O Céu é de Verdade
Observando o desempenho de O Céu é de Verdade no site Rotten Tomatoes é possível compará-lo aos recentes filmes espíritas brasileiros. Condenado pela crítica especializada, ovacionado pelo público. A diferença, é que no caso norte-americano, o roteiro não segue o estilo doutrinário, mas o de auto-ajuda. Mas, não chega a ser um filme ruim.
Baseado em uma história real, relatada em um livro de mesmo nome que se tornou best-seller mundial, O Céu é de Verdade narra a história do garotinho Colton Burpo, filho de um pastor evangélico, que após uma cirurgia de urgência diz ter visitado o céu e conhecido Jesus Cristo. Os pais e frequentadores da igreja duvidam dos relatos, mas o pastor começa a questionar sua fé e a buscar entender melhor tudo aquilo, sendo também questionado por sua comunidade.
A história nos envolve por esse ponto crucial. Primeiro somos apresentados a essa família especial. O pastor Todd Burpo, interpretado por Greg Kinnear, é, acima de tudo, um homem bom. Ajuda a todos, divide-se em diversos trabalhos, compreende as dificuldades alheias e tem o dom da oratória. Sua mulher também se preocupa com a comunidade, ajudando com o que pode. E os dois filhos são fofos. Principalmente o pequeno Colton que está sempre com um olhar inocente observando a tudo. E claro, pedindo para cantar "We Will Rock You".
O roteiro nos faz nos importar com aquela família, e quando o drama acontece, já estamos junto a eles, torcendo juntos. A cena em que todos oram pela vida do garoto é construída de uma maneira emocionante, ainda que a trilha sonora exagere na dose. E quando o dilema se instala, mesmo os que não creem podem se sentir confusos. Afinal, o garotinho diz tudo com uma segurança tão forte. E afinal, eles não são religiosos? Qual o absurdo de tudo aquilo?
Se crêem em Deus, em um céu, em um Jesus Cristo, por que o garoto não poderia ter estado por lá? Por que é tão difícil confirmar a fé que se diz profetizar? O céu só viria depois do juízo final? Jesus não apareceria à criancinha sem mais nem menos? Mas não existe vida após a morte? O seu vislumbre não poderia ser uma simbologia do que nos aguarda ali? Não deixa de ser interessante observar todo esse dilema que parece tolo. Porque assumir uma visão religiosa nos dias atuais, parece mesmo ser alvo de chacota. Mas, dentro de uma comunidade cristã, isso soa bastante irônico.
Dito isso, temos os dois pontos fortes do filme. O roteiro que pega uma história real e construída para ser mais um livro de auto-ajuda, em algo palpável que gera empatia, envolvimento e reflexões. O outro ponto está no elenco. Greg Kinnear convence como o pastor, não apenas na sua entrega à igreja e à comunidade, como no sofrimento da possível perda do filho e posterior dúvida. Mas, o destaque é mesmo o pequeno Connor Corum que nos apresenta um Colton impressionante. Primeiro, como um garotinho ingênuo e fofo. Após a experiência, é impressionante a sua segurança e naturalidade em falar sobre Jesus, anjos e pessoas que já se foram.
Por outro lado, a direção de Randall Wallace é quase preguiçosa, seguindo um padrão pré-estabelecido. Assim como a fotografia e direção de arte, que apesar de corretas, caem no lugar comum ao retratar o céu e os anjos. Chega a ser um contraste estranho ao vermos Colton dizer que é igual aqui, só que mais colorido e belo, e só vermos nuvens. Ou quando ele olha as imagens dos anjos e diz que "eles não são assim" e o que vemos em suas "visões" são seres com asas e muita luz.
De qualquer maneira, O Céu é de Verdade tem o seu público bastante focado. Ele quer falar com os religiosos, com aqueles que já se convenceram ao ler o livro, ou já acreditavam na veracidade deste céu ou destas possibilidades. Por isso, o público pode se envolver sem tantos questionamentos. Em termos de cinema, há diversas questões que o comprometem, mas ele cumpre seu principal objetivo. Então, não podemos dizer que seja um filme ruim.
O Céu é de Verdade (Heaven Is for Real, 2014 / EUA)
Direção: Randall Wallace
Roteiro: Chris Parker e Randall Wallace
Com: Greg Kinnear, Kelly Reilly, Thomas Haden Church
Duração: 99 min.
Baseado em uma história real, relatada em um livro de mesmo nome que se tornou best-seller mundial, O Céu é de Verdade narra a história do garotinho Colton Burpo, filho de um pastor evangélico, que após uma cirurgia de urgência diz ter visitado o céu e conhecido Jesus Cristo. Os pais e frequentadores da igreja duvidam dos relatos, mas o pastor começa a questionar sua fé e a buscar entender melhor tudo aquilo, sendo também questionado por sua comunidade.
A história nos envolve por esse ponto crucial. Primeiro somos apresentados a essa família especial. O pastor Todd Burpo, interpretado por Greg Kinnear, é, acima de tudo, um homem bom. Ajuda a todos, divide-se em diversos trabalhos, compreende as dificuldades alheias e tem o dom da oratória. Sua mulher também se preocupa com a comunidade, ajudando com o que pode. E os dois filhos são fofos. Principalmente o pequeno Colton que está sempre com um olhar inocente observando a tudo. E claro, pedindo para cantar "We Will Rock You".
O roteiro nos faz nos importar com aquela família, e quando o drama acontece, já estamos junto a eles, torcendo juntos. A cena em que todos oram pela vida do garoto é construída de uma maneira emocionante, ainda que a trilha sonora exagere na dose. E quando o dilema se instala, mesmo os que não creem podem se sentir confusos. Afinal, o garotinho diz tudo com uma segurança tão forte. E afinal, eles não são religiosos? Qual o absurdo de tudo aquilo?
Se crêem em Deus, em um céu, em um Jesus Cristo, por que o garoto não poderia ter estado por lá? Por que é tão difícil confirmar a fé que se diz profetizar? O céu só viria depois do juízo final? Jesus não apareceria à criancinha sem mais nem menos? Mas não existe vida após a morte? O seu vislumbre não poderia ser uma simbologia do que nos aguarda ali? Não deixa de ser interessante observar todo esse dilema que parece tolo. Porque assumir uma visão religiosa nos dias atuais, parece mesmo ser alvo de chacota. Mas, dentro de uma comunidade cristã, isso soa bastante irônico.
Dito isso, temos os dois pontos fortes do filme. O roteiro que pega uma história real e construída para ser mais um livro de auto-ajuda, em algo palpável que gera empatia, envolvimento e reflexões. O outro ponto está no elenco. Greg Kinnear convence como o pastor, não apenas na sua entrega à igreja e à comunidade, como no sofrimento da possível perda do filho e posterior dúvida. Mas, o destaque é mesmo o pequeno Connor Corum que nos apresenta um Colton impressionante. Primeiro, como um garotinho ingênuo e fofo. Após a experiência, é impressionante a sua segurança e naturalidade em falar sobre Jesus, anjos e pessoas que já se foram.
Por outro lado, a direção de Randall Wallace é quase preguiçosa, seguindo um padrão pré-estabelecido. Assim como a fotografia e direção de arte, que apesar de corretas, caem no lugar comum ao retratar o céu e os anjos. Chega a ser um contraste estranho ao vermos Colton dizer que é igual aqui, só que mais colorido e belo, e só vermos nuvens. Ou quando ele olha as imagens dos anjos e diz que "eles não são assim" e o que vemos em suas "visões" são seres com asas e muita luz.
De qualquer maneira, O Céu é de Verdade tem o seu público bastante focado. Ele quer falar com os religiosos, com aqueles que já se convenceram ao ler o livro, ou já acreditavam na veracidade deste céu ou destas possibilidades. Por isso, o público pode se envolver sem tantos questionamentos. Em termos de cinema, há diversas questões que o comprometem, mas ele cumpre seu principal objetivo. Então, não podemos dizer que seja um filme ruim.
O Céu é de Verdade (Heaven Is for Real, 2014 / EUA)
Direção: Randall Wallace
Roteiro: Chris Parker e Randall Wallace
Com: Greg Kinnear, Kelly Reilly, Thomas Haden Church
Duração: 99 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Céu é de Verdade
2014-07-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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