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O Homem que Matou o Facínora
O Homem que Matou o Facínora
“This is the West, sir, when the legend becomes fact, print the legend”.
O Homem que Matou o Facínora é um dos westerns mais famosos. Não apenas por suas qualidades técnicas, mas por ser um filme sobre o Velho Oeste. Quase como uma tese analisando sua construção, valores, redefinição de sociedade, honra, justiça e leis.
A trama se passa quase toda em flashback, quando o velho e famoso senador Ransom Stoddard retorna a uma cidadezinha do oeste ao lado de sua esposa Hallie para o enterro de um homem chamado Tom Doniphon. Esse ilustre desconhecido para a população local atual, inclusive a imprensa é, na verdade, um cowboy de "antigamente", um homem másculo, corajoso e correto que foi decisivo no passado de Ransom, inclusive em seu posterior sucesso político.
A forma como o roteiro inicia já é um acerto. O casal chega à cidade e pouca informação é passada ao espectador. Tudo é construído em detalhes, no não dito, nas pequenas pistas que vamos juntando para compreender só durante a projeção. Não há didatismo, não há exageros, exceto talvez pela maquiagem que tenta envelhecer os atores, principalmente a de Woody Strode. Mas, um detalhe que não chega a comprometer o bom filme. O clima de suspense vai nos deixando curiosos em relação à trama, àquele casal, ao morto. Quando Ransom Stoddard senta-se em frente aos jornalistas para contar sua história, já estamos completamente envolvidos com ele.
É quando retornamos no tempo e vamos sendo apresentados ao personagens daquela história. Ransom Stoddard, interpretado por James Stewart, era um forasteiro, um advogado que queria implementar a lei e a ordem naquele território onde a lei ainda era o revólver. Logo no início, sofre com o ataque do bando de Liberty Valance (Lee Marvin). A cidade é teoricamente guardada pelo xerife covarde (Andy Devine), mas quem de fato é líder ali é Tom Doniphon, o personagem de John Wayne. O único que tem coragem de enfrentar Liberty Valance e ser temido por ele.
É interessante a forma como o roteiro se utiliza dos ícones do Velho Oeste para construir personagens únicos. Um xerife covarde tal qual Link Appleyard é especial. Assim como um cowboy pacato como Tom Doniphon é interessante. Ainda que corajoso e justo, ele está sempre se isentando de qualquer responsabilidade. Só enfrenta Valance se algo lhe atinge, recusa a indicação de representante na eleição, não quer se meter nos problemas da vila. O grande herói acaba sendo mesmo o frágil advogado, que, mesmo não sabendo atirar, é ousado, enfrenta o perigo e até monta uma escola para ensinar política aos moradores locais.
Uma visão romântica da educação e da política, é verdade, mas não deixa de ser interessante a forma como a história vai nos dando esses elementos. Inclusive em uma cena em que está escrito no quadro que a educação é a base de tudo, mas a notícia de um complô dos fazendeiros faz Ransom apagar a frase irritado, pensando em conseguir uma arma. Da mesma forma que a imprensa também é vista como algo que tem potencial para discutir e abrir mentes, mas é podada pela força bruta ao analisarmos o personagem de Edmond O'Brien.
O Homem que Matou o Facínora, além do texto, possui uma mise-en-scène primorosa, construída em poucos cenários que são cuidadosamente adaptados entre passado e presente, como a casa de Tom Doniphon e os detalhes dos acontecimentos, ou a estação de trem. A câmera de John Ford é ágil em nos mostrar aquele mundo fascinante, mas ao mesmo tempo sabe esperar e contemplar as pequenas expressões dos atores.
Todo o clima construído ajuda a contar a história e a analisar o Velho Oeste como uma tese irônica das nossas próprias crenças e valores enquanto sociedade. E nisso, talvez esteja seu maior trunfo, nos fazer refletir sobre o que acreditamos e como nossos princípios de democracias estão fundamentados. E a frase final demonstra bem a ironia de tudo isso.
O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962 / EUA)
Direção: John Ford
Roteiro: James Warner Bellah, Willis Goldbeck
Com: James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin, Woody Strode
Duração: 124 min.
O Homem que Matou o Facínora é um dos westerns mais famosos. Não apenas por suas qualidades técnicas, mas por ser um filme sobre o Velho Oeste. Quase como uma tese analisando sua construção, valores, redefinição de sociedade, honra, justiça e leis.
A trama se passa quase toda em flashback, quando o velho e famoso senador Ransom Stoddard retorna a uma cidadezinha do oeste ao lado de sua esposa Hallie para o enterro de um homem chamado Tom Doniphon. Esse ilustre desconhecido para a população local atual, inclusive a imprensa é, na verdade, um cowboy de "antigamente", um homem másculo, corajoso e correto que foi decisivo no passado de Ransom, inclusive em seu posterior sucesso político.
A forma como o roteiro inicia já é um acerto. O casal chega à cidade e pouca informação é passada ao espectador. Tudo é construído em detalhes, no não dito, nas pequenas pistas que vamos juntando para compreender só durante a projeção. Não há didatismo, não há exageros, exceto talvez pela maquiagem que tenta envelhecer os atores, principalmente a de Woody Strode. Mas, um detalhe que não chega a comprometer o bom filme. O clima de suspense vai nos deixando curiosos em relação à trama, àquele casal, ao morto. Quando Ransom Stoddard senta-se em frente aos jornalistas para contar sua história, já estamos completamente envolvidos com ele.
É quando retornamos no tempo e vamos sendo apresentados ao personagens daquela história. Ransom Stoddard, interpretado por James Stewart, era um forasteiro, um advogado que queria implementar a lei e a ordem naquele território onde a lei ainda era o revólver. Logo no início, sofre com o ataque do bando de Liberty Valance (Lee Marvin). A cidade é teoricamente guardada pelo xerife covarde (Andy Devine), mas quem de fato é líder ali é Tom Doniphon, o personagem de John Wayne. O único que tem coragem de enfrentar Liberty Valance e ser temido por ele.
É interessante a forma como o roteiro se utiliza dos ícones do Velho Oeste para construir personagens únicos. Um xerife covarde tal qual Link Appleyard é especial. Assim como um cowboy pacato como Tom Doniphon é interessante. Ainda que corajoso e justo, ele está sempre se isentando de qualquer responsabilidade. Só enfrenta Valance se algo lhe atinge, recusa a indicação de representante na eleição, não quer se meter nos problemas da vila. O grande herói acaba sendo mesmo o frágil advogado, que, mesmo não sabendo atirar, é ousado, enfrenta o perigo e até monta uma escola para ensinar política aos moradores locais.
Uma visão romântica da educação e da política, é verdade, mas não deixa de ser interessante a forma como a história vai nos dando esses elementos. Inclusive em uma cena em que está escrito no quadro que a educação é a base de tudo, mas a notícia de um complô dos fazendeiros faz Ransom apagar a frase irritado, pensando em conseguir uma arma. Da mesma forma que a imprensa também é vista como algo que tem potencial para discutir e abrir mentes, mas é podada pela força bruta ao analisarmos o personagem de Edmond O'Brien.
O Homem que Matou o Facínora, além do texto, possui uma mise-en-scène primorosa, construída em poucos cenários que são cuidadosamente adaptados entre passado e presente, como a casa de Tom Doniphon e os detalhes dos acontecimentos, ou a estação de trem. A câmera de John Ford é ágil em nos mostrar aquele mundo fascinante, mas ao mesmo tempo sabe esperar e contemplar as pequenas expressões dos atores.
Todo o clima construído ajuda a contar a história e a analisar o Velho Oeste como uma tese irônica das nossas próprias crenças e valores enquanto sociedade. E nisso, talvez esteja seu maior trunfo, nos fazer refletir sobre o que acreditamos e como nossos princípios de democracias estão fundamentados. E a frase final demonstra bem a ironia de tudo isso.
O Homem que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962 / EUA)
Direção: John Ford
Roteiro: James Warner Bellah, Willis Goldbeck
Com: James Stewart, John Wayne, Vera Miles, Lee Marvin, Woody Strode
Duração: 124 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Homem que Matou o Facínora
2014-07-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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