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Adeus ao Mestre

André SetaroPouco mais de dois meses após a morte de João Carlos Sampaio, a crítica baiana sofre outra perda. Faleceu nesta quinta-feira, dia 10 de julho, o professor e crítico André Setaro, de infarto no miocárdio.

Setaro era professor da Faculdade Comunicação da UFBA há 35 anos, onde foi adorado por gerações de alunos que o viram discorrer sobre a linguagem cinematográfica, estética e Hitchcock, temas que lhe eram tão caros. Aliás, o cinema era um tema que estava sempre em pauta, principalmente nos dias de hoje, em que as salas estão tão maltratadas.

Crítico ferino e irônico, ele nunca deixou passar aquilo que considerava problema. Reclamava da má qualidade das projeções atuais, do cinema digital, do fim da película, da inutilidade do 3D e, claro, da falta de educação das plateias. Foi ele quem criou o termo "shoppear" para definir as plateias de cinema atuais que vão ver um filme como parte de um passeio no shopping.

Seus escritos no jornal Tribuna da Bahia, no Terra Magazine e no seu blog pessoal, o Setaro´s Blog não se resumiam a crítica cinematográfica, mas ao cinema em si. Como eterno professor, Setaro gostava de relembrar épocas, discorrer sobre movimentos e falar da história do cinema. Tanto que seu livro publicado pela Edufba, Escritos Sobre Cinema, é uma trilogia dividida em Cinema Baiano, onde fala sobre o cinema local ao longo da história, Linguagem e outros temas, onde se dedica a arte cinematográfica introduzindo a teoria, e Depoimentos, aqui sim com resenhas, críticas e crônicas sobre filmes, diretores e atores.

André SetaroSetaro passou por problemas de saúde e financeiros. Tanto que em 2011 fomos surpreendidos por um pedido inusitado no Facebook, onde ele dizia passar fome e não ter recursos para manter os remédios de sua saúde precária. Uma movimentação no meio foi realizada com doações e iniciativas de auxílio, como o Cine Setaro onde filmes baianos eram exibidos com uma explanação do crítico após a sessão.

Em 2013, pediu licença da UFBA para cuidar da saúde, mas retornou no primeiro semestre de 2014 e estava dando aula normalmente. Segundo a coordenadora da Facom, ele pretendia pedir aposentadoria em agosto. Estava em plena atividade, completamente lúcido, tanto que, na última sessão do CineClube Glauber Rocha, discutiu sobre o filme Hiroshima Mon Amour.

Com a partida de André Setaro, o cinema perde um defensor ferrenho da "Belle Époque", um apaixonado e apaixonante com todo conhecimento passado. Sofre a Bahia que perde uma referência de décadas de escrita, sofrem os alunos que ficaram com a memória do mito, sofre o cinema.

O que nos consola é que ele agora está lá, sendo recebido por todos os grandes cineastas que admirou e quem sabe até, troque algumas figurinhas com João Carlos Sampaio que o precedeu nos sustos do coração. A nós, resta a saudade e a responsabilidade ainda maior de continuar a jornada. Vá em paz, Mestre Setaro.



"E atualmente ir ao cinema é entrar num festim diabólico onde reinam as pipocas, as conversinhas fora de hora, os celulares que, atendidos, infernizam o espectador que queira contemplar o filme. O público de cinema, no Brasil, pelo menos, se tornou uma espécie de patuléia desvairada. Repito sempre que o ir ao cinema hoje é uma das fases do shoppear. Não se vai mais ao cinema, esta a verdade, mas aos shoppings. Até mesmo nas salas ditas alternativas o público se comporta com apatia e as pessoas gostam mais de aparecer, porque, na sua grande maioria, pseudo-cinéfilos, pseudo-intelectuais. Mas vou contar uma história". (A cinefilia, o vento já a levou - André Setaro)

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