Grandes Cenas: O Planeta dos Macacos
Essa semana estreou o segundo filme do reboot dessa saga, então, resolvi falar aqui daquela que ainda é a cena mais impactante de toda a história. O texto contém spoilers, se é que ainda existe alguém que não saiba afinal qual é O Planeta dos Macacos. Mas, nunca é demais avisar.
Na verdade, tecnicamente não há muito mistério. Para entender o impacto causado na época é preciso olhar com os olhos de surpresa para o enigma de que planeta era aquele em que os astronautas caíram. Mais do que isso, é compreender o momento de tensão em que vivíamos, em plena Guerra Fria. E as discussões filosóficas em relação ao futuro da humanidade.
Todo o filme se desenrola com a expectativa de George Taylor, personagem de Charlton Heston, se livrar daquela estranha sociedade controlada por macacos e conseguir alguma forma de retornar à Terra. Aos poucos, vamos descobrindo que houve ali uma civilização humana desenvolvida, graças aos objetos na caverna. Mas, nada indica que seja o mesmo planeta em que vivemos.
Taylor, vai então, em seu cavalo pela praia, junto com Nova na garupa. A gente não tem ideia do que ele fará, nem como conseguirá sair daquele planeta. Mas, há uma esperança, ainda que mínima de um final feliz para o personagem. O vemos cavalgando em um plongée que o torna ainda menor e vulnerável, preparando o terreno para a descoberta. Percebam que além de pequeno, visto de cima, os personagens ainda estão desfocados.
A câmera faz um movimento panorâmico, destacando um estranho objeto imenso que surge à esquerda do vídeo. A trilha fica mais tensa, fazendo pausas dramáticas. O espectador ainda não entende o que pode ser aquilo. Um zoom no cavalo. Ainda não conseguimos ver a expressão de Taylor completamente, mas dá para sentir que ele está assustado.
Vemos o cavalo passando por entre as frestas do objeto, como se ele o engolisse, ainda que não se toquem. Uma metáfora interessante para o próprio sentimento de Taylor diante daquela constatação. Corta para uma visão da praia novamente e, aos poucos, outra parte do objeto se aproxima, essa mais identificável. Uma espécie de coroa, talvez, pontas agudas. Taylor para e salta do cavalo, apenas o som do mar é ouvido, o zoom in e a frase: Oh, meu Deus.
Corta para um plano próximo de Taylor olhando atônito. Reparem que em nenhum momento a câmera está em sua altura exata, sempre pegando-o de cima, mesmo em plano próximo. Já quando corta para Nova, a posição é mais reta. Afinal, ele está diminuído com a revelação, ela não tem a menor ideia do que signifique.
Ele, então, se ajoelha e continua a bradar: "eles conseguiram, os idiotas destruíram tudo" e outros xingamentos, batendo com o punho cerrado na areia. Nova, então, olha para cima, contemplando o objeto e só então, cortamos para um plano geral da cena, com eles à beira mar, diante da Estátua da Liberdade enterrada na areia. Ficamos ali por alguns segundos até o fade out para os créditos.
Eu fico imaginando o impacto que essa cena causou na época. Não pude tê-lo, pois mesmo antes de ver o filme pela primeira vez já ouvia minha mãe contando sobre a cena e o quanto foi um assombro descobrir que ele estava na Terra. Mais do que isso, em Nova York, símbolo de desenvolvimento na época, centro econômico mundial. E diante da estátua que simboliza um sentimento maior da humanidade, a liberdade. Que, como dizia Cecília Meireles, é uma palavra " que o sonho humano alimenta, não há ninguém que a explique e ninguém que não entenda".
Diante dessa constatação não apenas a esperança de Taylor de fugir do planeta se esvaiu de uma vez. O sonho de ser livre, de encontrar suas raízes, de retornar à civilização. O contraste do homem que conseguiu conquistar o espaço com os escravos de macacos traz uma ironia tamanha que faz de O Planeta dos Macacos muito mais que um filme. É uma reflexão sobre a humanidade, um calo no orgulho humano. E essa cena é o símbolo maior de tudo isso. Não por acaso, é uma das grandes cenas do cinema.
Na verdade, tecnicamente não há muito mistério. Para entender o impacto causado na época é preciso olhar com os olhos de surpresa para o enigma de que planeta era aquele em que os astronautas caíram. Mais do que isso, é compreender o momento de tensão em que vivíamos, em plena Guerra Fria. E as discussões filosóficas em relação ao futuro da humanidade.
Todo o filme se desenrola com a expectativa de George Taylor, personagem de Charlton Heston, se livrar daquela estranha sociedade controlada por macacos e conseguir alguma forma de retornar à Terra. Aos poucos, vamos descobrindo que houve ali uma civilização humana desenvolvida, graças aos objetos na caverna. Mas, nada indica que seja o mesmo planeta em que vivemos.
Taylor, vai então, em seu cavalo pela praia, junto com Nova na garupa. A gente não tem ideia do que ele fará, nem como conseguirá sair daquele planeta. Mas, há uma esperança, ainda que mínima de um final feliz para o personagem. O vemos cavalgando em um plongée que o torna ainda menor e vulnerável, preparando o terreno para a descoberta. Percebam que além de pequeno, visto de cima, os personagens ainda estão desfocados.
A câmera faz um movimento panorâmico, destacando um estranho objeto imenso que surge à esquerda do vídeo. A trilha fica mais tensa, fazendo pausas dramáticas. O espectador ainda não entende o que pode ser aquilo. Um zoom no cavalo. Ainda não conseguimos ver a expressão de Taylor completamente, mas dá para sentir que ele está assustado.
Vemos o cavalo passando por entre as frestas do objeto, como se ele o engolisse, ainda que não se toquem. Uma metáfora interessante para o próprio sentimento de Taylor diante daquela constatação. Corta para uma visão da praia novamente e, aos poucos, outra parte do objeto se aproxima, essa mais identificável. Uma espécie de coroa, talvez, pontas agudas. Taylor para e salta do cavalo, apenas o som do mar é ouvido, o zoom in e a frase: Oh, meu Deus.
Corta para um plano próximo de Taylor olhando atônito. Reparem que em nenhum momento a câmera está em sua altura exata, sempre pegando-o de cima, mesmo em plano próximo. Já quando corta para Nova, a posição é mais reta. Afinal, ele está diminuído com a revelação, ela não tem a menor ideia do que signifique.
Ele, então, se ajoelha e continua a bradar: "eles conseguiram, os idiotas destruíram tudo" e outros xingamentos, batendo com o punho cerrado na areia. Nova, então, olha para cima, contemplando o objeto e só então, cortamos para um plano geral da cena, com eles à beira mar, diante da Estátua da Liberdade enterrada na areia. Ficamos ali por alguns segundos até o fade out para os créditos.
Eu fico imaginando o impacto que essa cena causou na época. Não pude tê-lo, pois mesmo antes de ver o filme pela primeira vez já ouvia minha mãe contando sobre a cena e o quanto foi um assombro descobrir que ele estava na Terra. Mais do que isso, em Nova York, símbolo de desenvolvimento na época, centro econômico mundial. E diante da estátua que simboliza um sentimento maior da humanidade, a liberdade. Que, como dizia Cecília Meireles, é uma palavra " que o sonho humano alimenta, não há ninguém que a explique e ninguém que não entenda".
Diante dessa constatação não apenas a esperança de Taylor de fugir do planeta se esvaiu de uma vez. O sonho de ser livre, de encontrar suas raízes, de retornar à civilização. O contraste do homem que conseguiu conquistar o espaço com os escravos de macacos traz uma ironia tamanha que faz de O Planeta dos Macacos muito mais que um filme. É uma reflexão sobre a humanidade, um calo no orgulho humano. E essa cena é o símbolo maior de tudo isso. Não por acaso, é uma das grandes cenas do cinema.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: O Planeta dos Macacos
2014-07-28T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Charlton Heston|classicos|grandes cenas|
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