram o limite da vida e da morte, da luta e da desistência, ao mesmo tempo que são sobreviventes, tal qual a humanidade, que parece simplesmente seguir o barco em uma construção temporal relativa. Até por isso, o roteiro ser não-linear é mais do que um achado. Não há esquemas, tudo é relativo. E o tempo, nada mais do que uma ilusão. Por isso, também, os planos longos e poéticos que nos envolvem e angustiam ao mesmo tempo.
Além de inovar na narrativa inventiva e repleta de simbologias, Mário Peixoto também inova na linguagem em si, com planos e montagem impressionantes. A busca pelo ritmo próprio, pelo significado, por uma síntese do próprio cinema. A fotografia também impressiona, principalmente a forma como ele utiliza as forças da natureza com espinhos e árvores retorcidas.
Tudo é impressionante e incomodou na época em que foi apresentado em uma única exibição em 17 de maio de 1931, que acabou em confusão. Por isso, o cineasta o proibiu. O filme só foi restaurado na década de 80 e resgatado também em alguns filmes como "Onde a terra acaba", de Sérgio Medrado e o curta "O homem do morcego" de Rui Solberg. O filme ainda foi utilizado em "O Cinema Falado" de Caetano Veloso, e Adriana Calcanhoto utilizou suas imagens em seu DVD "Adriana Partimpim" na música O "Mocho e a Gatinha".
Em 2007, David Bowie incluiu a obra em sua lista de dez filmes preferidos para o High Line Festival, sendo o único latino-americano entre os selecionados. E no mesmo ano, uma cópia restaurada foi exibida no Festival de Cannes, como um dos selecionados da World Cinema Foundation. Ou seja, sem querer usar o trocadilho infame, não há limites para a obra de Mário Peixoto. E bom seria se mais brasileiros pudessem conhecê-lo.
Limite (1931 / Brasil)
Direção: Mário Peixoto
Roteiro: Mário Peixoto
Com: Tatiana Rey, Edgar Brasil, Olga Breno
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Limite: Um mito do cinema brasileiro
2014-06-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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