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Avanti Popolo
Avanti Popolo
Avanti Popolo para quem não sabe significa "Avante Povo" e é a grande ironia de um filme que nos mostra a inércia de suas gerações marcadas pela ditadura militar e os sonhos comunistas.
O filme começa de maneira bastante instigante. Sob o ponto de vista do motorista de um carro, vamos andando por ruas enquanto ouvimos um especial de rádio sobre músicas da América Latina. Os detalhes do som interdiegético são muito bons, quando o carro desliga e o som some, ou quando falha por passar por uma rua esburacada.
Viajamos com ele até encontrarmos um dos protagonistas do filme no meio da rua. André é um homem quarentão que volta à casa do pai após um divórcio mal resolvido. O pai vive ali em uma casa parada no tempo, cheia de problemas internos e externos, junto a uma cadelinha de nome Baleia. Há uma certa inércia em ambos que nos angustia, e provavelmente angustia Baleia também, sempre querendo provocá-los e sair dali, inquieta.
O nome Baleia não deixa de nos remeter a Vidas Secas, e talvez, seja ela também aqui o único personagem "digno" de personalidade. Pai e filho se escoram no tempo esperando algo que não vai voltar. Principalmente o pai, que se deixou largar em uma vida apática à espera do filho que sumiu durante a Ditadura Militar. André, o filho que resta, não lhe parece tão interessante.
Mais instigado que o pai, ele começa a mexer em coisas antigas e encontra filmes antigos em Super-8 gravados pelo irmão. As cenas misturam momentos em família como aniversários, com momentos do país que vivia a Ditadura. As imagens vão sendo projetadas em paralelo a rotina de pai e filho, nos dando um formato diferente para o filme, com diversas estruturas documentais. Inclusive na postura de André que está sempre conversando com alguém invisível que pode ser até nós, a plateia, quebrando a quarta parede.
Em meio a essa estrutura quase anárquica temos críticas ao movimento socialista e também ao próprio cinema. É como se Michael Wahrmann quisesse nos mostrar uma paradeira generalizada sem rumo, sem ideologias. A ironia da cena em que um "cineasta" explica a André o Movimento Dogma 2002 é um exemplo disso. Um movimento em que é proibido filmar. Para fazer novos filmes só remontando e dublando. "Pra que você faz isso?", questiona André.
Talvez o cinema esteja assim, apenas se remontando e dublando, sem novos ares, tal qual a esquerda repete discursos antigos esperando um mundo novo que já passou. Nisto Avanti Popolo é instigante e até necessário enquanto reflexão. Reflexão de se não estamos igual ao pai, ali, sentados em um sofá velho de uma casa envelhecida, onde nem a janela pode ser aberta para não deixar entrar o Sol. E ainda tem um buraco de esgoto aberto bem no portão, onde a bolinha de Baleia cai toda hora.
Como simbologia e reflexão, é um belo filme. Mas, na inércia de seus personagens acaba se tornando cansativo em excesso, se perdendo no meio do caminho. Talvez fosse melhor em uma versão mais curta e objetiva. Mas, também, objetivo é o que ele quer demonstrar que não temos há muito tempo.
Avanti popolo (Avanti popolo, 2012 / Brasil)
Direção: Michael Wahrmann
Roteiro: Michael Wahrmann
Com: André Gatti, Carlos Reichenbach, Eduardo Valente
Duração: 72 min.
O filme começa de maneira bastante instigante. Sob o ponto de vista do motorista de um carro, vamos andando por ruas enquanto ouvimos um especial de rádio sobre músicas da América Latina. Os detalhes do som interdiegético são muito bons, quando o carro desliga e o som some, ou quando falha por passar por uma rua esburacada.
Viajamos com ele até encontrarmos um dos protagonistas do filme no meio da rua. André é um homem quarentão que volta à casa do pai após um divórcio mal resolvido. O pai vive ali em uma casa parada no tempo, cheia de problemas internos e externos, junto a uma cadelinha de nome Baleia. Há uma certa inércia em ambos que nos angustia, e provavelmente angustia Baleia também, sempre querendo provocá-los e sair dali, inquieta.
O nome Baleia não deixa de nos remeter a Vidas Secas, e talvez, seja ela também aqui o único personagem "digno" de personalidade. Pai e filho se escoram no tempo esperando algo que não vai voltar. Principalmente o pai, que se deixou largar em uma vida apática à espera do filho que sumiu durante a Ditadura Militar. André, o filho que resta, não lhe parece tão interessante.
Mais instigado que o pai, ele começa a mexer em coisas antigas e encontra filmes antigos em Super-8 gravados pelo irmão. As cenas misturam momentos em família como aniversários, com momentos do país que vivia a Ditadura. As imagens vão sendo projetadas em paralelo a rotina de pai e filho, nos dando um formato diferente para o filme, com diversas estruturas documentais. Inclusive na postura de André que está sempre conversando com alguém invisível que pode ser até nós, a plateia, quebrando a quarta parede.
Em meio a essa estrutura quase anárquica temos críticas ao movimento socialista e também ao próprio cinema. É como se Michael Wahrmann quisesse nos mostrar uma paradeira generalizada sem rumo, sem ideologias. A ironia da cena em que um "cineasta" explica a André o Movimento Dogma 2002 é um exemplo disso. Um movimento em que é proibido filmar. Para fazer novos filmes só remontando e dublando. "Pra que você faz isso?", questiona André.
Talvez o cinema esteja assim, apenas se remontando e dublando, sem novos ares, tal qual a esquerda repete discursos antigos esperando um mundo novo que já passou. Nisto Avanti Popolo é instigante e até necessário enquanto reflexão. Reflexão de se não estamos igual ao pai, ali, sentados em um sofá velho de uma casa envelhecida, onde nem a janela pode ser aberta para não deixar entrar o Sol. E ainda tem um buraco de esgoto aberto bem no portão, onde a bolinha de Baleia cai toda hora.
Como simbologia e reflexão, é um belo filme. Mas, na inércia de seus personagens acaba se tornando cansativo em excesso, se perdendo no meio do caminho. Talvez fosse melhor em uma versão mais curta e objetiva. Mas, também, objetivo é o que ele quer demonstrar que não temos há muito tempo.
Avanti popolo (Avanti popolo, 2012 / Brasil)
Direção: Michael Wahrmann
Roteiro: Michael Wahrmann
Com: André Gatti, Carlos Reichenbach, Eduardo Valente
Duração: 72 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Avanti Popolo
2014-07-05T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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