O filme começa de onde terminou o primeiro, mas o roteiro vai sendo construído em dois tempos em paralelo. Ao mesmo tempo em que acompanhamos a trajetória de Michael como Don Corleone, vamos conhecer o passado de Vito e como ele chegou a ser o homem poderoso que conhecemos. Mais uma vez, a família é parte fundamental de tudo isso.
Vito é o sobrevivente de sua família, todos foram mortos por um mafioso na Sicília. Não por acaso largou seu nome de batismo e adotou o nome da sua cidade natal. E não por acaso também passou a dar tanta importância à formação familiar. Sozinho no mundo, ele precisava construir novamente suas raízes. Em contrapartida, seu filho tendo os mesmos valores familiares, acaba assumindo o papel que não queria e isso, ironicamente, o afasta de seus familiares.
O Poderoso Chefão 2 nos mostra um Michael se dilacerando. Sua irmã o odeia pela morte do marido, seu irmão Fredo o trai, sua esposa tem medo e seus filhos são muito pequenos para opiniões. Michael vai se tornando cada vez mais só à medida que ganha poder, ao contrário de seu pai, que era só e vai se tornando um homem cercado de pessoas que o ama, o temem ou o admiram.
Ainda assim, tem tantos aliados quanto inimigos, vide as tensões em Cuba ou o julgamento da Máfia, quando consegue sair mais limpo do que antes. A busca por tornar o nome Corleone algo digno e legalizado vai fazendo Michael perder um pouco da força entre seus pares, mas o leva a novos caminhos que se desenrolarão no terceiro filme. Aqui, ainda é um momento de passagem, uma transição confusa onde ele comete seus piores pecados.
Sua ânsia pelo reconhecimento público vem de suas próprias convicções, mas também do desejo de conquistar a América. A construção da montagem paralela com a história do seu pai nos dá bem essa dimensão. Quando o senador trata-o mal dizendo que eles nunca serão cidadãos americanos e logo depois vemos o ainda menino Vito Corleone em sua quarentena olhando a imagem da Estátua da Liberdade pelas grades de uma janela.
Esta é uma diferença do segundo filme para os outros dois. Nele, não há uma sequência especial onde a montagem nos leva a contar uma única história em cenas paralelas como a morte dos chefes das famílias no primeiro com o batizado, e a sequência de mortes do terceiro com a ópera. Aqui, todo o filme parece seguir essa lógica ao utilizar paralelos entre as trajetórias de pai e filho, que parecem seguir em direções contrárias.
Mas, mais uma vez, o fechamento de ciclos é cuidadosamente construído. Com uma cena final novamente impactante, nos trazendo um momento decisivo no passado de Michael que o leva ao mesmo destino da nova decisão tomada: a solidão. No passado, ele escolheu seus planos em detrimento da família e ficou só. Agora, ele escolheu a família em detrimento de seus sonhos, mas também se viu só. É melancólico constatar isso, pois aprendemos a amá-lo, mesmo com todos os erros.
O Poderoso Chefão 2 não é tão redondo quanto o primeiro filme, mas mantem todas as suas qualidades técnicas, desde o roteiro, passando por elenco, direção, fotografia, direção de arte, montagem e trilha sonora. Tudo feito para permanecer nos dando aulas de cinema.
O Poderoso Chefão 2 (The Godfather: Part II, 1974 / EUA)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Francis Ford Coppola e Mario Puzo
Com: Al Pacino, Robert De Niro, Robert Duvall, Diane Keaton, John Cazale
Duração: 200 min.