
Na verdade, tecnicamente não há muito mistério. Para entender o impacto causado na época é preciso olhar com os olhos de surpresa para o enigma de que planeta era aquele em que os astronautas caíram. Mais do que isso, é compreender o momento de tensão em que vivíamos, em plena Guerra Fria. E as discussões filosóficas em relação ao futuro da humanidade.
Todo o filme se desenrola com a expectativa de George Taylor, personagem de Charlton Heston, se livrar daquela estranha sociedade controlada por macacos e conseguir alguma forma de retornar à Terra. Aos poucos, vamos descobrindo que houve ali uma civilização humana desenvolvida, graças aos objetos na caverna. Mas, nada indica que seja o mesmo planeta em que vivemos.

A câmera faz um movimento panorâmico, destacando um estranho objeto imenso que surge à esquerda do vídeo. A trilha fica mais tensa, fazendo pausas dramáticas. O espectador ainda não entende o que pode ser aquilo. Um zoom no cavalo. Ainda não conseguimos ver a expressão de Taylor completamente, mas dá para sentir que ele está assustado.

Corta para um plano próximo de Taylor olhando atônito. Reparem que em nenhum momento a câmera está em sua altura exata, sempre pegando-o de cima, mesmo em plano próximo. Já quando corta para Nova, a posição é mais reta. Afinal, ele está diminuído com a revelação, ela não tem a menor ideia do que signifique.

Eu fico imaginando o impacto que essa cena causou na época. Não pude tê-lo, pois mesmo antes de ver o filme pela primeira vez já ouvia minha mãe contando sobre a cena e o quanto foi um assombro descobrir que ele estava na Terra. Mais do que isso, em Nova York, símbolo de desenvolvimento na época, centro econômico mundial. E diante da estátua que simboliza um sentimento maior da humanidade, a liberdade. Que, como dizia Cecília Meireles, é uma palavra " que o sonho humano alimenta, não há ninguém que a explique e ninguém que não entenda".
Diante dessa constatação não apenas a esperança de Taylor de fugir do planeta se esvaiu de uma vez. O sonho de ser livre, de encontrar suas raízes, de retornar à civilização. O contraste do homem que conseguiu conquistar o espaço com os escravos de macacos traz uma ironia tamanha que faz de O Planeta dos Macacos muito mais que um filme. É uma reflexão sobre a humanidade, um calo no orgulho humano. E essa cena é o símbolo maior de tudo isso. Não por acaso, é uma das grandes cenas do cinema.