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Amantes Eternos
Amantes Eternos
Amantes eternos é um filme de vampiros. Mas, não se resume a isso. Na verdade, Jim Jarmusch se utiliza da metáfora do ser noturno que vive de sangue para discutir o mundo atual e a falta de perspectiva da humanidade.
Adam e Eve são um casal de vampiros que vivem em cidades separadas, mas, continuam se amando. Os nomes do primeiro casal da humanidade já é uma ironia sintomática. Ainda que uma das lendas nos diga que os vampiros são filhos, na verdade, de Lilith, a verdadeira primeira mulher.
Fato é que Adam vivem em Detroit e Eve em Tangier. Mas, é interessante que, mesmo distantes, eles parecem tão próximos pela afinidade, amor e também um certo cansaço dos tempos modernos. A cena inicial em que cada um está prostrado, ela na cama, ele no sofá, nos parece construída de forma tão harmônica em enquadramento, direção de arte, movimentos e trilha sonora que parece que estão no mesmo apartamento, ainda que em cômodos diferentes.
Esse eco na montagem também é construído em uma cena posterior com um raccord de movimento, quando os dois bebem uma dose de sangue O negativo que os leva a uma espécie de nirvana. Aliás, todo o filme é construído com uma mise en scène muito instigante e envolvente. A trilha sonora é parte fundamental disso, mas o figurino, a movimentação dos atores em cena, os cenários, a fotografia, os enquadramentos. Tudo é muito plástico, gótico, mas de muito bom gosto.
A desilusão com a humanidade é demonstrada no sentimento de cansaço de ambos, assim como no fato de se referir a eles como zumbis. Mas, é interessante que ainda que eles os desprezem, os respeitam de alguma maneira. Tanto que não mais mordem vítimas por aí. "Coisa da idade média", diria Eve. Há uma espécie de contrabando de bancos de sangue que os mantem vivos. E sempre do tipo O negativo, logo um dos mais raros por aí, o doador universal.
Porém, é importante ressaltar que os vampiros não mordem os "zumbis" apenas por pena ou respeito. Mas, por medo de doenças. "Eles conseguiram contaminar o próprio sangue". A busca pelo sangue puro, bom, faz dos bancos de sangue o melhor caminho. Através de acordos monetários com médicos, reforçando a questão da corrupção e facilidades do dinheiro. Eve e Adam não estão sós, no entanto, tem o mestre deles Marlowe e a irmã caçula de Eva, Ava, que acaba trazendo problemas ao casal.
Mas, chama a atenção que todos os atores parecem entregues a uma espécie de dança maior que nos faz criar empatia por cada personagem, mesmo pela irresponsável e irritante Ava, vivida por Mia Wasikowska. Tilda Swinton e Tom Hiddleston criam uma química interessante desde a primeira cena onde aparecem separados. A conversa via internet também é bem construída e quando ficam, enfim, juntos, parecem mesmo feitos um para o outro. Assim como John Hurt convence como o velho Marlowe.
O jogo construído em relação ao talento musical de Adam, que já "deu" sua criação a diversos nomes da história, ou de Marlowe com a ciência, também disponibilizando suas pesquisas para outros assinarem, traz ainda uma crítica e ironia em relação a nossas referências. E até que ponto idolatramos símbolos.
Todo o filme está repleto disso, e é prazeroso assistir a tudo. Só há um senão em sua conclusão, que também traz um viés irônico, mas que acaba não sendo um fecho digno de tudo que vimos até então. De qualquer maneira, um filme instigante que merece nossa atenção.
Amantes Eternos (Only lover left alive, 2014 / Alemanha/ Reino Unido/ França/Chipre)
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Com: Tilda Swinton, Tom Hiddleston, Mia Wasikowska, Anton Yelchin, John Hurt
Duração: 123 min.
Adam e Eve são um casal de vampiros que vivem em cidades separadas, mas, continuam se amando. Os nomes do primeiro casal da humanidade já é uma ironia sintomática. Ainda que uma das lendas nos diga que os vampiros são filhos, na verdade, de Lilith, a verdadeira primeira mulher.
Fato é que Adam vivem em Detroit e Eve em Tangier. Mas, é interessante que, mesmo distantes, eles parecem tão próximos pela afinidade, amor e também um certo cansaço dos tempos modernos. A cena inicial em que cada um está prostrado, ela na cama, ele no sofá, nos parece construída de forma tão harmônica em enquadramento, direção de arte, movimentos e trilha sonora que parece que estão no mesmo apartamento, ainda que em cômodos diferentes.
Esse eco na montagem também é construído em uma cena posterior com um raccord de movimento, quando os dois bebem uma dose de sangue O negativo que os leva a uma espécie de nirvana. Aliás, todo o filme é construído com uma mise en scène muito instigante e envolvente. A trilha sonora é parte fundamental disso, mas o figurino, a movimentação dos atores em cena, os cenários, a fotografia, os enquadramentos. Tudo é muito plástico, gótico, mas de muito bom gosto.
A desilusão com a humanidade é demonstrada no sentimento de cansaço de ambos, assim como no fato de se referir a eles como zumbis. Mas, é interessante que ainda que eles os desprezem, os respeitam de alguma maneira. Tanto que não mais mordem vítimas por aí. "Coisa da idade média", diria Eve. Há uma espécie de contrabando de bancos de sangue que os mantem vivos. E sempre do tipo O negativo, logo um dos mais raros por aí, o doador universal.
Porém, é importante ressaltar que os vampiros não mordem os "zumbis" apenas por pena ou respeito. Mas, por medo de doenças. "Eles conseguiram contaminar o próprio sangue". A busca pelo sangue puro, bom, faz dos bancos de sangue o melhor caminho. Através de acordos monetários com médicos, reforçando a questão da corrupção e facilidades do dinheiro. Eve e Adam não estão sós, no entanto, tem o mestre deles Marlowe e a irmã caçula de Eva, Ava, que acaba trazendo problemas ao casal.
Mas, chama a atenção que todos os atores parecem entregues a uma espécie de dança maior que nos faz criar empatia por cada personagem, mesmo pela irresponsável e irritante Ava, vivida por Mia Wasikowska. Tilda Swinton e Tom Hiddleston criam uma química interessante desde a primeira cena onde aparecem separados. A conversa via internet também é bem construída e quando ficam, enfim, juntos, parecem mesmo feitos um para o outro. Assim como John Hurt convence como o velho Marlowe.
O jogo construído em relação ao talento musical de Adam, que já "deu" sua criação a diversos nomes da história, ou de Marlowe com a ciência, também disponibilizando suas pesquisas para outros assinarem, traz ainda uma crítica e ironia em relação a nossas referências. E até que ponto idolatramos símbolos.
Todo o filme está repleto disso, e é prazeroso assistir a tudo. Só há um senão em sua conclusão, que também traz um viés irônico, mas que acaba não sendo um fecho digno de tudo que vimos até então. De qualquer maneira, um filme instigante que merece nossa atenção.
Amantes Eternos (Only lover left alive, 2014 / Alemanha/ Reino Unido/ França/Chipre)
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Com: Tilda Swinton, Tom Hiddleston, Mia Wasikowska, Anton Yelchin, John Hurt
Duração: 123 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Amantes Eternos
2014-08-13T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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